14 Mai 2019
As igrejas católicas alemãs ontem estavam vazias. E não tanto por causa das temperaturas amenas e de um dia ensolarado que poderia ter levado muitos fiéis a um passeio no campo, em vez de seguir as tradicionais liturgias dominicais. Em vez disso, as igrejas do país foram esvaziadas justamente por uma greve. Aquela convocada por um grande grupo de mulheres de fé católica chamado "Maria 2.0".
A reportagem é de Walter Rauhein, publicada por La Stampa, 13-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pela duração de uma semana, elas não mais colocarão o pé em nenhuma igreja, boicotarão todos os serviços religiosos e nem mesmo prestarão serviço dentro das paróquias e instituições clericais. Um sinal de protesto contra o escândalo da desigualdade entre os sexos que ainda impera nas comunidades e hierarquias do Estado pontifício e que agora levou às barricadas mulheres como Andrea Voß-Frick.
A psicóloga de 48 anos trabalha como voluntária na paróquia de Heilig Kreuz de Münster, na católica região da Alemanha Ocidental da Renânia-Westfália, e é responsável, entre outras coisas, por cursos de catequese, iniciativas para jovens e para idosos, assistência social, acolhimento de refugiados e atividades culturais de sua paróquia. "Sem nossa contribuição, a igreja deixaria de existir", explica Andrea Voß-Frick. "Mas para os bispos, cardeais e para a Conferência Episcopal é como se nós não existíssemos."
À greve das mulheres do "Maria 2.0" aderiram centenas de paróquias na Alemanha, Áustria e Suíça e as 650.000 fiéis registradas na Comunidade alemã de mulheres católicas (KfD) e na Federação das Mulheres Cristãs (KDFB). Seus pedidos vão muito além de um simples reconhecimento das atividades realizadas dentro da igreja. Em uma petição on-line enviada inclusive ao Papa, as mulheres reivindicam o direito de voto na Conferência Episcopal Alemã e a possibilidade de ter acesso a todas as funções religiosas, inclusive ao sacerdócio.
Uma verdadeira revolta rosa contra o regime patriarcal que ainda existe no hemisfério católico e que não deixou de provocar fortes reações dentro das hierarquias eclesiásticas. O influente Comitê Central dos católicos alemães até pediu a excomunhão das fiéis que assinaram a petição definindo sua greve como um "ataque aos valores da igreja". No entanto, também não faltaram mensagens de solidariedade às fiéis em greve.
O bispo de Osnabrück Franz-Josef Bode definiu como "legítimas" as reivindicações das mulheres, autorizando as missas ao ar livre organizadas por dezenas de sacerdotes renanos fora de suas igrejas para permitir que as fiéis em greve pudessem participar das liturgias.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Mulheres católicas em revolta: nada de missa, somos discriminadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU