22 Abril 2019
Uma epidemia de ansiedade causaria estragos em países com alta desigualdade de renda. Por "ansiedade" se deve entender a timidez, a fobia social e o uso de drogas e álcool para suportar esses males. É isso que o epidemiologista britânico Richard Wilkinson e sua colega Kate Pickett argumentam em seu trabalho Pour vivre heureux, vivons égaux! (Para viver feliz, vivamos iguais!), um livro que compila muitos estudos. Os realizados pelos próprios autores confirmam uma correlação entre o aumento dos transtornos mentais e as desigualdades materiais. Os cidadãos mais pobres são os mais afetados, mas os mais ricos, embarcados em uma competição social extenuante, não se livram do mal-estar.
Nós nos reunimos com Richard Wilkinson por ocasião da publicação da tradução francesa do seu livro. Constata uma verdade desoladora: sociedades desenvolvidas e prósperas não garantem o bem-estar individual e coletivo. A depressão reina. Manifesta-se não pelo desânimo, mas pelo estresse, pela perda da autoestima e pela ansiedade de não estar à altura daqueles que ascendem ao topo da hierarquia social.
A entrevista é de Virginie Bloch-Lainé, publicada por Rebelión, 16-04-2019. A tradução é do Cepat.
Você acha que houve menos angústia há um século?
Ela era muito mais fraca. A mobilidade geográfica era menor, as pessoas passavam a vida toda em sua cidade natal, cercadas por pessoas que conheciam desde a infância. Hoje nos encontramos com novas pessoas o tempo todo e nos preocupamos com a forma como nos julgam, especialmente através da nossa aparência.
Nós nos avaliamos pelos critérios do nosso status social. Os movimentos mais frequentes são acompanhados por uma ruptura do vínculo social. Quando um país enriquece, a mobilidade aumenta, e diminuem a ajuda mútua e a autoestima, que a acompanha.
Em sua visão como epidemiologista, como se manifesta o vínculo entre a ansiedade e o desenvolvimento das desigualdades?
Quanto mais desigual é a sociedade, mais visíveis são as posições sociais de cada um e o sentimento de estar sempre dominado por aqueles que são mais ricos do que a si mesmo. Isso se aplica a todos os níveis da pirâmide social. Estudos mostram que as dificuldades emocionais têm aumentado dramaticamente nos Estados Unidos e no Reino Unido nos últimos trinta anos.
A média de crianças estadunidenses da década de 1980 que se mostraram ansiosas foi maior do que aquelas que receberam tratamento para transtornos psiquiátricos na década de 1950. Depressão e ansiedade se generalizaram, assim como o alcoolismo e o vício em drogas. E o nível de renda determina a prevalência de transtornos mentais: os que estão na parte inferior da escala estão significativamente mais expostos. Um estudo britânico de 2007 mostrou que isso ainda é mais verdadeiro para os homens.
Mas se essas taxas aumentam, não se deve à crescente medicalização e ao crescente assédio do mal-estar?
Esse é o argumento de um psiquiatra que se opôs a nós, em 2010, após a publicação de um estudo sobre a correlação entre as desigualdades de renda e a doença mental. Demonstramos que uma pessoa em cada dez sofreu de doença mental no Japão ou na Alemanha, uma em cada cinco na Austrália ou no Reino Unido, uma em cada quatro nos Estados Unidos, um país muito desigual. Todos os dados utilizados são da OMS. Uma pesquisa realizada em 2017 confirmou a maior proporção de doenças mentais em países com fortes desigualdades.
Por que qualifica de ilusória a meritocracia?
A chamada meritocracia sugere que aqueles que não ascendem à escala social são incompetentes, que sua estagnação é explicada por seu baixo valor pessoal. A sociedade seria uma pirâmide cujos andares inferiores abrigariam os menos talentosos. Ignora os talentos que um indivíduo desenvolve precisamente de acordo com sua posição social, ignorando também o dano cognitivo sofrido pelas crianças que vivem na miséria. Vários estudos mostram como a pobreza ataca o desenvolvimento pessoal através do estresse e da falta de estimulação mental.
Pode a educação promover a confiança em si mesmo, independentemente do ambiente social?
A educação e a primeira infância explicam a lacuna de vulnerabilidade. Mas, as estruturas sociais são mais fortes. Mesmo aqueles que confiam em si mesmos, graças à maneira como foram educados, podem, uma vez adultos, ser aprisionados por desigualdades estruturais.
O que você propõe?
O estabelecimento de uma nova sociedade, cujo objetivo será a igualdade. Isso começa com a regulamentação das empresas: recompensando as empresas com poucas diferenças salariais, como foi feito na Califórnia. Favorecer empresas cujo capital pertença aos empregados. A reforma do mundo do trabalho não é o alfa e o ômega da redução das desigualdades, mas é um pré-requisito necessário.
Uma sociedade mais igualitária também seria menos onerosa: diminuiria os gastos com as prisões e com a saúde física e mental. Estamos enfrentando um problema de saúde pública e a saúde pública sempre foi uma questão política.
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"A desigualdade é um problema de saúde pública". Entrevista com Richard Wilkinson - Instituto Humanitas Unisinos - IHU