31 Mai 2019
Há uma semana o Papa Francisco recebeu os bispos filipinos durante sua visita ad limina. Ao bispo de Kalookan, dom Virgilio David, deu um abraço especial, uma benção particular e palavras de ânimo: Coragem!
A reportagem é de Macario Ofilada, publicada por Religión Digital, 30-05-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Várias vítimas das execuções extrajudiciais feitas pelo regime de Rodrigo Roa Duterte pertenciam à diocese de David, especificamente as mortes violentas em 2017, dos pobres jovens Carl Angelo Arnáiz e Kian Lloyd de los Santos, tornando o prelado filipino, formado em Lovaina, em um dos ferrenhos críticos do presidente filipino, o que o levou a ser ameaçado de morte pelo mesmo Duterte, além de ser chamado de “filho da p*ta” pelo líder filipino em um comício antes das eleições filipinas de 13-05-2019.
Kalookan, região metropolitana de Manila.
Fonte: Wikicommons
David, vem de uma sociedade matriarcal, defendeu também publicamente a honra de sua falecida mãe. Porém não fez somente por sua mãe, mas sim por todas as mulheres as quais o dirigente filipino insultou com suas piadas e comentários sexistas e ofensivos em fóruns públicos.
Pedro, no seu sucessor Francisco, confirmou a missão de seus irmãos, sucessores dos apóstolos como ele. “Desejo que vocês saibam que eu estou consciente das suas situações; estou consciente das provas pelas quais estão passando. Rezo por vós. Por favor, continuem”. David confessou que se emocionou ao ouvir essas palavras. Palavras que também incluíam uma bênção que é uma oração, uma esperança lançada para o céu, porém ouvida na terra para que reverbere nela: “Que o Senhor conserve em vós o coração do Bom Pastor”. Em outras palavras, que sigam cheirando à ovelha.
David, com seu cumprimento do papel profético de bispo, fez seus, como pastor, os gemidos, os gritos, os soluços das ovelhas perseguidas pelos agentes do governo que têm a tarefa de protegê-las, mas se tornaram traidores para este compromisso sagrado. David, como vários pastores filipinos durante esses tempos difíceis do regime de Duterte, atesta com a sua palavra e a sua vida que Jesus está do lado dos pobres, dos indefesos, incluindo os dependentes químicos, e os que são suspeitos de o serem. E Pedro, na pessoa de seu sucessor Francisco, deu um apoio público e eclesial a esse papel e seu cumprimento.
Houve um breve intercâmbio no qual o bispo de Kalookan presenteou ao bispo de Roma a tradução espanhola de seu recente livro: O Evangelho do Amor segundo João/na (The Gospel of Love According to Juan/a. A tradução em espanhol ficou a cargo do padre argentino Salvador Curutchet, com o título El Evangelio del Amor segú Juan/a). O Papa comentou que os argentinos estavam em todas as partes como a poeira, ao que respondeu o prelado filipino: “Também nós filipinos, Santo Padre”, que provocou risadas de Francisco.
Essa mostra de solidariedade do Sucessor de Pedro não é somente para David, mas sim para a igreja, o povo de Deus que sofre e a quem o bispo representa. A pessoa e o ofício do bispo, como sucessor dos apóstolos, é quem garante a caminhada desse povo, neste caso sofredor, na história como Igreja. E o reconhecimento desse sofrimento de parte do Sucessor de Pedro converteu de uma maneira este problema de uma igreja local em um assunto, uma preocupação, da igreja universal.
Francisco não só confirmou seus irmãos bispos na fé. Confirmou também a fé e a esperança das ovelhas desses bispos. Ele confirmou que a situação do povo de Deus é a situação da Igreja fundada por Cristo em sua jornada; que as igrejas irmãs estão em solidariedade com o povo de Deus nas Filipinas, especificamente em Kalookan.
Com esse elogio, Francisco rejeita claramente o estilo de governo de Duterte para os pobres, os pequeninos das Filipinas. Francisco, de fato, abençoou a resistência cristã contra a onda de ódio e violência desencadeada pelo líder filipino contra as pessoas a quem ele deveria servir. De fato, Francisco, a quem Duterte também chamou de "filho da p*ta" em 2015 antes de vencer a eleição presidencial em 2016, está afirmando que há vozes mais proféticas, nas Filipinas e no mundo para denunciar sistemas opressivos como aquele que reina nas Filipinas, "terra dos amores, berço do heroísmo", como diz o poeta, cuja obra mais famosa se tornou a letra do seu Hino Nacional.
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Filipinas. O Papa abençoa o bispo que luta contra Rodrigo Duterte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU