07 Mai 2019
"Que a paz se espalhe por toda a terra", especialmente "naqueles lugares onde tantas vozes foram silenciadas pela guerra, sufocadas pela indiferença e ignoradas pela esmagadora cumplicidade de grupos de interesse". Francisco rezou em Sófia pela paz na Bulgária, na Europa, no mundo; enquanto isso, apesar da chuva torrencial e do vento forte, continuou a arder o círio aceso por uma das crianças ortodoxas no palco da Praça Nezavisimost. É ali que o encontro inter-religioso para a paz aconteceu com representantes das várias confissões religiosas presentes no país: ortodoxos, judeus, protestantes, armênios, muçulmanos e católicos. Foi o último ato da visita do Pontífice ao país da Europa Oriental, depois da etapa de Rakovsky e antes da viagem da terça-feira pela manhã para Skopje, na Macedônia do Norte.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr, publicada por Vatican Insider, 06-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa ficou no centro do palco cinza e verde, onde há uma imensa oliveira como sinal de paz e muitas rosas, símbolo da Bulgária. Ao seu lado estavam cinco líderes religiosos, entre os quais Sofiya Alfred Koenova, presidente da comunidade judaica; o bispo armênio Datev Hagopian; o pastor Rumen Bordjiev e o Grão-mufti Mustafa Hadzhi. Nenhum prelado ortodoxo estava presente: a presença do Metropolita Antônio foi anunciada, mas no encontro na praça da capital búlgara a fé ortodoxa só foi representada por Emil Velinov, leigo, diretor de assuntos religiosos do governo.
Aos pés do Papa, seis crianças estavam acomodadas, cada uma representando as diferentes religiões, e durante o encontro, uma de cada vez, acenderam uma vela. No parterre, sob os guarda-chuvas e envoltos em capas amarelas transparentes, os imãs compartilhavam o lugar com os cardeais, os rabinos com os bispos ortodoxos, os pastores protestantes com os monges armênios.
Todos ouviram as músicas típicas cantadas pelos coros de crianças e acompanharam no livreto as orações faladas em diferentes idiomas. Em uníssono, recitaram a oração pela paz atribuída a São Francisco de Assis. O Papa a pronunciou, com um fio de voz, protegendo-se do forte vento que fez com que sua mozeta branca voasse várias vezes: "Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz: onde há o ódio, que eu leve o amor...".
Nas pegadas de São Francisco "cada um de nós é chamado a ser construtor, um ‘artesão’ da paz", começou o Papa em sua saudação em italiano. "Paz que devemos implorar e pela qual devemos trabalhar, dom e tarefa, presente e esforço constante e cotidiano para construir uma cultura na qual até a paz seja um direito fundamental. Paz ativa e ‘fortalecida’ contra todas as formas de egoísmo e indiferença que nos fazem colocar os interesses mesquinhos de alguns antes da dignidade inviolável de cada pessoa".
“A paz exige e pede que façamos do diálogo um caminho, da colaboração comum a nossa conduta, do conhecimento recíproco o método e o critério para nos encontrarmos naquilo que nos une, nos respeitarmos naquilo que nos separa e nos encorajarmos a olhar o futuro como espaço de oportunidades e de dignidade, especialmente para as gerações vindouras”, afirmou o Bispo de Roma.
E olhou para as velas carregadas pelas crianças que, ele explicou "simbolizam o fogo do amor que está aceso em nós e que deve se tornar um farol de misericórdia, de amor e de paz nos ambientes em que vivemos". Um farol que gostaríamos que iluminasse o mundo inteiro". "Com o fogo do amor queremos derreter o gelo das guerras", disse o Papa. Também lembrou que todo o evento estava se realizando nas ruínas da antiga Serdika, em Sófia, coração da Bulgária, no qual se podem observar os lugares de culto de várias igrejas e confissões religiosas: Santa Nedelia dos ortodoxos, São José dos católicos, a sinagoga dos "nossos irmãos mais velhos" os judeus, a mesquita dos "irmãos" muçulmanos e, logo ao lado, a igreja dos armênios.
Uma escolha não casual. “Neste lugar, durante séculos, os búlgaros de Sofia convergiam, pertencentes a vários grupos culturais e religiosos, para se encontrarem e discutirem. Que este lugar simbólico possa representar um testemunho de paz", rezou Francisco.
Depois ele lançou seu apelo: "Que a paz se espalhe por toda a terra!" "Neste momento, as nossas vozes se fundem e em uníssono expressam o ardente desejo de paz ...Nas nossas famílias, em cada um de nós, e especialmente naqueles lugares onde tantas vozes foram silenciadas pela guerra, sufocadas pela indiferença e ignorado pela cumplicidade esmagadora de grupos de interesse. Que todos cooperem para a realização desta aspiração: os expoentes das religiões, da política e da cultura".
Este foi "o sonho" de São João XXIII, o Papa que durante décadas foi delegado apostólico em Sofia, padroeiro desta vigésima nona viagem apostólica de Francisco. O sonho de "uma terra onde a paz seja de casa". "Adotemos seu desejo - conclui Bergoglio - e com a nossa vida digamos: Pacem in terris! Paz na terra, a todos os homens amados pelo Senhor”.
Todos os presentes trocaram entre si o sinal de paz, ao som do canto solene do Alleluja. Então o Papa se despediu da praça e retornou em um carro branco fechado para a Nunciatura Apostólica de Sofia, sua hospedagem nos dois dias de viagem. Lá, foi recebido por um grupo de fiéis que o esperaram durante várias horas sob guarda-chuvas. Antes de se retirar, ele cumprimentou a equipe e os benfeitores que o ajudaram durante sua estada.
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O Papa: "Paz em lugares onde tantas vozes são sufocadas pela guerra" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU