02 Mai 2019
Para a atmosfera tranquila do Vaticano a decisão tomada pelo Prefeito da Secretaria da Comunicações com o aval do Papa Francisco é um choque e ameaça causar um terremoto, não tanto pelo objeto da providência em si, uma mudança banal de uma estrutura de um prédio para outro, mas por seu significado simbólico. Após 160 anos, o Osservatore Romano é transferido do edifício do século XIX localizado a poucos passos do IOR e da Farmácia, para o lado de fora das Muralhas Leoninas. Além das fronteiras do estado. A nova sede a partir do próximo ano está localizada no início da Via della Conciliazione, no segundo andar da Rádio Vaticana. Mesmo que se trate de uma sede extraterritorial, continua sendo uma mudança muito emblemática. Tanto que alguns antigos cardeais lembravam ontem que aquele pequeno jornal - graças à sua localização dentro do Estado Papal - durante o fascismo pôde exercer uma informação totalmente livre, criticando as leis antijudaicas, fazendo Guido Gonella escrever os seus famosos Acta Diurna com os quais fornecia um panorama completo da situação internacional, algo que não era permitido aos jornais italianos por causa da censura. Várias vezes os hierarcas pediram a Mussolini que suprimisse o jornal do Vaticano, do qual prontamente ordenava a apreensão das cópias. De Gasperi também escreveu sob um pseudônimo.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 01-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas aqueles eram outros tempos e apesar do descontentamento que a decisão semeou na cúria, a mudança será concretizada em breve, após a reestruturação do atual Palazzo Pio, que foi possível graças a uma generosa doação. Ontem de manhã, o prefeito Paolo Ruffini informou sobre as novidades planejadas. As redações em outras línguas do jornal (alemão, polonês, espanhol, francês) serão colocadas ao lado das redações linguísticas da rádio Vaticana, a fim de criar uma espécie de hub. Naquele prédio, toda a mídia se concentrará para criar sinergia. Assim, se realiza a reforma concebida há quatro anos pelo monsenhor Dario Edoardo Viganò, embora mais tarde tenha sido congelada porque na Secretaria de Estado havia certa oposição. Hoje, o projeto original decolou novamente. Nasceu para conter os enormes custos da mídia vaticana, especialmente a Rádio Vaticana, que com mais de 460 funcionários, 4 anos atrás, somava um orçamento de 35 milhões de euros, que hoje subiram para 37. A circulação do Osservatore Romano é de cerca de 3 mil cópias e seriam necessárias cerca de 20 mil para equilibrar os custos. Atualmente, tem cerca de 50 funcionários, entre pessoal administrativo e editores.
A outra novidade anunciada pelo prefeito Ruffini é o futuro de Donne Chiesa Mondo, o suplemento mensal que por sete anos aprofundou temáticas sobre a questão feminina no mundo religioso, chegando a revelar o escândalo dos abusos de freiras, um assunto tabu bem conhecido no Vaticano, mas mantido sob censura por anos. A ex-diretora Lucetta Scaraffia saiu batendo a porta no mês passado, denunciando a falta de condições de trabalho antes garantidas, de total liberdade e sem condicionamentos de qualquer tipo. A partir do mês que vem, o suplemento voltará a ser publicado, mas com uma equipe completamente nova e na qual não aparece nem mesmo uma freira na redação. O suplemento será coordenado pela jornalista Rita Pinci, da TV2000, onde trabalhou em parceria com Ruffini. No Vaticano, algum monsenhor rindo lembrava do lema do Osservatore, “non praevalebunt. Eles não prevalecerão. A partir de hoje, em vez disso, será paevalerunt, tiveram a melhor”.
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Revolução no Vaticano, depois de 160 anos o Osservatore Romano sai das fronteiras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU