18 Março 2019
"As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Poderemos deixar para as próximas gerações demasiadas ruínas, desertos e lixos. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida atual (...) só pode desembocar em catástrofes". (Da Encíclica Laudato Sì’ do Papa Francisco - parágrafo 161- 24 de maio de 2015).
Alarmistas, catastrofistas, milenaristas. Quantas já tiveram que ouvir, ao longo dos anos, os Verdes, os ecologistas, os ambientalistas. E, com eles, todos aqueles - cientistas, jornalistas, voluntários e cidadãos comuns - que se mobilizaram para combater o efeito estufa, a poluição do planeta e o aquecimento global. Em defesa do meio ambiente, da natureza, da saúde coletiva e da própria sobrevivência do gênero humano.
O comentário é de Giovanni Valentini, jornalista e escritor italiano, foi diretor da revista L'Espresso e vice-diretor do jornal La Repubblica, publicado por Il Fatto Quotidiano, 16-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
A favor do desenvolvimento sustentável, contra a mudança climática. E aí chegou uma adolescente de 16 anos, Greta Thunberg, sueca, com tranças e olhar fixo, e de repente se tornou a paladina mundial do ambientalismo, a heroína do clima, a pequena Joana d'Arc em guerra contra os Poderosos do mundo. A ponto de merecer uma indicação para o Prêmio Nobel da Paz.
Um fenômeno midiático em escala planetária que cativou todo o sistema de comunicação. Brandindo a arma do "pânico", para defender a si mesma, a sua geração e o futuro da humanidade, Greta lançou o desafio aos poderosos da Terra, das instituições europeias àquelas internacionais, proclamando a greve global dos estudantes que ocorreu no último sábado em 2.052 cidades em 123 países: milhões de jovens que não foram à escola para se manifestarem pacificamente em nome da proteção ambiental.
Que 1968, que nada! Aqui estamos diante do maior conflito geracional da história, entre adultos que consumiram recursos naturais irreproduzíveis e os jovens, os nossos filhos ou netos, que reivindicam legitimamente uma virada, uma inversão de tendência, um modelo alternativo de desenvolvimento econômico e social.
Nesse ponto, o "desafio dos adolescentes" não pode mais ser evitado. Greta já se tornou um símbolo, um ícone, um emblema. E pouco importa, afinal de contas, que ela tenha ou não tenha algum mentor ou orientador às suas costas. Mas, se formos atribuir a ela o Prêmio Nobel da Paz, que outro reconhecimento deveria ser dado a Bergoglio por sua encíclica Laudato Sì’ de 2015, a primeira sobre o meio ambiente promulgada por um pontífice?
O título da pastoral é inspirado no Cântico das Criaturas de São Francisco e resume toda a cultura católica sobre a relação entre Deus e os homens e entre eles e o meio ambiente, aquele que o Papa chama de "casa comum".
A encíclica vale para todos, crentes e não crentes, independente da fé e da religião. E nos exorta, como lemos no texto, a uma "conversão ecológica global" com o objetivo de reduzir a "desigualdade planetária".
Na sociedade de comunicação de massa, afeita ao contágio viral, pode até ser possível que agora Greta tenha mais sucesso e produza mais efeitos do que a encíclica de Francisco. Os caminhos do Senhor, como costuma-se dizer, são infinitos. Mas não há dúvida de que essa encíclica já iniciou uma mudança de mentalidade e de visão, influenciando provavelmente a sensibilidade das gerações mais jovens. São eles que devem pegar nas mãos o futuro do planeta, de modo a restaurar - na medida do possível - o equilíbrio ambiental, regenerar o patrimônio dos recursos naturais e melhorar a qualidade de vida.
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As tranças de Greta e a encíclica do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU