A decepção das católicas em relação à exortação pós-sinodal de Francisco é enorme.
A reportagem é de Elisabeth Zollin, publicada por Heidenheimer Zeitung, 15-02-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A decepção é grande. As mulheres ativas no movimento “Maria 2.0” declaram-se profundamente afetadas pelo fato de o Papa Francisco, no documento relativo ao Sínodo sobre a Amazônia, ter se expressado decididamente contra os ministérios ordenados para as mulheres.
“Isso não deixa indiferente a nenhuma de nós, mulheres”, diz Claudia Schmidt, consultora da Associação de Mulheres Católicas Alemãs (Katholischer Deutscher Frauenbund), da Diocese de Rottenburg-Stuttgart.
É verdade que, no documento publicado na quarta-feira passada, o papa louva o empenho das mulheres nas paróquias. Mas fala de um modo mariano de ser das mulheres que deveria ser conservado em relação à ordenação.
“Essa imagem paternalista da mulher é dolorosa para nós”, admite Schmidt. “As mulheres que se empenham em toda a Alemanha no movimento Maria 2.0 se perguntam se são consideradas de igual valor aos homens.”
O lugar que o papa atribui às mulheres na Igreja não tem nada a ver com uma participação livre, é o que diz uma das primeiras reações da associação Maria 2.0. Alguns grupos também convidaram a criar “locais de fé diferentes”, no sentido de uma “Igreja de irmãos e irmãs a cuja mesa todos são bem-vindos”.
Risco de cisão
Schmidt também vê o perigo de cisão. Ainda não é possível avaliar como as mulheres da Igreja Católica reagirão ao documento. Haveria rumores que dizem: “Agora seremos Igreja ao nosso modo e não esperaremos mais uma resposta dos altos escalões”. Outras disseram: “Agora mais do que nunca”. Supõe-se que algumas mulheres querem ir embora da Igreja batendo a porta.
Schmidt afirma: “Não consigo entender por que o Papa Francisco se expressou assim e pelo menos não se calou”. Por exemplo, não há vestígios de celibato no documento papal.
Muitos esperavam que Francisco abriria pelo menos uma fresta para a região amazônica e que, portanto, reforçaria o princípio por ele formulado repetidamente sobre a importância das Igrejas locais. Em algumas regiões, a falta de padres é tão grande que a missa só pode ser celebrada algumas vezes em um ano.
A oportunidade foi desperdiçada. Schmidt não sabe dizer o que significa a oposição de Roma ao processo de reforma do Caminho Sinodal iniciado no fim de janeiro em Frankfurt por bispos e leigos. “Se agora todos frearem, nós também podemos parar.” De qualquer forma, com o seu documento, Francisco criou novos obstáculos ao processo de reforma.
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