L'Osservatore Romano e o caderno feminino: uma página virada no Vaticano sobre as mulheres

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

04 Mai 2016

"Muitas vezes, ainda ficamos no último banco. E de lá observamos a vida da Igreja, sem que a nossa contribuição seja valorizada até o fim. Porém, alguma coisa está mudando. E o fato de que, hoje, para apresentar o novo caderno mensal, está presente o secretário de Estado vaticano, Pietro Parolin, é um sinal, além de bonito, também auspicioso."

A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 03-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Lucetta Scaraffia, coordenadora há quatro anos de Donne Chiesa Mondo [Mulheres Igreja Mundo], o caderno feminino do L'Osservatore Romano com um redação totalmente no feminino, explica assim a novidade dessa terça-feira: não só uma nova veste gráfica para a revista, mas também uma potencialização de páginas notáveis, de quatro para 40, todas coloridas.

Trata-se de uma tentativa única, na história recente do Vaticano, de levar as mulheres "embora dos últimos bancos" na direção daquela plena valorização que o Concílio Vaticano II já tinha desejado: "Chega a hora, a hora chegou, em que a vocação da mulher se completa em plenitude, a hora em que a mulher adquire na sociedade uma influência, uma irradiação, um poder jamais alcançado até agora", escreveu Paulo VI ao fechar o Concílio em uma mensagem dirigida justamente às mulheres.

Dall'ultimo banco [Do último banco] também é o título de um livro de Scaraffia, publicada pela editora Marsilio, no qual a historiadora italiana fala da sua presença no recente Sínodo dos bispos: "A partir das últimas filas – diz – pude escutar e também dizer a minha opinião, embora eu considere que a Igreja possa fazer muito mais para considerar e valorizar a nós, mulheres".

Em todo o caso, em um momento em que, na Itália, muitas das mais prestigiadas revistas católicas fecham, é uma notícia o fato de que o Vaticano se comprometa com um projeto como esse. Não é tanto uma questão de papéis, ou seja, de mais "cotas rosas" dentro da Cúria, mas sim de profecia: "A Igreja – disse Francisco – também precisa de ponto de vista das mulheres, para que o Espírito possa criar. Uma Igreja sem as mulheres, de fato, é como o colégio apostólico sem Maria".

Quem tinha entendido isso, antes de Francisco, foi Bento XVI. Foi com ele que o L'Osservatore abriu o caderno feminino, depois que, ainda em 2007, na carta a Gian Maria Vian por ocasião da sua nomeação como diretor, o Papa Ratzinger recordou como no DNA do jornal está "a comunhão de todas as Igrejas locais e o seu enraizamento nas diversas situações, em um contexto de sincera amizade pelas mulheres e pelos homens do nosso tempo".

No novo caderno mensal, aos habituais aprofundamentos sobre as principais questões ligadas com o papel das mulheres na Igreja, acrescentam-se duas colunas, editadas pelas irmãs do mosteiro de Bose: uma sobre a arte conjugada com a sensibilidade e a expressividade feminina, e uma sobre a Bíblia.

A renovação, portanto, não é apenas de forma, mas também de substância, para responder à necessidade cada vez mais sentida por muitas mulheres, não só católicas, de compartilhar, refletir e fazer com que a própria voz seja ouvida.

"Mulheres que trazem à luz, ao conhecimento do mundo o que outras mulheres têm a dizer ou que, no passado, disseram e escreveram, fazem ou fizeram", escreveu ainda Scaraffia no editorial do novo número.

A redação do caderno é totalmente feminina, inter-religiosa e internacional: além de Scaraffia, estão Giulia Galeotti, Catherine Aubin, Anna Foa, Rita Mboshu Kongo e Silvina Pérez.

Entre as outras assinaturas, entre homens e mulheres, católicos e laicos, estão as de Sylvie Barnay, Enzo Bianchi, Daria Bignardi, Sara Butler, Oddone Camerana, Liliana Cavani, Cristiana Dobner, Isabella Ducrot, Paul-André Durocher, Maurizio Gronchi, Barbara Hallensleben, Melania Mazzucco, Luisa Muraro, Elisabetta Rasy, GianPaolo Salvini, PierAngelo Sequeri, Mariapia Veladiano e Maria Voce.