20 Mai 2019
"Ao mesmo tempo em que nos oferecem brechas para agir, também pode estar em curso uma reorganização da esfera do poder constituído e, sabemos bem, não temos controle sobre isso", escreve Marcelo Castañeda, sociólogo e professor da UFRJ, em artigo publicado por Correio da Cidadania, 17-05-2019.
Os atos que tomaram as ruas de 200 cidades brasileiras no #15M foram maravilhosos, festivos, alegres e destemidos. Fiquei mais de 10 horas na rua e não tenho a pretensão de fazer uma avaliação geral, mas faço apenas algumas observações para pensar junto:
1. Uma saudação aos estudantes que, a meu ver, ficaram à frente desse processo de mobilização. Todos são importantes, mas a preparação dos atos nos últimos 15 dias teve nos estudantes um elemento catalisador para os demais vetores.
2. Foi muito além de um recorte de esquerda e isso é ótimo: com sua sanha de caçada ideológica neoliberal, Bolsonaro e seu ministro chocólatra não esperavam uma reação tão contundente e abrangente no curto prazo. E ela veio.
3. A pauta da educação mobilizou muita gente Brasil afora e engoliu a pauta da Reforma da Previdência, que não mobilizaria a mesma quantidade de pessoas. Isso explica a boa cobertura midiática, importante para reverberar os protestos, tendo em vista que a mesma mídia apoia a Reforma da Previdência e talvez comece a virar o jogo pra cima de Bolsonaro, que vem se mostrando incapaz de aprovar a reforma apresentada e esperada pelo mercado. A pauta da educação pode ser um caminho para desestabilizar o governo que mal começou.
4. Não existe vitória alguma. O jogo está sendo jogado e temos um longo caminho pela frente até podermos comemorar algo, o que não quer dizer que não devemos vibrar nem deixar de acreditar que podemos virar o jogo. Estamos vivos e atuantes. Já existem atos marcados para os dias 23 e 30, agora com foco exclusivo na pauta da educação. A mobilização precisa continuar.
5. Manifestações são importantes, mas precisamos ter em mente que seus desdobramentos são incontroláveis pelos atores que as promovem. O que podemos fazer é manter as pautas até conseguir os objetivos desejados e articular mais mobilizações. É o que está ao nosso alcance.
Por falar nisso, o que queremos? Só sustar os cortes? Queremos mais investimentos em educação, recuperando um patamar perdido? É importante termos mais clareza a respeito, pois agora temos condição para pensar nisso.
6. Por fim, no andar de cima, as peças se mexem com rapidez e ficou claro que o governo Bolsonaro enfrentou seu primeiro duro golpe em poucos meses de mandato. O apoio da mídia corporativa aos atos, as denúncias envolvendo Flávio Bolsonaro, o descolamento evidente do Congresso e a crise econômica que permanece são variáveis que começam a colocar o clã Bolsonaro em xeque, quiçá fora do comando.
Ao mesmo tempo em que nos oferecem brechas para agir, também pode estar em curso uma reorganização da esfera do poder constituído e, sabemos bem, não temos controle sobre isso. Fiquemos atentos, pois tem sempre alguém querendo surfar na onda alheia.
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O #15M trouxe esperanças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU