06 Março 2020
Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, os irmãos Tiago e João, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E se transfigurou diante deles: o seu rosto brilhou como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisso lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com Jesus.
Então Pedro tomou a palavra, e disse a Jesus: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias”. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra, e da nuvem saiu uma voz que dizia:
- “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz.”
Quando ouviram isso, os discípulos ficaram muito assustados, e caíram com o rosto por terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantem-se, e não tenham medo.”
Os discípulos ergueram os olhos, e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não contem a ninguém essa visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.
Leitura do Evangelho de Mateus 17,1-9. (Correspondente ao 2º Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Neste segundo domingo de Quaresma somos convidados a refletir sobre o evento da Transfiguração narrado no evangelho de Mateus. Apresenta-se o núcleo do seguimento de Jesus: um caminho de escuta da Palavra de Deus e obediência ao seu projeto. O relato da Transfiguração é antecedido do primeiro anúncio da Paixão e situa-se dentro do contexto das catequeses sobre o que é ser discípula e discípulo de Jesus (Mt 16). Jesus e seus seguidores estão “subindo” para Jerusalém onde Ele coroará sua fidelidade ao projeto do Pai, concretizando assim o projeto libertador do Pai em favor dos homens na entrega de sua própria Vida. Possivelmente depois de ter escutado a necessidade do “caminho da cruz” e perceber que esse é o caminho que os seguidores de Jesus devem seguir, os que estavam com ele ficaram confusos e até desanimados/as.
Hoje lemos o texto evangélico dirigido a cada um e cada uma de nós. Para isso nos colocamos como uma pessoa mais no grupo que está junto a Jesus. Assim, viemos caminhando com ele há um tempo, somos testemunhas da procura de tantas pessoas, escutamos suas palavras, percebemos suas atitudes, seu amor a cada um e cada uma. Lembramos também o dia que, como os discípulos, cada um e cada uma de nós recebeu o convite de Jesus de segui-lo. Qual foi nosso sentir? Como recebemos esse chamado? Quais são essas palavras que como os discípulos do evangelho ecoam no nosso interior, mas não conseguimos compreender? Jesus deve morrer? Mas, como isso é possível se é o Messias, o Enviado do Pai? É preciso que ele morra e seja rejeitado?
“Jesus tomou consigo Pedro, os irmãos Tiago e João, e os levou a um lugar à parte sobre uma alta montanha”. Junto com este grupo de discípulos também cada um/a de nós é levado a uma região separada. Imaginemos assim esse cenário como um espaço mais solitário, de silêncio. E aqui “Jesus se transfigurou diante deles: o seu rosto brilhou como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz”.
A narrativa situa-nos numa teofania, ou seja, uma manifestação de Deus. Neste texto aparecem os elementos que no Antigo Testamento descrevem os relatos teofânicos: o alto de um monte, uma voz do céu, aparições, vestes brilhantes, a presença de uma nuvem no encontro com o divino, o que também gera medo nos que estão presentes.
“Sobre uma alta montanha”. O monte é o lugar onde Deus se revela e geralmente em cima do monte ele sela uma aliança com seu povo. “O seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz”. O brilho do rosto como o sol lembra Moisés quando desceu do Sinai depois de encontrar Deus e levar nas mãos as tábuas da aliança: “Ele não sabia que o seu rosto estava resplandecente por ter falado com Javé” (Ex 34,29).
“Nisso lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com Jesus”. Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas e voltariam a estar presentes no dia do Senhor. Eles conversam com Jesus e podemos pensar que no imaginário judaico, a quem está dirigido especialmente o evangelho de Mateus, estabelece-se assim uma prolongação na tradição do povo judaico. A nuvem simboliza a presença de Deus que conduz o povo através do deserto. Sinala um caminho, no qual aparecem sentimentos encontrados, o povo aceita a vida nova de liberdade, mas também sofre as dificuldades do deserto e é tentado a voltar à escravidão.
Diante desta grandeza do divino, presença de Deus que se manifesta, a reação de Pedro é paralisar o tempo e ficar ali, permanecer nesse momento de luminosidade e clareza. Ele disse a Jesus: “Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias”. As tendas lembram o tempo da saída do Egito à procura da sua terra; quando o povo de Deus caminhava pelo deserto, habitava em “tendas”. Posteriormente a celebração da "festa das tendas" vai lembrar este período. É uma moradia transitória à procura de uma morada definitiva.
“Da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz”. Os discípulos ficam com medo, escutam a voz, mas não conseguem ver nenhuma pessoa. Somente a presença de Jesus que os consola e os fortalece no caminho. “Levantem-se, e não tenham medo”.
Junto com os discípulos deixemos que estas palavras ecoem na nossa vida e nas nossas comunidades. Somos chamados/as a escutar e erguer nossa morada. Como aos discípulos desanimados e assustados, Jesus nos chama a transitar pelo caminho da vida que não conduz ao fracasso, mas à vida verdadeira. Já nos tinha avisado que é um caminho difícil, mas sua presença nos fortalece. Sua luz e presença gera a esperança que nos fortalece e permite embarcar neste projeto. Jesus nos mostra que o fim não é a morte, e sim o cumprimento das promessas de Deus.
Situados assim junto com os discípulos ante esta manifestação de Deus na pessoa de Jesus, pensemos nas pessoas que hoje estão ao nosso redor. Como Jesus, somos convidados/as a irradiar a luz da vida e da esperança que recebemos de Deus.
Por isso peçamos ao Senhor que, neste tempo de Quaresma, todas as manhãs, faça nossos ouvidos ficar atentos para que possamos ouvir como discípulos/as e, como o profeta Isaías, não coloquemos resistência à sua voz (50, 4b,5).
Jesus apresenta-nos o caminho a percorrer junto dele para levar adiante o projeto do Pai e assumir sua proposta como estilo de vida. Para isso é preciso escutá-lo e tomá-lo como nosso Mestre e amigo de caminho. Deixar que suas palavras continuem nos iluminando, conduzindo e transfigurando.
Assim nossa vida irá se conformando à vida de Jesus e poderemos ser instrumentos de sua paz num mundo de tanta violência, de sua comunhão num mundo tão dilacerado pelas injustiças, sinais de vida e esperança num mundo sedento de sentido.
O corpo diante de ti,
é um círio quieto
na noite da história,
das idéias, dos projetos,
consumindo as horas
como cera.
O pensamento está imóvel
como a chama afiada,
sem a mais leve brisa
que altere seu perfil
luminoso e quieto.
O coração,
cristal laranja aceso
com a luz repousada
de tantos encontros
infinitos.
As pupilas,
redondas como a boca
de uma .tigela vazia,
se dilatam no escuro
adivinhando tua presença.
Só se ouve
o crepitar do fogo,
e o alento da vida
que chega desde ti
roçando suavemente
o ar em que caminha.
E ao ver-te
e acolher-te,
se aviva a chama,
iluminando a noite,
transparecendo
a cera, transfigurando em luz
as ausências e trevas.
E toda a pessoa se vai fazendo
luz recebida brilhando gratuita
em teu templo,
mundo escuro
de injustiças,
de fugazes estrelas
que deslumbram um segundo,
de néon inquieto,
imposto com astúcia.
Na adoração de círio alerta,
para iluminar tu nos fazes luz
desde dentro, sem necessidade
de levar nas mãos uma brasa
emprestada e pequena.
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente.
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