11 Setembro 2019
O suicídio continua sendo a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, atrás apenas dos acidentes de trânsito, alerta a Organização Mundial de Saúde em um relatório.
A reportagem é de Rémi Barroux, publicada por Le Monde, 10-09-2019. A tradução é de André Langer.
Quase 800 mil pessoas morrem a cada ano por suicídio em todo o mundo, quase o dobro de mortes por malária ou homicídios. “A cada quarenta segundos, uma pessoa põe fim à sua vida no mundo”, anuncia a Organização Mundial da Saúde (OMS) em um relatório divulgado nesta segunda-feira, 9 de setembro, “Suicídios no mundo”, segunda edição depois do primeiro relatório publicado em 2014.
O suicídio continua sendo a segunda principal causa de morte, atrás dos traumatismos provocados no trânsito, entre jovens de 15 a 29 anos. É a segunda principal causa de morte entre meninas de 15 a 19 anos, atrás das condições maternas, e a terceira entre os rapazes nessa faixa etária, atrás dos acidentes de trânsito e da “violência interpessoal”.
A OMS também lembra que 79% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda. Se a taxa global foi estimada em 2016 em 10,5 por 100 mil habitantes, as taxas variam de 5 a 30. A agência da ONU também especifica que menos da metade dos Estados-membros (80 em 183) possui dados de boa qualidade, especialmente em países de baixa renda.
No entanto, as estatísticas por continente ou região permitem visualizar os países onde o suicídio é mais comum. Na Europa, se a taxa na França é de 12,1 por 100 mil habitantes, eleva-se para 26,5 na Rússia, 25,7 na Lituânia ou ainda 18,5 na Ucrânia. Na América, os Estados Unidos têm uma taxa relativamente alta, com 13,7, mas muito atrás do Uruguai, 16,5 ou do Suriname 23,2.
Na África, os países com as maiores taxas de suicídio são o Lesoto (28,9), Costa do Marfim (23) e Uganda (20). Em outras partes do mundo, principalmente na Ásia, os países com as maiores taxas de suicídio são a Coreia do Sul com 20,2, a Índia com 16,5 ou ainda o Japão com 14,3.
Esse desequilíbrio entre economias desenvolvidas e países em desenvolvimento também explica a importância dos pesticidas na execução do ato. Como afirma a OMS, “os métodos mais comuns são enforcamento, envenenamento por pesticidas e armas de fogo”.
“Os pesticidas estão entre os produtos mais facilmente acessíveis, especialmente em grandes países rurais como a China ou a Índia. 20% dos suicídios no mundo são cometidos com pesticidas, porque não são apenas os agricultores que usam esses produtos e, acima de tudo, que têm acesso fácil a eles”, diz Mark Van Ommeren, psicólogo e coordenador do serviço de saúde mental da OMS.
Em um relatório específico produzido em conjunto com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), “A prevenção do suicídio: indicações para os serviços de registro e regulação de pesticidas”, também publicado na segunda-feira, 9 de setembro, a agência de saúde da ONU estabelece o vínculo entre o acesso a pesticidas perigosos e o número de suicídios. Ela estima que “entre 110 mil e 168 mil suicídios por ingestão de pesticidas ocorrem anualmente em todo o mundo”, 95% dos quais em países de baixa e média renda.
Cerca de uma década antes, a OMS já tinha feito um alerta sobre esse problema e sugerido estratégias para limitar o número de suicídios. Uma delas foi o uso de “caixas fechadas a chaves” para armazenar esses produtos perigosos. “Útil, mas não suficiente”, diz Mark Van Ommeren. “Os suicídios costumam ser gestos impulsivos e, se os meios são inacessíveis ou muito complexos de acessar, pode ser suficiente para reduzir o seu número. Por outro lado, quando as pessoas atentam contra a sua vida por envenenando, se o produto ingerido é menos perigoso, as chances de sobrevivência são maiores”, diz o psicólogo.
A alta toxicidade de muitos produtos químicos – que incluem o paraquat e o propanil para herbicidas, o fosfeto de alumínio para matar roedores ou ainda o monocrotofós (proibido na Europa) e o paration, para inseticidas – significa que “as tentativas de suicídio por ingestão geralmente levam à morte, especialmente em situações em que não existe antídoto ou instalações médicas próximas”, diz a OMS.
O objetivo é, portanto, pressionar pela proibição dos produtos mais perigosos, alguns dos quais já são proibidos em certas regiões do mundo, incluindo a Europa. De acordo com este relatório, existem muitas evidências de que “a proibição do uso de pesticidas muito perigosos pode reduzir as taxas nacionais de suicídio”.
E cita o exemplo do Sri Lanka, onde uma série de proibições resultou em uma queda de 70% no número de suicídios entre 1995 e 2015, salvando a vida de 93 mil pessoas. Na Coreia do Sul, onde o herbicida paraquat foi responsável por dezenas de milhares de suicídios nos anos 2000, sua proibição em 2011 resultou em uma redução de 50% nas mortes por ingestão de pesticidas nos dois anos seguintes.
“É notável que as mortes por autoenvenenamento sejam menores nos países de alta renda, onde os pesticidas mais perigosos estão proibidos, onde as restrições de uso são maiores e onde os pulverizadores profissionais usam meios mecânicos e tecnológicos”, indica o documento.
Segundo a OMS, uma proibição mundial dos produtos mais perigosos impediria dezenas de milhares de mortes a cada ano.
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A cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no mundo, segundo a OMS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU