25 Junho 2019
Noites a céu aberto, no adro da paróquia de San Gerlando, já se passaram cinco: alguns colchões de borracha, algumas almofadas e cobertores térmicos para todos, aqueles que se tornaram o símbolo da primeira recepção para os migrantes. "Enquanto aquelas 42 pessoas estiverem obrigadas a dormir na ponte do Sea Watch, ficaremos aqui", diz Dom Carmelo, enquanto com um grupo de cidadãos do Fórum de Solidariedade Lampedusa, se prepara para passar mais uma noite nos degraus de sua igreja. Estão com ele os voluntários da Mediterranean Hope da Federação de Igrejas Evangélicas, mas também há pescadores, comerciantes, donas de casa, trabalhadores e pedreiros. E não há noite que alguns turistas não se juntem a eles. "Muitos apareceram, nos disseram que querem participar de uma iniciativa de civilidade e solidariedade", declara Dom Carmelo, que recebeu no dia anterior o apoio de Emma Bonino. "Todos nós deveríamos ir a Lampedusa para dormir com o pároco no adro da igreja, porque esta é uma vergonha para a Europa e para a Itália."
A reportagem é de Alessandra Ziniti, publicada por La Repubblica, 24-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Lampedusa, Itália. Gráfico: Wikimedia Commons
O domingo teve grande participação na paróquia. Houve a procissão de Corpus Christi com o pensamento sempre naquele navio, que já tantas vezes atracou em Lampedusa, e que há 12 dias zigzagueia na faixa das 15 milhas, fora das águas territoriais.
Dom Carmelo La Magra, 38 anos, três anos de pároco na ilha, faz questão de ressaltar que não se trata de uma manifestação de protesto, mas de solidariedade. Cujo eco chegou a bordo com um vídeo que filmou uma pequena multidão envolta em cobertores térmicos que levantava cartazes com as letras formando a frase: You are not alone.
“Para essas pessoas forçadas a suportar esse outro tormento, é importante saber que elas não estão sozinhas. Pediram isso para do convés do navio com uma faixa e nós estamos aqui", diz Dom Carmelo.
Na ilha que conferiu à Lega 45 por cento dos votos nas eleições europeias, Dom Carmelo lidera sua batalha com uma decisão cada vez maior. "Não devemos dar um peso especial ao voto das europeias, aqui a maioria dos cidadãos não foi votar porque se sente abandonada pelo Estado. Aquele Estado para o qual pedimos não só para abrir os portos, mas também os aeroportos, para colocar essas pessoas em condições de poder vir legalmente. Salvini continua a beijar o crucifixo, mas não respeita o Evangelho. Se realmente quiser lutar contra os traficantes e salvar vidas, que abra os aeroportos".
Ao lado de Dom Carmelo os jovens voluntários das Igrejas evangélicas. "Decidimos nos apresentar para dar voz àqueles que não podem falar no momento e fazemos isso na Praça da Igreja, que ao longo dos anos recebeu milhares de migrantes. Estamos aqui para defender seu direito de serem acolhidos", afirma Alberto Mallardo, da Mediterranean Hope.
Para Dom Carmelo e seus paroquianos, é a quinta noite ao ar livre, para a Sea Watch é a décima primeira. E para Carola Rackete, a comandante, são horas de tremenda tensão. Para desbloquear uma situação já bem próxima do limite do insustentável, poderia não ter outra saída senão declarar o estado de emergência a bordo e entrar primeiro nas águas italianas (um passo que também permitiria ao Ministério Público de Agrigento avaliar a situação) e depois no porto. Sabendo que, com o decreto de segurança em vigor, o confisco do navio e uma multa de até 50.000 euros seriam praticamente inevitáveis.
Até mesmo Matteo Salvini sabe perfeitamente que a permanência dos 42 migrantes a bordo do navio (entre eles, há também uma criança de 12 anos que viaja sozinha) não pode estender-se por muito mais tempo. Por esta razão, o Ministro do Interior, que não pretende permitir a entrada do navio mesmo em caso de redistribuição de migrantes em outros países) escreveu ao seu colega holandês convidando-o a tomar iniciativas urgentes: "Em caso de agravamento da situação a bordo, a responsabilidade é exclusivamente da Holanda e do comandante”.
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O pároco que dorme no adro da igreja: “Aguardo aqui o navio Sea Watch com migrantes a bordo proibido de atracar na Itália" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU