28 Julho 2019
A razão de tamanho empenho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na nomeação do filho mais novo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a Embaixada do Brasil em Washington escapou neste sábado, durante entrevista, após comparecer à formatura anual da turma de paraquedistas das Forças Armadas, no 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista, na Vila Militar, Zona Oeste da Cidade.
A reportagem é publicada por Correio do Brasil, 27-07-2019.
Aos jornalistas, Bolsonaro criticou a reserva de terras para comunidades indígenas e disse que é favorável à exploração de minerais, mesmo em santuários ecológicos.
— Terra riquíssima (a reserva indígena Ianomami). Se junta (SIC) com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o “primeiro mundo” para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA — confessou.
Bolsonaro indicou o filho para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, com todo o desgaste político que o ato possa significar.
— Vocês acham que eu colocaria um filho meu em um posto de destaque desse para pagar vexame? Quero contato rápido e imediato com o presidente (norte-)americano — acrescentou.
Tanto pai quanto o filho seguem a cartilha do “guru ambiental”, o engenheiro agrônomo Evaristo Eduardo de Miranda, diretor da Embrapa Territorial. Em entrevista à agência russa de notícias Sputnik Brasil, na véspera, ele afirmou que vê “com bons olhos” o anúncio feito pelo ex-capitão a respeito da abertura da biodiversidade brasileira para a exploração em parceria com estrangeiros.
Um dia antes, em Manaus, Bolsonaro declarou que o país está pronto para conversar com países que estejam dispostos a explorar a biodiversidade em parceria com o Brasil. E neste cenário a Amazônia aparece como a “joia da coroa” da riqueza natural nacional.
— Tenho mostrado, falado para o mundo, que qualquer país que por ventura queira, em parceria, explorar a nossa biodiversidade, estamos prontos para conversar com esses países. Tenho dito a mesma coisa em relação à exploração mineral — afirmou Bolsonaro em discurso de abertura da reunião da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
À Sputnik Brasil, Miranda declarou considerar o anúncio do presidente “excelente”, uma vez que poderá estimular o ambiente acadêmico de pesquisa, hoje “quase impossível” de se trabalhar devido ao que ele chamou de excesso de regras e burocracia que transformam pesquisadores em “criminosos” no Brasil.
— Vou dar só um exemplo: se você vai fazer uma pesquisa na Amazônia para procurar plantas de interesse, você tem que dizer antes que plantas você vai pesquisa. Aí você fala: como é que eu posso dizer que eu vou pesquisar se eu estou indo para lá justamente para descobrir alguma coisa? Como é que eu posso dizer de forma antecipada o que eu vou coletar? — questionou.
O anúncio de Bolsonaro nesta semana não é uma novidade. Em abril, o presidente brasileiro revelou que tratou do tema da exploração da biodiversidade brasileira – e mais especificamente da Amazônia – em sua primeira visita oficial aos Estados Unidos, quando se encontrou com o presidente Donald Trump.
— Quando eu conheci Trump, eu disse a ele, entre outras coisas, que eu quero abrir para eles explorarem a Amazônia em uma parceria — revelou Bolsonaro.
Em outra frente, o anúncio de Bolsonaro trouxe preocupação aos ambientalistas. Ouvido pela Sputnik Brasil, o geógrafo Miguel Scarcello, secretário-geral da ONG SOS Amazônia, afirmou que a iniciativa do governo deve ser vista com bastante atenção, destacando que é preciso conhecer os detalhes sobre como seria essa parceria com outros países.
— A intenção de fazer uso da biodiversidade para fins econômicos já é uma intenção antiga não só deste governo, mas os outros já tinham (feito) esse aceno, tanto que foram construídas as estruturas de pesquisa lá em Manaus para isso, mas não evoluiu — afirmou.
Scarcello reconhece que “há um potencial econômico enorme” na região.
— Mas fazer isso exige muita precaução, muito planejamento, muita integração com as comunidades locais, com os governos locais, para que o que venha a ser feito e desenvolvido em matéria de se explorar recursos naturais ou desenvolver produtos com base tecnológica para que sejam meios ou matéria-prima para outros produtos em escala em outros países, é preciso que a sociedade tenha clareza em como será feito isso. Tem que ter um ordenamento jurídico claro — avalia.
Scarcello citou os EUA, a Inglaterra, a China, o Japão e a Alemanha como países que teriam o conhecimento tecnológico para desenvolver ativos com a rica biodiversidade amazônica, com claros fins econômicos, segundo o ambientalista. Ele alertou, porém, que há riscos para os quais o Brasil precisa se atentar antes de fechar qualquer parceria neste sentido.
— Não acredito na visão que o presidente esteja defendendo fazer a [simples] exploração, explorar e recolher produtos da floresta por extrair, em quantidade para fazer cosmético, como é hoje a produção extrativista. É mais para você se apropriar e ter conhecimento químico e biológico do que as espécies têm. Então, eu acho que a gente tem de estar muito atento a como será a apropriação desses princípios que vão ser identificados nessas plantas, que provavelmente serão pesquisadas e exploradas — acrescentou.
Em apenas um ano, o desmatamento na parte brasileira da floresta amazônica cresceu mais de 88% em junho na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o segundo mês consecutivo de aumento do desmate no governo do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na Amazônia totalizou 920 quilômetros quadrados.
Os dados que apontam aumento de 88,4% são preliminares, mas indicam que a cifra anual oficial, baseada em imagens mais detalhadas e mensurada durante os 12 meses transcorridos até o final de julho, está a caminho de superar o número do ano passado.
O desmatamento já atingiu 4.565 quilômetros quadrados nos 11 primeiros meses, um aumento de 15% em relação ao mesmo período de 2018.
Ambientalistas alertam que as afirmações contundentes de Bolsonaro em defesa do desenvolvimento da Amazônia e criticando as autoridades ambientais do país por aplicarem multas que considera excessivas estimulam madeireiros e fazendeiros a lucrar com o desmatamento.
— Bolsonaro agravou a situação… ele fez um ataque retórico forte — disse Paulo Barreto, pesquisador da organização não-governamental brasileira Imazon.
A temporada de chuvas que foi até abril pareceu ter contido um aumento do desmatamento, que subsequentemente ocorreu no início da temporada seca, em maio.
O desmatamento aumentou 34% em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado.
— Estamos adotando todas as medidas para combater o desmatamento ilegal. Nessa semana estavam em ação 17 equipes simultâneas de fiscalização do Ibama em toda a Amazônia — disse o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, à agência inglesa de notícias Reuters.
O Brasil abriga 60% da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, vista como vital para a luta global contra a mudança climática.
Paulo Adário, estrategista de florestas do Greenpeace, disse que “todas as indicações” são de que o desmatamento se agravará ainda mais no governo Bolsonaro, mas espera que a notícia de um aumento grande pressione o governo a agir.
— Quando eles tiverem os números finais, se realmente for muito, isso será um pesadelo para Bolsonaro. Isto é algo realmente importante do ponto de vista internacional e brasileiro porque a Amazônia é um ícone — concluiu Adário.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bolsonaro confessa querer filho em Washington para negociar mineração em terras indígenas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU