19 Setembro 2019
“O governo brasileiro deve ser responsabilizado por toda violência praticada com os povos indígenas”, pontuou indígena.
A reportagem é de Guilherme Cavalli, publicada por Conselho Indigenista Missionário - Cimi, 18-09-2019.
Saturnina Urupe Chue, indígena do povo Chiquitano, deixou seu território tradicional no extremo oeste do Mato Grosso, Brasil, e desembarcou na 42ª Sessão da Comissão de Direitos Humanos da Nações Unidas, em Genebra, Suíça. A liderança firma a análise: “Hoje somos ameaçados abertamente pelo presidente da República [do Brasil]”. Saturnina levou às esferas internacionais o discurso de ódio do representante máximo da República do Brasil. Jair Bolsonaro, “coloca em risco nossas vidas e a vida do nosso planeta”, afirma ao fazer referência aos constantes ataques verbais do presidente contra os povos indígenas.
Com um discurso descolado da realidade, o governo brasileiro apresentou na ONU, durante sua manifestação, um cenário de suposto “cuidado aos direitos indígenas”. Na manhã de hoje, afirmou cumprir a Constituição Federal no que tange aos direitos originários das populações tradicionais. Contudo, o que denunciou na tarde dessa quarta-feira (18) Saturnina Chiquitano indica um Brasil que regride na política indigenista. “O governo brasileiro deve ser responsabilizado por toda violência praticada com os povos indígenas”, pontua.
A indígena de 30 anos iniciou sua caminhada aos 16 ao acompanhar seu pai, na época cacique do povo. Hoje ocupa o espaço de fala na ONU dedicado aos povos indígenas para ajudar a visibilizar os tristes sintomas que assolam o Brasil: “É o tempo mais difícil para os direitos indígenas e para o acesso às nossas terras”, lamenta em pronunciamento na sessão de Diálogos Interativos.
A violência orquestrada contra os povos indígenas afeta há décadas os Chiquitano, que têm sua identidade historicamente negada. Com um discurso antidemarcação, o governo federal atua para intensificar as violações de direitos humanos perpetrados há séculos. Com território ainda sem nenhum procedimento para que seja iniciada sua demarcação, Saturnina exemplifica o que ocorre com aproximadamente 400 outras terras indígenas no país que também sem nenhuma providência para seu reconhecimento pelo Estado.
“Meu povo tem sido atacado e violentado gravemente. O governo do Brasil insiste em não reconhecer nossos Direitos Constitucionais sobre nossas terras”, pontua. “Muitos Chiquitanos já estão deslocados do território. São obrigados a viver fora, nas cidades não indígenas e abaixo de extrema vulnerabilidade”, expressou como consequência da não demarcação.
No fim do pronunciamento, Saturnina reafirmou a histórica resistência dos povos indígenas: “Que todos saibam, vamos defender nossos direitos e nossas terras até o último indígena. A Mãe Terra merece cada gota de sangue derramado pela vida de todos os seus filhos”.
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“É o tempo mais difícil para o acesso a nossos direitos e nossas terras”, afirma indígena na ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU