02 Fevereiro 2020
As mulheres católicas obtiveram uma pequena vitória no “Caminho Sinodal” da Igreja alemã: a primeira assembleia sinodal votou para que as resoluções adotadas dependam da aceitação da maioria das delegadas mulheres.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Novena News, 31-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como noticiou a agência de notícias católica alemã KNA, os delegados da assembleia em Frankfurt, que ocorre até o dia 1º de fevereiro, votaram nessa sexta-feira para fortalecer ainda mais a voz das mulheres na primeira etapa-chave do processo sinodal de reforma da Igreja, que durará dois anos.
Uma maioria de dois terços dos 230 representantes da assembleia votou que, para que as resoluções sejam aprovadas, a maioria das delegadas mulheres presentes deve apoiá-las.
Inicialmente, foi apresentada uma moção para que a maioria feminina necessária estivesse na soma dos dois terços, mas, depois de enfrentar resistência, a proposta de uma maioria feminina simples foi votada pelos delegados,
No total, 134 delegados votaram a favor da cláusula da maioria feminina, enquanto 62 votaram contra, e 14 se abstiveram.
Entre os 230 participantes da assembleia sinodal, 159 são homens, 70 são mulheres, e uma pessoa é não binária.
Com a aprovação da maioria feminina, isso significa que, agora, para que as resoluções sejam adotadas na primeira assembleia sinodal, mais da metade das delegadas mulheres deve aprová-las, assim como dois terços de todos os bispos participantes e dois terços de todos os participantes no total.
O trabalho no segundo dia da assembleia sinodal em Frankfurt começou com uma missa, na sexta-feira, na catedral de Frankfurt, na qual um dos “companheiros espirituais” do caminho sinodal, o jesuíta Bernd Hagenkord, exortou os participantes da assembleia a terem coragem e confiança nas suas discussões.
Enquanto isso, o bispo de Speyer, Karl-Heinz Wiesemann, havia dado uma entrevista ao jornal Rheinpfalz, na qual ele falou da “obrigação moral muito alta” que ele sente de implementar as decisões da assembleia sinodal, já que elas virão de uma dupla maioria de dois terços – dos bispos e do total de participantes –, e agora da maioria simples das delegadas mulheres.
Wiesemann também declarou que, com o Caminho Sinodal, “não haverá nenhum caminho especial alemão” separado de Roma e da Igreja mundial, “como alguns temem”.
Mas o bispo disse que os delegados do Caminho Sinodal tinham um “dever (...) de não evitar questões e debates importantes que sejam trazidos à tona pelo povo da Igreja”, como os temas oficiais do Caminho Sinodal sobre poder e autoridade na Igreja, participação das mulheres, celibato e modo de vida sacerdotal, e moral sexual.
“Não podemos simplesmente dizer que a discussão acabou”, insistiu Wiesemann, acrescentando que o grupo preparatório do qual ele havia participado, sobre poder e autoridade, exigiu que a Igreja implemente ainda mais “transparência e controle”.
Outras questões importantes que surgiram no trabalho da sexta-feira na assembleia sinodal incluíram um apelo do teólogo Thomas Söding, de Bochum, por discussões “precisas” e “detalhadas” na assembleia sinodal, que resultem em resoluções “teologicamente fortes”, úteis tanto para a Alemanha quanto para o catolicismo do mundo inteiro e que “façam a nossa Igreja avançar no caminho do arrependimento e da renovação”.
“Há muita coisa que podemos e devemos mudar aqui na Alemanha”, reiterou Söding.
No plenário da assembleia sinodal na sexta-feira, também houve um intenso debate sobre o vínculo entre o celibato sacerdotal obrigatório e o abuso sexual clerical de menores.
O bispo de Regensburg, Rudolf Voderholzer, um cético de longa data em relação ao Caminho Sinodal, afirmou que o vínculo entre castidade e abuso não havia sido cientificamente comprovado e, como tal, não era uma base sólida para empreender as reformas do processo do Caminho Sinodal.
Entre outros oradores, o presidente da Cáritas alemã, Peter Neher, contradisse o bispo a esse respeito e afirmou que o seu conselho, a partir do que dizem os especialistas em centros de aconselhamento, é que a moral sexual católica tradicional não está mais atualizada e não é útil para as pessoas em crise.
Outros pontos sobre os quais os delegados da assembleia sinodal trabalharam foram as regras formais de procedimento para o encontro e a composição precisa dos grupos que abordarão as quatro questões-chave do diálogo de reforma, sobre poder, mulheres, celibato e moral sexual.
O intenso dia de trabalho na sexta-feira, no segundo dia da primeira assembleia sinodal da Igreja alemã, ocorreu depois que o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising, e presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, declarou em uma entrevista coletiva inaugural que “o objetivo deste caminho é alcançar algo que possa promover a unidade da Igreja”.
Agora, é a hora de um “processo espiritual” e de uma “conversão”, insistiu Marx, explicando que o que está em jogo com o Caminho Sinodal é nada menos do que “o futuro da fé e da Igreja no nosso país”, e a necessidade de “restaurar a credibilidade” na Igreja como instituição após a crise dos abusos sexuais clericais.
“O papa nos pede que discutamos e busquemos respostas juntos”, acrescentou o presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães, Thomas Sternberg, que afirmou que o processo de reforma abordaria “como viver a fé” na Alemanha de hoje.
“Não haverá um fim para esse caminho”, pois é o “começo de um novo modo de ser Igreja”, prometeu Sternberg.
Fora da coletiva de imprensa inaugural, mais de 100 manifestantes se reuniram para mostrar seu descontentamento com o processo do Caminho Sinodal, embora por razões diferentes.
Enquanto os conservadores protestavam argumentando que o processo foi planejado para liberalizar a doutrina e a disciplina da Igreja, outros manifestantes se opunham à ausência de sobreviventes dos abusos clericais entre os delegados da assembleia ou à falta de qualquer oportunidade real de mudança no Caminho Sinodal para as mulheres católicas.
Mas, como explicou o cardeal Marx em seu sermão na missa inaugural da assembleia sinodal na quinta-feira à noite na Catedral de Frankfurt, “a jornada sinodal é um convite para mudar de perspectiva e aprender”.
“Não há nenhuma partida, nenhum novo começo, nenhuma nova evangelização sem uma reviravolta”, continuou Marx, pedindo “coragem” por parte da Igreja “para abrir novos caminhos em situações e desafios difíceis”.
O escândalo dos abusos sexuais “deve nos ensinar a olhar para a frente, a partir do conhecimento do passado, dos erros cometidos”, disse o cardeal, acrescentando que, sem esse conhecimento em retrospectiva, “não seremos capazes de trilhar o caminho espiritual do futuro”.
Marx explicou que esse caminho do futuro inclui uma visão crítica do poder na Igreja, que, pelo contrário, “deve ser serviço”.
“Seria um sinal forte, uma mudança de perspectiva, se pudéssemos mostrar o que poder e serviço significam, ou seja, não governar sobre os outros, mas sim mostrar cooperação na Igreja”, insistiu o cardeal aos delegados da assembleia sinodal.
Portanto, não haverá nenhuma “revolução” no Caminho Sinodal, explicou Marx, mas sim a necessidade de retornar às origens da fé, da missão, porque lá se encontra “o futuro da Igreja no nosso país” e o caminho para “recuperar a credibilidade”.
“Depende de nós”, insistiu Marx.
“No passado, podemos ter colocado a luz debaixo de uma vasilha. Neste momento, nos perguntamos: como podemos colocá-la novamente em vista, para que brilhe para todos?”
“O Caminho Sinodal deve ajudar a luz do Evangelho a brilhar, a se tornar visível e a orientar a todos. É um caminho de despertar, de encorajamento, mas nunca sem arrependimento interior.”
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Uma (pequena) vitória para as mulheres no “Caminho Sinodal” alemão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU