04 Novembro 2019
“Se algum setor do mundo pode alertar sobre o real significado das mudanças climáticas, esse é o da cultura: o das artes, das letras e das ciências. Obras como "A Terra Inabitável" abrirão os olhos de muitos homens de boa vontade. Compreende-se o sucesso enorme que este livro obteve nos principais países dos cinco continentes”, escreve Luis María Anson, jornalista e escritor, em artigo publicado por El Cultural, 01-11-2019. A tradução é do Cepat.
Dentro de trinta anos, no Oriente Próximo, na África endrina e no sul da Ásia, não se poderá sair à rua no verão. David Wallace-Wells esclarece, em um livro cardinal, o futuro imediato da Humanidade, a ponto de já se produzir o que o autor chama de “o grande êxodo”, porque um bilhão de refugiados climáticos se instalarão em outros lugares para abandonar as terras rasgadas, arranhadas, abertas pela queima selvagem de um sol implacável. Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, hostil às ligeirezas de Donald Trump, anunciou que em meio século o mar inundará Nova York e Londres.
Em um livro de leitura chocante, “A Terra Inabitável” [Companhia das Letras], David Wallace-Wells não se refere a distâncias seculares. Os jovens de hoje sangrarão na sua maturidade e na sua velhice com o problema da subida dos oceanos e dos gases do efeito estufa. O presidente Trump e o presidente Bolsonaro, como tantos outros, consideram uma engabelação as consequências das mudanças climáticas e riem estupidamente de suas consequências. Mas, a devastação já começou e as instâncias políticas mais responsáveis começam a reagir à tragédia, embora ainda com muita indiferença.
Não sei se é verdade que a Humanidade enfrenta o problema mais sério de sua história, que é o que afirma Wallace-Wells. Sim, é certo que todo grau de calor ascendente experimentado pela Terra multiplicará o sofrimento de milhões de homens e mulheres. David Wallace-Wells não tem esperanças de que, a curto prazo, os governos do mundo aceitem a seriedade do que está acontecendo e tomem medidas contra a voracidade daqueles dispostos a se enriquecer, mesmo que isso signifique tornar o planeta em que vivemos inabitável.
A paleoclimatologia sugere reflexões incertas. As glaciações ocorreram em períodos específicos. As variações na inclinação do eixo da Terra repercutiram no clima. Sua relação com os anos galácticos resulta evidente. As causas naturais dos espasmos climáticos, no entanto, nada têm a ver com a atualidade. Até agora, o homem não possuía a capacidade de influir para modificar a situação do planeta. Agora, pode e está fazendo isso de maneira tenaz e insensata.
Destacados cientistas levantaram vozes alarmantes. Mas, são poucos os Governos que atendem essas chamadas. Nem o Protocolo de Quioto e nem o Acordo de Paris foram atendidos de forma eficaz. Ficaram, ao menos em grande parte, em papel molhado. No entanto, o que é lido nos dois textos arrepia os cabelos porque não há tempo a perder e isso foi explicado pelo texto escrito por Wallace-Wells.
O problema não se resolve apenas com energias renováveis e com a obrigação de que os veículos circulem com energia elétrica. Essas são etapas relativamente simples e nem sequer se impõe das alturas. Os interesses de algumas empresas multinacionais prevalecem sobre o interesse geral.
Para o Prêmio Nobel de Física, Michel Mayor, a esperança humana, diante do que está acontecendo, se encontra no espaço porque as probabilidades que haja vida no Universo “são descomunais” e nosso planeta inabitável pode ser substituído por outro ou outros que não sejam. “Uma mentira dita mil vezes se torna realidade”, disse Lenin em Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo.
Mas, embora Donald Trump, com seus cabelos cardados e sua expressão de desdenhosa presunção, repita milhares de vezes que a mudança climática é uma especulação catastrófica, isso não altera a verdade tão alarmantemente sintetizada por David Wallace-Wells.
Se algum setor do mundo pode alertar sobre o real significado das mudanças climáticas, esse é o da cultura: o das artes, das letras e das ciências. Obras como “A Terra Inabitável” abrirão os olhos de muitos homens de boa vontade. Compreende-se o sucesso enorme que este livro obteve nos principais países dos cinco continentes.
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David Wallace-Wells. O planeta inabitável - Instituto Humanitas Unisinos - IHU