02 Fevereiro 2020
Em Frankfurt, no coração da Alemanha, eram eleitos e coroados os imperadores do Sacro Império Romano. Hoje a cidade, de maioria protestante, é um centro financeiro de importância primordial. Nestes três dias, no entanto, ela também se torna a capital da Igreja Católica alemã.
A reportagem é de Gianni Cardinale, publicada por Avvenire, 31-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Aqui se celebra a primeira assembleia do esperado Caminho Sinodal. Um caminho de “conversão e renovação” despertado também pela “grave crise” causada pelo escândalo dos abusos sexuais que abalou a Igreja na Alemanha desde 2010.
Todos os 69 bispos da Conferência Episcopal (DBK) participam do encontro, assim como muitos membros do Comitê Central dos Católicos (Zdk), além de representantes dos religiosos e das consagradas, dos jovens, dos diáconos e de outras realidades eclesiais.
Logotipo do Caminho Sinodal da Igreja da Alemanha (Foto: SynodalerWeg.de)
A assembleia, que encerrará neste sábado, conta com 230 membros – incluindo 66 mulheres – e é presidida conjuntamente pelo presidente da Dbk, o cardeal de Munique, Reinhard Marx, e o do Zdk, Thomas Sternberg.
São quatro os temas escolhidos para o debate: “Poder e divisão de poderes na Igreja”; “Vida sacerdotal hoje”; “Mulheres nos serviços e nos ministérios da Igreja”; “Amor e sexualidade”.
Antes da missa inicial, em uma coletiva de imprensa, os dois copresidentes jogaram água sobre o fogo das polêmicas que antecederam o evento, percebido por alguns como um “processo revolucionário” da e na Igreja alemã sobre temas como o celibato, o sacerdócio feminino e a bênção de casais homossexuais.
“O objetivo deste caminho é chegar a algo que sirva à unidade da Igreja”, sublinhou o cardeal Marx. “O ponto de partida é a crise gerada pelos escândalos de abuso sexual na Igreja”, acrescentou. E agora é necessário um “processo espiritual” e uma “conversão”. Estão em jogo “o futuro da fé e da Igreja no nosso país” e a necessidade de “recuperar a credibilidade”.
“O papa nos exorta a discutir e a buscar respostas juntos”, respondeu Sternberg à pergunta sobre “como viver a fé” no meio das mulheres e dos homens hoje na Alemanha. “Não haverá um fim deste caminho”, porque este é “o início de um novo modo de ser Igreja.”
Os participantes da missa inaugural foram acolhidos, na entrada da catedral dedicada a São Bartolomeu, por cerca de 200 mulheres do movimento “Maria 2.0”, que fazem ouvir a sua voz em favor do sacerdócio feminino. Com elas, o bispo de Osnabruck, Franz-Josef Bode, parou para conversar longa e afavelmente, e, depois, junto com o porta-voz do episcopado, Matthias Kopp, também foi cumprimentar um pequeno grupo de fiéis tradicionalistas que estão na praça para rezar o terço.
Com Marx, concelebraram o núncio apostólico, o arcebispo croata Nikola Eterovic, e Dom Georg Bätzing, bispo de Limburg, diocese em cujo território se localiza Frankfurt. Os outros bispos participaram da liturgia junto com os outros membros sinodais.
Na homilia, o purpurado anunciou que o caminho adotado “deve ser um novo início” e, lembrando os temas em discussão, reiterou que o poder é “serviço” e que é preciso “ter autoridade sem dominar”, que as mulheres e os homens “têm a mesma dignidade” e “a mesma responsabilidade na evangelização”, que a sexualidade deve ser apresentada como “fonte de alegria” e “dom de Deus”, que delinear a figura do sacerdote para o nosso tempo não deve ser uma responsabilidade apenas clerical, mas também de toda a Igreja.
Inspirando-se nas leituras do dia, o cardeal Marx falou do “caminho sinodal como experiência do sensus ecclesiae”, portanto, terreno de “debate” e não de “confronto”, e como um caminho para que “a luz do Evangelho volte a ser visível no mundo”.
Depois, seguiu-se a palestra introdutória de Sternberg. “Esta assembleia – sublinhou o presidente do Zdk – une pessoas muito diferentes, mas todos representamos a Igreja na Alemanha.” E “compartilhamos a preocupação com a nossa fé, com a nossa Igreja”.
Depois, ele destacou a importância dos “procedimentos vinculantes” deste caminho, que, para além do processo de diálogo durante os próximos dois anos, levarão a “deliberações e a votações claras”. Sternberg não deu exemplos, mas antecipou que, no fim dos trabalhos, poderão surgir “votações” realizáveis na Alemanha; outras, no entanto, terão que ser submetidas ao papa, e outras ainda “poderão ser endereçados a um Concílio que talvez um papa um dia poderá convocar”.
O primeiro dia da assembleia terminou com um pároco, um bispo (o salesiano Stefan Oster, de Passau), uma jovem, uma freira e um leigo que expressaram, diante de todos os outros membros da cúpula, as próprias expectativas em relação ao Caminho Sinodal.
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Começa o Sínodo da Igreja alemã. Marx: “Está em jogo o futuro da fé” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU