24 Outubro 2019
93% dos migrantes que deixam a África para chegar à Europa irregularmente estão dispostos a fazê-lo novamente, apesar dos perigos mortais que enfrentam. Isso é revelado por um relatório da ONU que tenta analisar os motivos pelos quais aqueles que confiam suas vidas a traficantes de seres humanos para atravessar fronteiras decidem deixar seu país.
A reportagem é de Anna Lisa Antonucci, publicada por L'Osservatore Romano, 23 e 24-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
A pesquisa, realizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que se baseia em entrevistas com 1.970 migrantes de 39 países africanos estabelecidos em 13 países europeus, ressalta que todos relataram ter chegado à Europa por meios irregulares e não por motivos de asilo ou proteção.
A pesquisa constata que nem todos os migrantes irregulares para a Europa são pobres na África e, acima de tudo, muitos deles não têm um nível escolar baixo. Cerca de 58% estavam empregados ou frequentavam a escola e a maioria dos que trabalhavam recebia um salário condizente. Então, o que os leva a abandonar sua casa e entes queridos? "Se você tem uma família - respondeu Yerima -, precisa garantir que tenham comida, abrigo, remédios e educação. Eu tenho uma menina. As pessoas podem se perguntar que tipo de pai eu sou, deixando minha esposa e filha em tenra idade. Mas que tipo de pai eu seria se ficasse e não pudesse lhes oferecer uma vida digna?"
É o medo da falta de um futuro melhor, o medo de ser forçado a viver em dificuldades, portanto, que os leva a partir. Segundo o estudo, cerca de metade daqueles que tinham empregos na África declarou que não ganhava o suficiente.
Para dois terços dos entrevistados, o que ganhavam ou as perspectivas salariais no país de origem não os impediram de sair.
O relatório aponta que a migração é causada pelo impacto do progresso do desenvolvimento na África, um progresso irregular e não suficientemente rápido para atender às aspirações das pessoas. Os obstáculos às oportunidades, ou a "falta de escolha", emergem desse estudo como fatores determinantes para a decisão de partir de muitos desses jovens. "São as políticas que enraízam as pessoas na pobreza, que não desenvolvem nada. As escolas inexistentes, os serviços de saúde que não existem, a corrupção, a repressão, esses são os problemas que levam as pessoas a emigrar", conta Serge.
Finalmente, a pesquisa aborda o motivo que leva essas pessoas a permanecer na Europa e é, na maioria dos casos, a vergonha de não ser bem-sucedido na “missão” de enviar fundos suficientes para casa. Cerca de 53% relata ter recebido apoio financeiro de familiares e amigos para partir e, uma vez na Europa, e para cerca de 78%, enviar dinheiro para casa é o principal motivo que os leva a ficar.
As conclusões a que chega o levantamento ressaltam a necessidade de continuar a expandir oportunidades e escolhas na África, ao mesmo tempo fortalecendo as oportunidades de passar da migração "não regulamentada" para a migração "regulamentada", em conformidade com o Pacto Global para uma migração segura, ordenada e regular.
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Levantamento da ONU sobre as motivações dos migrantes. Desesperados e sem escolha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU