04 Agosto 2017
"Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, os irmãos Tiago e João, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E se transfigurou diante deles: o seu rosto brilhou como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisso lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com Jesus.
Então Pedro tomou a palavra, e disse a Jesus: "Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias". Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra, e da nuvem saiu uma voz que dizia: «Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz».
Quando ouviram isso, os discípulos ficaram muito assustados, e caíram com o rosto por terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: "Levantem-se, e não tenham medo". Os discípulos ergueram os olhos, e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus.
Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes: "Não contem a ninguém essa visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos".
Leitura do Evangelho segundo Mateus 17,1-9 (Correspondente a Festa da Transfiguração, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Hoje somos convidados a refletir à luz do evento de Transfiguração narrado no evangelho de Mateus.
Jesus "toma consigo" alguns apóstolos e os leva a participar de um momento de grande intimidade com seu Pai. Para isso é preciso um "lugar apartado". Eles sobem a uma montanha, símbolo do encontro com Deus. Jesus precisa desse momento porque sabe que nessa intimidade de amor ele recebe a força necessária para o trecho final de seu caminho, e para fortalecer a fé dos discípulos, Jesus sobe a montanha. É no silêncio que mais brilha a relação de intimidade com seu Pai, segredo de sua ousadia e fidelidade até o extremo.
Ele conhece a fraqueza de seus amigos e amigas e por isso convida-os a participar desse momento fundamental. Não vai sozinho a esse encontro, leva três deles: Pedro e os irmãos João e Tiago. Quer que também eles gozem do alento de vida e paz que vem de Deus.
Como escrevia Marcel Domergue (+1922-2015): Pedro, Tiago e João foram chamados juntos, quando ainda eram pescadores de peixes. Foram os três primeiros discípulos. Sem hesitação alguma, deixaram os seus barcos, as suas redes e o seu pai. Os três estão juntos na transfiguração e nós os encontraremos de novo juntos no Getsêmani". [...] "O que aconteceu com estes três apóstolos é típico do que acontece com todos nós. Há momentos privilegiados em que, com frequência sem qualquer aviso prévio, vemos tudo claro. É quando a luz nos inunda! Mas, um instante depois, recaímos nas trevas da incompreensão. É então que, com os olhos fechados, temos que escolher acreditar nas palavras que ouvimos e que nos designaram este Jesus como sendo o Filho de Deus. (Disponível em: Texto completo: Jesus em sua beleza e em sua dor)
O evangelista nos diz que o rosto de Jesus brilhou como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz. O que nos remete logo às palavras do profeta Isaías: "Não será mais o sol a luz do teu dia, nem será a lua que vai te iluminar à noite; o próprio Senhor será para ti luz permanente, e o teu brilho será o teu Deus" (Is 60, 19).
Os discípulos participam antecipadamente da glória de Deus, na qual Jesus penetrará e partilhará com toda a humanidade através de sua morte e ressurreição.
Poderíamos dizer que este acontecimento é como um chamado de atenção que Jesus quer fazer aos seus amigos/as. Tendo-lhes anunciado que ia a caminho de sua paixão, mostra-lhes que o fim não é a morte, e sim o cumprimento das promessas de Deus.
Esta experiência de comunhão com Deus, na qual se sentiram envoltos os discípulos, foi tão boa que Pedro, em nome dos outros, exclama: "Senhor, é bom ficarmos aqui".
Seguindo os passos destes discípulos, peçamos a Jesus que neste domingo, e ao longo desta semana, "faça resplandecer sobre nós a sua face" (Sl 66,2). Que possamos reconhecer a humanidade de Jesus como divindade de Amor.
Assim, também nós poderemos irradiar aos que nos rodeiam a luz, o calor vital que de Deus recebemos. Junto com os discípulos somos convidados/as a descer para ir ao encontro das irmãs e dos irmãos.
Mas, para saber com clareza qual é o caminho a seguir na descida, a voz de Deus se faz escutar: "Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz". Como disse o teólogo José Antonio Pagola: "Escutar Jesus é seguir seus passos"
Sim, Jesus é o caminho que o Pai nos apresenta para percorrer, ou melhor, para assumir sua proposta como estilo de vida. O jeito de fazê-lo é escutá-lo, tomá-lo como nosso Mestre e amigo de caminho e deixar que suas palavras continuem nos iluminando, conduzindo e transfigurando.
Por isso peçamos ao Senhor que, neste tempo, todas as manhãs, faça nossos ouvidos ficarem atentos para que possamos ouvir como discípulos/as e, como o profeta Isaías, não coloquemos resistência à sua voz (50, 4b,5).
Dessa maneira, nossa vida irá se conformando à vida de Jesus e poderemos ser instrumentos de sua paz num mundo de tanta violência; de sua comunhão num mundo tão dilacerado pelas injustiças; sinais de vida e esperança num mundo sedento de sentido.
Luminosa escuridão
Mas a escuridão
de teu mistério,
é mais luminosa
que nossas ideologias
pequenas luzes penduradas
nas encruzilhadas.
És inacessível.
Mas tua distancia
é mais acolhedora
do último reduto de meu ser,
que todos os braços
que se fecham com amor
sobre meus ombros.
És indizível.
Mas teu nome
humildemente orado,
vai emanando silencioso
mais sabedoria
que as torrentes de palavras
que circulam pela terra.
És imanipulável.
Mas teu desígnio
traz até minhas veias,
uma gota de vida eterna
que faz brotar
desde o centro de minha realidade
todas as minhas criações.
Benjamiìn González Buelta
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