23 Março 2019
Ela baniu as armas semiautomáticas, prometeu erradicar todas as formas de supremacia, encara o sultão Erdogan e desafia os editores das plataformas sociais. Trata-se de Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia, que conquistou o cenário global pela firme resposta ao massacre de Christchurch, onde pelo menos 50 fiéis muçulmanos morreram pelas mãos do suprematista Trenton Barrant.
A reportagem é de Francesco Semprini, publicada por La Stampa, 22-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nascida em 1980, Ardern é uma trabalhista com fortes influências social-democratas e progressistas, e um passado na “corte” do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, do qual foi conselheira. Ela está à frente do país desde 26 de outubro de 2017, enquanto, desde 1º de agosto do mesmo ano, é a líder do Partido Trabalhista da Nova Zelândia.
A política está no seu DNA, tanto que, depois de se formar em 2001, ela trabalhou, primeiro, no gabinete da ex-primeira-ministra Helen Clark, depois no de Blair e, em 2008, tornou-se presidente da Internacional dos jovens socialistas, entrando no mesmo ano no Parlamento de Wellington, onde foi confirmada por mais três mandatos.
Em 2017, ela se tornou líder da oposição antes de assumir o papel de primeira-ministra de um governo de coalizão entre os trabalhistas e o partido nacionalista e populista “New Zealand First”, apoiado no exterior pelos Verdes. Para ela, progressista de alma, é realmente um resultado importante catalisar o consenso de grupos tão diversos.
A prova dos fatos veio uma semana atrás, com o massacre de Christchurch, de matriz islamofóbica e xenofóbica. Primeiro, ela ordenou uma investigação para entender se houve alguma falha de inteligência ou se os planos do assassino australiano podiam ter sido freados. Depois, convidou a população a não pronunciar o nome do criminoso, mas sim o das 50 vítimas mortas nas duas mesquitas da cidade.
“Ao repetir o nome desse assassino – disse – vocês lhe darão a notoriedade que ele busca e que, ao contrário, devemos lhe negar absolutamente. Lembrem-se, em vez disso, do nome das pessoas mortas.”
O seu governo não hesita em bater de frente com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, réu por ter mostrado fragmentos do vídeo do atentado durante um comício eleitoral, defendendo que queria, assim, denunciar a islamofobia. Então, Ardern dirigiu um apelo aos editores das mídias sociais para evitar a repetição do que aconteceu na sexta-feira passada, com o vídeo de 17 minutos do assassino no Facebook e a publicação no Twitter do seu manifesto suprematista.
“Vocês são editores, não carteiros”, afirmou. “Não pode ser apenas uma questão de lucros e de responsabilidade zero.” Em seguida, lançou a luta global para “erradicar” a ideologia racista dos grupos supremacistas. Por fim, vetou, com efeito imediato, a venda de armas de fogo e “fuzis semiautomáticos facilmente adquiridos online”.
Um tapa na cara dos Estados Unidos – comentam os observadores –, primeira democracia do planeta onde a venda de certas armas nem sequer teme as reiteradas “Christchurchs” que semeiam morte nos quatro cantos do país.
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Primeira-ministra da Nova Zelândia desafia Erdogan e proíbe armas de fogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU