11 Julho 2019
Quatro anos após a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o mundo alcançou progressos, mas desafios monumentais permanecem, aponta relatório das Nações Unidas.
A reportagem é publicada por ONU Brasil, 09-07-2019.
Os impactos das mudanças climáticas e a crescente desigualdade entre e dentro dos países estão minando o progresso na agenda de desenvolvimento sustentável, ameaçando reverter muitos dos ganhos alcançados ao longo das últimas décadas que melhoraram as vidas das pessoas, alerta o mais recente relatório das Nações Unidas sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Lançado no dia de abertura do Fórum Político de Alto Nível da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável — um evento anual crítico de revisão das metas —, o relatório é baseado nos dados mais recentes disponíveis e permanece um marco para mensurar o progresso e identificar lacunas na implementação de todos os 17 ODS.
Quatro anos após a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — a estratégia do mundo para um planeta mais justo e saudável —, o relatório observa progresso em algumas áreas, como redução da extrema pobreza, imunização generalizada, queda nas taxas de mortalidade infantil e aumento no acesso das pessoas à eletricidade. Mas a publicação alerta que a resposta global não foi ambiciosa o suficiente, o que deixou as pessoas e países mais vulneráveis sofrendo mais.
A desigualdade crescente entre e dentro dos países exige atenção urgente, alerta o relatório. Três quartos das crianças com nanismo vivem no Sul da Ásia e na África Subsaariana. A taxa de extrema pobreza é três vezes mais alta em zonas rurais do que em áreas urbanas. Os jovens têm três vezes mais chances de estarem desempregados do que os adultos. Apenas um quarto das pessoas com deficiências severas recebem pensão por deficiência. E mulheres e meninas ainda enfrentam barreiras para alcançar igualdade;
O ano de 2018 foi o quarto mais quente já registrado. Os níveis das concentrações de dióxido de carbono continuaram a aumentar em 2018. A acidez dos oceanos está 26% mais alta do que nos tempos pré-industriais e deve ter aumento de 100% a 150% até 2100, com a atual taxa de emissões de CO2;
O número de pessoas vivendo na extrema pobreza caiu de 36% em 1990 para 8,6% em 2018, mas o ritmo da redução da pobreza está começando a desacelerar, conforme o mundo luta para responder a uma miséria enraizada, a conflitos violentos e a vulnerabilidades aos desastres naturais;
A fome global tem crescido após uma queda prolongada.
“Está abundantemente claro que uma resposta bem mais profunda, mais rápida e mais ambiciosa é necessária para liberar a transformação social e econômica necessária para alcançar os nossos objetivos de 2030”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
A falta de progresso é particularmente evidente nos objetivos relacionados ao meio ambiente, como as metas sobre ação climática e biodiversidade. Outros importantes relatórios lançados recentemente pela ONU também alertaram sobre uma ameaça sem precedentes à biodiversidade e sobre a necessidade urgente de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
“O ambiente natural está se deteriorando a uma taxa alarmante: os níveis do mar estão subindo; a acidificação dos oceanos está acelerando; os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados; 1 milhão de espécies de plantas e animais estão em risco de extinção; e a degradação do solo continua sem controle”, acrescentou o secretário-geral.
Os impactos da degradação ambiental estão prejudicando as vidas das pessoas. Condições climáticas extremas, desastres naturais mais frequentes e severos e o colapso dos ecossistemas estão causando uma maior insegurança alimentar e estão agravando seriamente a segurança e a saúde das pessoas, forçando muitas comunidades a sofrer com pobreza, deslocamento e desigualdades crescentes.
O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Liu Zhenmin, alerta que o tempo está passando para tomar ações decisivas sobre mudanças climáticas. O dirigente ressalta a importância de fortalecer a cooperação internacional e a ação multilateral para enfrentar os desafios globais monumentais.
“Os desafios assinalados nesse relatório são problemas globais que exigem soluções globais”, disse Liu.
“Assim como os problemas estão inter-relacionados, as soluções para a pobreza, a desigualdade, as mudanças climáticas e outros desafios globais também estão interligadas.”
A extrema pobreza — que a ONU define como uma privação severa de necessidades humanas básicas — continua a cair, mas a queda desacelerou de tal modo que o mundo, caso mantenha-se no atual ritmo, não vai alcançar a meta de ter menos de 3% da população vivendo nessa condição até 2030.
De acordo com as estimativas atuais, é mais provável que essa taxa fique em torno de 6%. Isso representa 420 milhões de pessoas.
Conflitos violentos e desastres naturais têm influência sobre esse número. Na região árabe, a extrema pobreza era calculada em menos de 3%. Contudo, os confrontos na Síria e no Iêmen levaram a um aumento da taxa de pobreza na região, deixando mais pessoas sem ter o que comer e sem ter onde morar.
A fome voltou a crescer no mundo, com 821 milhões de pessoas subnutridas em 2017, segundo dados compilados pelo relatório. Em 2015, o contingente de indivíduos passando fome era estimado em 784 milhões de pessoas. Atualmente, uma em cada nove pessoas no mundo não têm comida suficiente.
A África continua sendo o continente com a mais alta prevalência de subnutrição — o problema que afeta um quinto da população africana, o equivalente a mais de 256 milhões de pessoas.
Em nível global, o investimento público na agricultura está caindo — tendência que precisa ser revertida de acordo com o secretário-geral. “Produtores de alimentos de pequena escala e agricultores familiares precisam de um apoio muito maior, e um maior investimento em infraestrutura e tecnologia para a agricultura sustentável é urgentemente necessário”, defendeu Guterres.
Os países em desenvolvimento são os mais afetados pela falta de investimento no setor. A proporção de pequenos produtores em países da África, Ásia e América Latina varia de 40% a 85%, bem acima do índice europeu, por exemplo, que fica abaixo dos 10%.
O relatório ressalta que pelo menos metade da população mundial — o equivalente a 3,5 bilhões de pessoas — não tem acesso a serviços essenciais de saúde. Em 2015, segundo a pesquisa, estima-se que 303 mil mulheres em todo o mundo morreram devido a complicações na gravidez e no parto. A maioria dessas gestantes vivia na África Subsaariana.
“Esforços coordenados são necessários para alcançar a cobertura universal de saúde, o financiamento sustentável da saúde e para enfrentar o impacto crescente das doenças não transmissíveis, inclusive (as associadas a) saúde mental”, afirmou Guterres.
A pesquisa da ONU aponta ainda que o progresso estagnou-se ou não está acontecendo rápido o suficiente para combater doenças como malária e tuberculose. Eliminar essas infecções — como ameaças de saúde pública — é uma das metas do ODS nº 3, sobre saúde e bem-estar.
Globalmente, nos últimos 12 meses, em torno de 20% de todas as mulheres com idade de 15 a 49 anos sofreram violência física ou sexual cometida pelo próprio parceiro. O índice de agressões é mais alto nos 47 países mais pobres do mundo — um grupo de nações que a ONU chama de países menos desenvolvidos.
O relatório aponta que alguns indicadores sobre igualdade de gênero estão melhorando. O levantamento lembra a queda significativa na ocorrência da mutilação genital feminina e no casamento infantil, mas ressalta que os números para essas violações de direitos continuam altos.
A pesquisa vê progresso insuficiente em questões estruturais que estão na raiz da desigualdade de gênero. Entre os problemas elencados pelo documento, estão a discriminação legal, normas e atitudes sociais injustas, o processo de tomada de decisões sobre questões sexuais e reprodutivas e os níveis baixos de participação política. Esses desafios estão minando os esforços para cumprir os objetivos da ONU.
“Simplesmente não tem nenhum jeito de alcançar os 17 ODS sem alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas”, enfatizou Guterres.
Apesar dos desafios, o relatório mostra que existem oportunidades valiosas para acelerar o progresso, alavancando as interligações entre os objetivos. Reduzir as emissões de gases do efeito estufa, por exemplo, contribui com a criação de empregos, a construção de cidades mais habitáveis e melhorias na saúde e na prosperidade para todos.
As Nações Unidas vão sediar as Cúpulas sobre o Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e sobre Ação Climática, bem como outras reuniões cruciais durante a semana de alto nível da 74ª sessão da Assembleia Geral, em setembro, para reenergizar os líderes mundiais e a comunidade global, colocar o mundo de volta nos trilhos e dar o pontapé inicial numa década de avanços para as pessoas e o planeta.
Para fazer o download do relatório completo, acesse aqui.
Os relatórios anuais oferecem um panorama dos esforços mundiais de implementação dos ODS até o momento, com destaque para áreas de progresso e para questões em que mais ações precisam ser realizadas. As publicações são preparadas pelo Departamento da ONU de Assuntos Econômicos e Sociais, com contribuições de organizações internacionais e regionais e do sistema de agências, fundos e programas das Nações Unidas. Vários estatísticos nacionais, especialistas da sociedade civil e da academia também contribuem com os relatórios.
Para mais informações, visite aqui.
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Mudanças climáticas ameaçam progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU