18 Junho 2019
Há pessoas que fecham os olhos para rezar, colocam os rostos entre as mãos, voltam-se para seu íntimo. A oração então se configura como um mergulho, uma imersão, semelhante à imagem oferecida pelo haiku de Matsuo Bashô:
“Silêncio/
Um sapo mergulha/
dentro de si”.
O comentário é do arcebispo, poeta e teólogo português José Tolentino Mendonça, também arquivista e bibliotecário do Vaticano, publicado por Avvenire, 15-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
A oração é uma pedra que afunda, não no lago, mas no vasto interior de si mesmo.
Outros, ao contrário, quando rezam escancaram os olhos, os mantêm bem abertos na tentativa de olhar para a vida em sua flagrante maravilha, em seu rasgo lancinante, em seu prazer vivo.
Estão certos tanto uns quanto os outros. Todas as formas de oração são insuficientes. Todas são eficazes.
A arte de rezar é a arte de ser, somente isso. O essencial é que a oração não seja um mero falar, mas um falar-se, um falar-se confiante.
Mesmo quando recorremos à oração vocal, o que realmente importa não é o verbo. Podemos nos falar de muitas maneiras, em silêncio, na imobilidade da palavra, naquela fronteira ardente que é o calar ou o ficar e nada mais.
Fundamental é a compreensão de que uma prece, por mais simples e balbuciada que seja, se inscreve no dinamismo de uma relação.
Existe um eu e existe um você. O monge Teoforo dizia, com senso de humor, que para um monge a consciência de estar diante de Deus deve ser tão forte e real quanto uma dor de dente.
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A arte de rezar. Reflexão de José Tolentino de Mendonça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU