04 Dezembro 2019
O ano de 2019 encerra uma década que confirma a aceleração da crise climática. Dez anos de “calor global excepcional”, degelo e aumento recorde do nível do mar, conforme observado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), em seu relatório sobre o Estado do Clima Mundial, publicado nesta terça-feira. Um período marcado pela sucessão de eventos meteorológicos extremos de grande impacto, como inundações, ondas de calor, secas e furacões.
A reportagem é de Raúl Rejón, publicada por El Diario, 03-12-2019. A tradução é do Cepat.
Até este momento do ano, a temperatura média geral da Terra está 1,1 grau acima dos valores pré-industriais. “Será o segundo ou terceiro ano mais quente” registrado, explica a OMM. E a década também baterá recordes. “Desde 1980, cada década sucessiva foi mais quente que a anterior”, resume a organização.
É algo consequente com o aumento da quantidade de gases do efeito estufa (GEE) acumulada na atmosfera. Em 2018, o recorde histórico de concentração de CO2 foi ultrapassado - com um nível não observado em três milhões de anos. O metano e o dióxido de nitrogênio também excedem em muito os níveis anteriores à revolução industrial. Quanto mais GEE no ar, mais calor retido absorvido pelo mar e a terra.
Em relação ao degelo, 2019 não trouxe nenhuma notícia boa. Em setembro passado, a extensão da camada de gelo no Ártico foi a terceira menor já registrada. O que se une à aceleração do aumento do nível do mar. O aumento é um processo observado há algum tempo, mas o ritmo aumentou devido, em parte, ao afundamento da placa de gelo sobre a Groenlândia e a Antártida. Em outubro deste ano, a média global do nível do mar foi a mais alta, desde que passou a se tornar possível medir com alta precisão (1993).
Mais gases do efeito estufa acumulados na atmosfera resultam em um planeta Terra superaquecido. Resultado? A alteração do sistema climático, como lembra a Organização Meteorológica.
Essa alteração se dá em um momento em que há cada vez mais eventos meteorológicos extremos. Secas. Chuvas torrenciais localizadas que provocam enxurradas e inundações. Furacões mais frequentes e mais fortes. Furacões que, além disso, chegam a regiões antes seguras, como o oeste da Europa. Nos primeiros seis meses deste ano, mais de sete milhões de pessoas foram obrigadas a se deslocar por causa destes fenômenos. É o número mais alto, desde que passaram a existir registros.
A OMM relata inundações por transbordamentos fluviais nos Estados Unidos (sofridos em Missouri, Arkansas e Mississippi, neste ano), mas também no norte da Rússia e no sudeste asiático. Na Espanha, uma depressão atmosférica no Levante, no início de setembro, causou inundações em Alicante, Região de Múrcia, Almeria e Málaga. A já conhecida DANA provocou seis mortes na Espanha.
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, enfatiza que “uma das principais consequências da mudança climática é que geram chuvas mais irregulares”: um padrão imprevisível e volúvel de chuvas, que ameaça as plantações e as inundações.
Mas, ao mesmo tempo, esse padrão irregular também inclui longas temporadas sem chuva. Todo um corredor seco se instalou na América Central por Honduras, Nicarágua, Guatemala e El Salvador, até que vieram tormentas torrenciais em outubro. O próprio Chile, organizador da cúpula, sofre um período “extraordinariamente seco” em sua parte central.
A Espanha é uma região que exemplifica essa combinação climática de seca e chuvas torrenciais. Se a DANA deixou imagens de cidades como Orihuela convertidas em lagoas, 2019 fez com que fosse declarada seca meteorológica em grandes áreas: sul de Castela e Leão, oeste de Madri, sudoeste de Castela-Mancha, Ilhas Canárias. Pontos de Euskadi suportaram receber, durante meses, até 25% de chuvas em relação à média histórica. O ano hidrológico 2018-2019, que vai de outubro a setembro, foi o terceiro mais seco do século na Espanha.
Nesta linha, a Europa passou por um verão particularmente duro de ondas de calor. A OMM registrou ondas que causaram uma temperatura recorde registrada na França (com 46 graus). Também ultrapassaram os limites na Alemanha, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo e Reino Unido. Um calor que se estendeu ao norte até atingir a Finlândia e a Suécia.
A Espanha teve uma onda de calor em junho classificada como “especialmente adversa” pela Agência Estatal Meteorológica por, entre outras coisas, ser declarada antes de entrar em julho. As ondas na Espanha vêm cada vez mais cedo e mais numerosas. De fato, oito dos dez picos de temperatura registrados em um mês de junho se acumulam no século XXI.
“No dia a dia, os impactos da mudança climática são observados em episódios de clima extremo e anormal”, insistiu Taalas. A Espanha, também em 2019, pode comprovar isso.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
2019 encerra uma década nefasta para o clima: temperatura recorde, aumento do nível do mar e degelo acelerado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU