19 Março 2019
O sequestro teve repercussão internacional. Junto ao religioso, outras 12 pessoas foram feitas reféns
A reportagem é publicada por O Povo, 15-03-2019.
Ainda era manhã do dia 15 de março de 1994, quando 13 pessoas foram feitas reféns por detentos do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), durante rebelião. Dentre elas, dom Aloísio Lorscheider, então arcebispo de Fortaleza. A visita havia sido marcada pelo próprio cardeal, para vistoriar as condições da unidade. Os presos estavam insatisfeitos com as instalações e a superlotação da unidade.
Na vistoria, a peregrinação pelas celas, que havia se iniciado às 9 horas, já havia chegado ao fim. Pouco mais de 10h, no fundo do auditório, uma movimentação chamou a atenção dos presentes. O detento Antônio Carlos de Souza Barbosa, o Carioca, imobilizava dom Aloísio com uma faca no pescoço.
Um policial reagiu e houve troca de tiros. Dois detentos morreram e um soldado ficou ferido.
“Aquela cena (dom Aloísio imobilizado) ficou congelada na minha memória”, lembrou o então deputado estadual Mário Mamede, um dos reféns da rebelião, cinco anos atrás, no aniversário de 20 anos do caso, que ganhou repercussão internacional.
Já perto da meia noite, depois de 13 horas de negociações, os detentos tiveram alguns pedidos atendidos e fugiram com os reféns em um carro-forte para o sítio de um dos presos fugitivos, o “Fazendeiro”, em Ibaretama.
Lá, lembra Mário, a família serviu água aos reféns. A dom Aloísio, foi ofertado um copo de leite. E um pedido de desculpas. “Existia uma preocupação visível com ele”, comenta o ex-deputado.
Alguns reféns já haviam sido liberados no meio do caminho. Outros, apenas às 6 horas da manhã. Dom Aloísio fez questão de ser o último e passou 20 horas em poder dos criminosos.
“Vivemos uma pequena epopeia. Sofremos um pouco, mas eles nos trataram bem. Eu rezarei por eles”, disse o cardeal no dia seguinte, já livre, à rádio AM do Povo. Depois, ele declararia o perdão aos 14 algozes.
"Emparelhados como sardinhas em lata". Era essa a impressão que teve o vereador Severino Pires, quando estava com sua esposa, a farmacêutica Rejane Gomes de Holanda, juntamente com todas as outras 24 pessoas (11 reféns e 13 sequestradores) dentro do carro-forte. "Tivemos momentos muito angustiantes, porque não sabíamos quais eram as negociações que estavam ocorrendo entre os presos e as autoridades", declarou o político ao O POVO, em 1994.
Duas semanas após o sequestro, o cardeal voltou ao IPPS. Era quinta-feira de Páscoa. Dom Aloísio visitou Carioca em sua cela, eles conversaram por dez minutos e rezaram.
No ano seguinte ao sequestro, o cardeal, com problemas cardíacos, solicitou ao papa João Paulo II sua transferência para uma diocese menor. Foi atendido e transferido de Fortaleza para a Arquidiocese de Aparecida, tomando posse no dia 18 de agosto do mesmo ano. Em 2000, com 76 anos, anunciou sua renúncia. Morreu aos 83 anos, em 2007, em Porto Alegre, vítima de falência múltipla de órgãos.
Carioca foi liberado do sistema prisional do Estado no fim de 2018, após cumprir o tempo máximo de 30 anos de cadeia, conforme a legislação penal brasileira. A pena passava dos 100 anos em diversas sentenças por assaltos, homicídios e sequestros - conforme processos registrados em comarcas do Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro.
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Sequestro de dom Aloísio Lorscheider completa 25 anos; relembre o caso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU