16 Outubro 2019
"Há quem tema um Vatileaks 3, que poderia ser pior que as versões 1 e 2". E muitos no Vaticano têm "medo de falar sobre certos assuntos". Depois da renúncia do comandante da Gendarmaria Domenico Giani e dos novos escândalos que estão colocando o Papa Francisco em dificuldades, é o quadro que mostra John Allen, fundador e diretor do site Crux, autor de vários livros sobre o Vaticano e comentarista da CNN.
A entrevista é de Domenico Agasso Jr., publicada por La Stampa, 15-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como você descreve as demissões de Giani?
Têm um alcance notável, sobretudo porque há anos Giani é o ‘homem forte’ do Vaticano, a figura que provoca medo em quase todo mundo e, portanto, que conseguia impor disciplina.
O Papa fez bem em aceitá-las, mesmo que Giani não pareça ser o delator?
Não sei se existe alguma culpa de Giani nos eventos recentes, mas suas demissões levantam muitas questões sobre o futuro, não apenas da Gendarmaria. O tema decisivo é a criação de um clima geral no Vaticano de ‘prestação de contas’, ou seja, de dever render conta o alguém.
O que se pode esperar a partir de agora?
Muitos no Vaticano, após a saída de Giani, temem um ‘Vatileaks 3’, inclusive maior que os anteriores.
Como define o estado de saúde da Santa Sé?
Amigos e apoiadores do Papa Francisco, em geral, estão indo bem, outros menos. Mas depois desse escândalo em particular, há um sentimento de incerteza. E medo de falar muito abertamente sobre certos episódios.
Fala-se muito sobre reformas no Vaticano: qual é a mais urgente?
O caso de Giani é mais uma demonstração de que as promessas de transparência feitas pelos papas e por alguns colaboradores ‘reformadores’, até agora, permanecem, pelo menos em parte, sonhos. Por exemplo, não sabemos se existe um verdadeiro crime na base desse episódio, mas também quais seriam os motivos reais do afastamento de Giani, de que se fala há muito tempo.
Em que ponto está o pontificado de Bergoglio? Que desafios o esperam em particular?
Até agora, os principais objetivos deste pontificado estão bem articulados e conhecidos: estamos em uma fase de consolidação e implementação. O principal para o Papa Francisco é identificar as pessoas de que ele precisa para transformar sua visão em realidade. E talvez a saída de Giani possa lhe dar uma nova oportunidade de sucesso dentro dos muros do Vaticano.
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“No Vaticano ninguém fala sobre certos assuntos. Poderia agora explodir um Vatileaks 3” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU