26 Abril 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,19-31 que corresponde ao Segundo Domingo de Ressurreição ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O homem moderno aprendeu a duvidar. É típico do espírito do nosso tempo questionar tudo para progredir no conhecimento científico. Neste clima, a fé fica frequentemente desacreditada. O ser humano vai caminhando pela vida cheio de incertezas e dúvidas.
Por isso, nos sintonizamos sem dificuldade com a reação de Tomé, quando os outros discípulos lhe comunicam que, estando ele ausente, tiveram uma experiência surpreendente: «Vimos o Senhor». Tomé poderia ser um homem dos nossos dias. A sua resposta é clara: «Se eu não O vejo... não acredito».
A sua atitude é compreensível. Tomé não diz que os seus companheiros estão mentindo ou que estão enganados. Apenas afirma que os seus testemunhos não são suficientes para aderir à sua fé. Ele necessita viver a sua própria experiência. E Jesus não o censura em nenhum momento.
Tomé pode expressar as suas dúvidas dentro do grupo de discípulos. Aparentemente eles não ficaram chocados. Não o expulsaram do grupo. Também eles não acreditaram nas mulheres quando lhes anunciaram que viram Jesus ressuscitado. O episódio de Tomé sugere o longo caminho que o pequeno grupo de discípulos teve de percorrer até a fé em Cristo ressuscitado.
As comunidades cristãs deveriam ser nos nossos dias um espaço de diálogo no qual poderíamos honestamente partilhar as dúvidas, as interrogações e as buscas dos crentes de hoje. Nem todos vivemos no nosso interior a mesma experiência. Para crescer na fé, necessitamos do estímulo e do diálogo com os outros que compartilham da mesma preocupação.
Mas nada pode substituir a experiência de um contato pessoal com Cristo nas profundezas de sua consciência. Segundo o relato Evangélico, Jesus apresenta-se novamente após oito dias. Mostra-lhes as suas feridas.
Não são «provas» da ressurreição, mas «sinais» de seu amor e da entrega até a morte. Por isso, convida-o a aprofundar as suas dúvidas com confiança: «Não sejas incrédulo, mas um crente». Tomé renuncia a verificar o que seja. Já não sente necessidade de provas. Só sabe que Jesus o ama e o convida a confiar: «Senhor meu e Deus meu».
Um dia, nós os cristãos descobriremos que muitas das nossas dúvidas, vividas de forma sã, sem perder o contato com Jesus e a comunidade, nos pode resgatar de uma fé superficial que se contenta em repetir fórmulas e estimular-nos a crescer em amor e confiança em Jesus, esse Mistério de Deus que constitui o núcleo da nossa fé.
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Da dúvida à fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU