25 Janeiro 2020
Gerhard Ludwig Müller reitera que Ratzinger e Bergoglio não são inimigos. Scalfari, por sua vez, segundo o cardeal, é um “adversário do papado”.
A reportagem é de Giuseppe Aloisi, publicada em Il Giornale, 23-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Gerhard Ludwig Müller, que não foi confirmado pelo Papa Francisco como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, analisou a relação entre o pontífice reinante e o papa emérito, redimensionando e dilacerando a narrativa sobre os “dois papas”, vendo-a de modo diferente. O purpurado alemão também decidiu dirigir uma mensagem precisa relativa ao papel desempenhado nestes tempos por Eugenio Scalfari.
O fundador do jornal La Repubblica, devido a um tipo de exclusividade decorrente dos diálogos mantidos com Jorge Mario Bergoglio, frequentemente publica reflexões atribuídas ao ex-arcebispo de Buenos Aires. Considerações que, em algumas circunstâncias, o Vaticano desmente.
Para examinar a situação, o cardeal Müller escolheu o Die Tagespost, que é o jornal identificado também por Bento XVI para o nascimento de uma fundação capaz de tutelar o jornalismo católico. Um detalhe, este último, que não é desprezível.
Müller, na ótica dos esquematismos curiais, é considerado um “ratzingeriano”. Trata-se de um daqueles consagrados alemães, portanto, que poderiam se opor às “decisões vinculantes” do “concílio interno” da Conferência Episcopal alemã, que também está refletindo sobre doutrina e celibato.
Depois de reiterar a posição a respeito do celibato sacerdotal, que Müller, como o emérito e o prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, considera não abolível, o cardeal teutônico atacou amplamente Eugenio Scalfari.
O livro do cardeal Robert Sarah e Bento XVI – “Do fundo de nossos corações” – se inseriu em um contexto dialético que separa, como de costume, os conservadores dos progressistas. Mas a publicação da dupla conservadora não é vista com bons olhos por aqueles que consideram a persistência do celibato no sacerdócio como um obstáculo à vitória das correntes teológico-progressistas. Ratzinger e Sarah, mediante a sua obra, absolutamente não moveram nenhum ataque contra o Santo Padre. E esse é um dos aspectos destacados por Müller.
Müller, porém, entrevê a subsistência de uma “jogada de tabela” entre laicistas e “bergoglianos”, na qual o jornalista mencionado também parece estar interessado. Eugenio Scalfari, para o ex-prefeito, é um dos “adversários demoníacos do papado”. De acordo com o que foi publicado também na edição desta sexta-feira do Libero, o alto eclesiástico não tem dúvidas sobre a existência de certos riscos: “O ateu militante Eugenio Scalfari – afirma o ex-titular do antigo Santo Ofício – se orgulha de ser amigo do Papa Francisco. Unidos pela ideia comum de uma única religião planetária de origem humana (sem Trindade nem Encarnação), ele lhe oferece a sua colaboração”.
E ainda: “A ideia de uma frente popular constituída por crentes e não crentes é propagada contra aqueles que Scalfari identifica como inimigos e adversários, entre as fileiras de cardeais e bispos e católicos ‘conservadores de direita’. Nisso – conclui o ratzingeriano – ele encontra espíritos afins provenientes do círculo daqueles que se autoproclamam parte de uma ‘guarda bergogliana’”.
Quase como se a esquerda ideológica pressionasse para que o Papa Francisco revolucionasse a doutrina. Os salões, por assim dizer, esperam que Bergoglio seja o papa da virada definitiva. E a presença do papa emérito, com todas as declarações concedidas por Bento XVI nesses sete anos, pode constituir uma barreira dificilmente superável.
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Cardeal Müller acusa Eugenio Scalfari: “É um demônio contra o papado” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU