09 Mai 2019
No dia 22 de abril, a Universidade de San Francisco (USF) anunciou que chegou a zero emissões líquidas de carbono, também conhecido como neutralidade de carbono.
A reportagem é de Jim McDermott, SJ, publicada por America, 06-05-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Como escreveu o Papa Francisco em seu desafio ao mundo intitulado ‘Laudato si: sobre o cuidado da casa comum’, cada um de nós tem a responsabilidade de participar de uma ação rápida e unida para reparar a relação da humanidade com a Terra”, afirmou Paul J. Fitzgerald, SJ, reitor da universidade. “Para a USF, isso é uma questão de justiça para os pobres, que até agora sofrem muito com a poluição e as mudanças climáticas, e uma questão de justiça para as futuras gerações que sofrerão as consequências das mudanças deletérias no nosso ambiente.”
A USF não é apenas a primeira faculdade ou universidade jesuíta a alcançar esse objetivo, mas também é uma das poucas instituições de Ensino Superior dos Estados Unidos que fez isso.
Charlie Cross, vice-reitor de Negócios e Finanças da USF, explicou que chegar a zero emissões de carbono é muito difícil, “a menos que você esteja situado em uma área remota, onde você pode queimar lascas de madeira ou construir moinhos de vento gigantes”.
Por muitas décadas, a USF vem trabalhando para diminuir sua pegada de carbono. Ainda em 1981, ela instalou aquecedores solares de água e hoje possui um dos maiores projetos de energia solar de San Francisco. Em décadas recentes, trocou as caldeiras por novas unidades com mais de 90% de eficiência e também substituiu radiadores, janelas, sistema de iluminação, de isolamento e instalações hidráulicas. A universidade não usa mais petróleo ou carvão e recentemente começou a instalar microturbinas movidas a gás com motores a jato que produzem eletricidade e depois capturam o calor gerado por esse processo para aquecer edifícios e água. Em geral, ela melhorou sua eficiência energética em mais de 40% ao longo dos últimos 30 anos – enquanto a população do campus cresceu 28% nos últimos 15 anos.
A universidade também trabalhou para criar uma cultura mais ampla de sustentabilidade. Ela não oferece estacionamento para estudantes no campus e, em vez disso, dá a cada aluno um passe de transporte público. Ela também oferece um suplemento mensal para compensar alguns dos custos de deslocamento para o corpo docente que usa o transporte público, e dirige o Backstage Bikes, através do qual estudantes, professores e empregados podem construir suas próprias bicicletas gratuitamente.
No torneio nacional Recycle Mania deste ano, os estudantes da USF ocuparam o sétimo lugar entre 159 instituições de ensino, com uma taxa de reciclagem de 66% (a Loyola Marymount University, em Los Angeles, atualmente é a primeira, com uma taxa de reciclagem de 89%).
Em 2017, a universidade comprou a Star Route Farms, que é a líder em agricultura orgânica há mais de 40 anos e vende produtos não só nos mercados orgânicos, mas também em alguns dos melhores restaurantes da Bay Area, incluindo Chez Panisse, Olivetto e Boulevard. O fornecedor de serviços alimentares da USF, Bon Appetit, comprometeu-se a comprar da Star Route – uma escolha que, segundo Cross, vice-reitor da USF, não é barata: “Isso custa provavelmente 50% mais do que eles podem comprar com os atacadistas, mas eles querem apoiar as fazendas locais. E nós argumentamos que o produto é melhor”.
A universidade tem feito todas essas coisas e muitas outras – como trazer um rebanho de cabras uma vez por ano para “podarem” os arbustos que crescem ao longo dos arredores montanhosos do campus. No entanto, enquanto Cross e outros exploravam como a universidade poderia alcançar a neutralidade de carbono, eles enfrentaram um problema aparentemente intratável: aproximadamente metade das emissões da universidade, ou 27.000 toneladas de carbono neste ano acadêmico, provém principalmente de custos de viagem inevitáveis, como os custos de deslocamento e viagens aéreas para conferências.
A solução foi explorar compensações de carbono – investimentos em projetos que reduzem os gases de efeito estufa em outros lugares. A universidade fez uma parceria com a empresa local 3Degrees, que gerencia um portfólio de projetos de redução de gases de efeito estufa em todo o mundo, como a captura e o reaproveitamento de gás de aterro ou de metano de fazendas, projetos de reflorestamento e “créditos de fogão”, em que “você essencialmente fornece um novo método de cozinhar para uma família”, em oposição à queima de madeira, explicou Stephanie Harris, da equipe de Mercados de Carbono da 3Degrees.
Trabalhando com a USF, “perguntamos a eles quais as suas preferências [em termos de] tipos de projetos, região ou geografia”, explicou Harris. Ellen Ryder, vice-reitora de Comunicação e Marketing da universidade, disse: “Poder identificar um corretor que pudesse trabalhar conosco para identificar projetos que fizessem sentido com a nossa missão e com os valores dos jesuítas foi realmente importante”.
Muitos dos programas que a 3Degrees apoia oferecem benefícios para além da redução de carbono. Por exemplo, captura de gás de aterro tem “benefícios na qualidade da água”, explicou Harris, “porque você não tem gases ou outros materiais vazando para dentro do suprimento local de água”. Os “créditos de fogão” também podem significar uma “qualidade do ar melhorada – nada de partículas da queima de madeira dentro de casa – e o empoderamento das mulheres, porque você está liberando tempo para as mulheres e as crianças, que não precisam mais coletar lenha”.
Todos os projetos com os quais a 3Degrees trabalha são verificados por terceiros, geralmente engenheiros e normalmente a cada ano, e certificados por registros nacionais ou internacionais. “É um processo restrito e rigoroso pelos quais esses projetos passam para confirmar que as reduções de emissões são reais, permanentes e irreversíveis”, explicou Harris. E comprar compensações de carbono significa pagar pelo trabalho que já foi feito e verificado. “Eu não estou vendendo algo para a USF que ainda não tenha acontecido”, disse Harris.
Quando a USF começou a buscar as compensações, Cross estava cético. “Eu achava que o preço seria exorbitante, não atingível.” Mas ficou satisfeito ao descobrir que o preço era bastante administrável, algo entre 1,50 a 20 dólares a tonelada. “Podemos combinar diferentes opções de projetos que tenham um impacto semelhante de modos diferentes para reduzir o custo para os clientes’, explicou Harris. “E, se um cliente me procura e quer comprar 10 compensações de carbono, o custo será [proporcionalmente] maior do que se ele quiser comprar 10 mil. Existem economias de escala. Somos uma organização com fins lucrativos.”
Cross vê oportunidades no programa de compensação de carbono para a comunidade estudantil. “Eu quero fornecer um mecanismo para envolver os alunos [na escolha de projetos]”, explicou.
O slogan atual da universidade é “Mude o mundo a partir daqui”. Por meio de seus muitos esforços voltados às práticas e à cultura da sustentabilidade, ela parece estar preparada para mudar aquilo que outras escolas e instituições jesuítas consideram possível.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Como a Universidade de San Francisco se tornou a primeira universidade jesuíta a ser neutra em carbono - Instituto Humanitas Unisinos - IHU