Por: Guilherme Tenher e Marilene Maia | 13 Setembro 2019
Com um aumento de 11% entre 2002 e 2015 nas atividades de indústrias extrativas e de transformação que podem gerar uma série de danos ambientais, o Vale do Sinos se posicionou como a região com maior índice de potencial poluidor do Rio Grande do Sul. O destaque vai para o município de Canoas que, sozinho, representa 20% do total calculado para o estado.
A poluição causada por determinados modos de produção é um tema que merece destaque no debate regional sobre o clima. Ademais, esta discussão faz parte do desafio proposto mundialmente intitulado “Greve Global pelo Clima” que está agendado para os dias 20 a 27 de setembro de 2019. Esta semana será palco de manifestações e movimentos sociais contra as mudanças climáticas e o iminente colapso ambiental causado pelos modos de produção e consumo na escala global. Intentando contribuir para o debate, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, coletou e sistematizou os dados divulgados pela Fundação de Economia e Estatística - FEE, acerca do Índice de Potencial Poluidor da Indústria. Segundo a fundação, “os indicadores de potencial poluidor da indústria no Rio Grande do Sul apontam para uma tendência de aumento do risco ambiental”. Confira abaixo o texto com mais informações:
A produção vinculada às indústrias extrativas e de transformação pode gerar uma série de externalidades negativas. Dentre as mais conhecidas estão os riscos ambientais via poluição. Conforme a FEE, o “risco ambiental consiste na probabilidade de ocorrência de desastres decorrentes da interação de processos ambientais, econômicos e sociais, que afetem os ecossistemas, comprometendo a integridade física e os vínculos sociais da população”.
Ademais, dados que captem as potencialidades de poluição destas indústrias possuem o objetivo de subsidiar a formulação e implementação de políticas públicas, especialmente àquelas vinculadas com projetos de prevenção, pois estes representam um esforço de equalizar os riscos iminentes de atividades poluidoras com a importância da preservação ambiental para a manutenção da vida no planeta.
Desta forma, analisa-se o Índice de Potencial Poluidor da Indústria - Inpp-I. Ele sintetiza a concentração das atividades industriais em relação ao seu potencial de poluição e o volume de produção por unidade geográfica, apontando a evolução do volume de produção potencialmente poluidora no território, em que se destacam aquelas áreas que podem ser consideradas críticas, dada a concentração de um maior volume de produção em atividades industriais com alto potencial poluidor. Para os municípios analisados, o índice se encontra em uma escala de 0 a 57 (sendo este último o maior registro encontrado).
A região aumentou seu índice em 11% no período 2002-2015. Este aumento colocou o Vale na primeira posição entre as regiões do estado com maior potencial poluidor. Ademais, os municípios pertencentes à região representam 26,7% do Inpp-I gaúcho.
Um dos municípios do Vale com maior índice de potencial poluidor no ano de 2015 foi São Leopoldo com 1,672, posicionando-se em 10º lugar entre as demais municipalidades do estado. Novo Hamburgo, em seguida, com um índice de 1,323, posicionou-se na 13ª colocação. Em 2002, esse município estava na 7ª posição; isto significa que a indústria novo-hamburguense diminuiu sua participação potencial poluidora de 3% para 1,5% entre o período 2002-2015 no Rio Grande do Sul. Sapiranga contabilizou um índice de 0,790 em 2015, ocupando a 24ª posição no ranking estadual.
Observa-se, também, um aumento de 205% no índice de Sapucaia do Sul, isto é, passou de 0,029 em 2002 para 0,088, mantendo-se na 15ª colocação entre os municípios gaúchos. Araricá registrou um aumento de 67% no índice para o mesmo período, passando para a 136ª colocação.
Por outro lado, Campo Bom registrou a maior queda percentual no Inpp-I. Com 57% de queda, o índice municipal passou de 1,569 para 0,670 entre 2002 e 2015. A participação da indústria campo-bonense no total estadual passou de 1,78% para 0,76%, assim como sua posição caiu de 13º para 27º.
A região metropolitana registrou em 2015 um Inpp-I de 49,623. Este número é 7,16% maior que o registro de 2002. Este aumento fez com que a região representasse, em 2015, aproximadamente 53% do índice potencial poluidor do estado.
Canoas foi o município que contabilizou o maior Inpp-I em 2015, chegando a 17,112, número este 62% maior que o registro de 2002. A indústria canoense representa sozinha 19,4% do total calculado para o estado, posicionando-se em 1º lugar entre os municípios com maior potencial poluidor.
Charqueadas se destaca por apresentar um crescimento de 1.129% no Inpp-I, passando de 0,037 em 2002 para 0,455 em 2015. Glorinha, em seguida, registrou um aumento de 683% no índice, passando da 153ª posição em 2002 para a 83ª colocação em 2015 dentre os municípios do estado com maior potencial poluidor. Porto Alegre, em contrapartida, registrou uma queda de 28% no seu índice, também diminuindo sua participação no estado de 5% em 2002 para 3,62% em 2015.
Segundo a reportagem da FEE do dia 03/04/18, “a economista Cristina dos Reis Martins, vinculada ao Centro de Estudos Econômicos e Sociais da FEE, detalha que ‘em 2015, quase a metade dos municípios gaúchos (242) dependiam de indústrias com alto potencial poluidor, enquanto apenas 25 municípios (5%) concentravam indústrias com baixo risco ambiental’. Em relação à participação dos municípios no volume de produção potencialmente poluidora, em 2015, 59,5% desse volume ficou concentrado em apenas 10 municípios: Canoas, Triunfo, Gravataí, São Leopoldo, Porto Alegre, São Leopoldo, Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Rio Grande, Santa Cruz do Sul e Erechim. ‘Destaca-se que seis entre esses municípios se encontram na Região Metropolitana de Porto Alegre e dois na Região Metropolitana da Serra’.”
O médico Paulo Saldiva, em entrevista realizada por IHU On-line em setembro de 2012, já apontava um comportamento econômico despreocupado com a condição humana e da vida como um todo. Nas palavras do entrevistado, “embora todo mundo advogue que mortalidade precoce e internações sejam temas que compadeçam a todos, quando se está formulando políticas públicas o fato predominante vai ser o econômico, por causa da crise do emprego e de outros fatores. Entretanto, para se ter uma ideia, o país gasta algo em torno de 30 bilhões por ano em função dos acidentes, entre atendimento hospitalar e perda de capacidade laboral. Então, ter essa visão da economia de forma mais integral é importante e imperativa para tomada de decisões.”
Cinco provocações acerca da poluição indicadas pela ONU Brasil: a poluição cria emergência na área de saúde; as crianças normalmente são as mais afetadas; há correlação entre poluição e pobreza; os custos ambientais e da saúde são mais altos quando os preços dos combustíveis estão baixos; e direito a um ar limpo é, sobretudo, um direito humano.
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Vale do Sinos é a região com maior potencial poluidor do estado do Rio Grande do Sul - Instituto Humanitas Unisinos - IHU