24 Janeiro 2019
O Papa Bergoglio volta a atravessar o Oceano Atlântico, como na sua primeira viagem internacional ao Brasil, em 2013, novamente para uma Jornada Mundial da Juventude. No avião que o leva ao Panamá, como de costume, ele dedicou um momento para a saudação aos jornalistas da comitiva. Desta vez, no entanto, há um véu de tristeza e de comoção no seu rosto, porque “é o primeiro voo sem Alexei Bukalov”, um colega jornalista falecido recentemente e “de quem eu gostava muito”, confidenciou Francisco.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada em Vatican Insider, 23-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O pontífice, dialogando por alguns instantes com um jornalista, afirmou que os muros antimigrantes são uma consequência do medo que deixa as pessoas loucas. E anunciou que irá ao Japão em novembro, enquanto não é possível ir ao Iraque neste momento por razões de segurança.
O papa começou descrevendo Bukalov como “um homem de grande humanismo”. Era capaz de “fazer as sínteses com um estilo dostoievskiano. Vai nos fazer falta”, suspirou o papa, que depois rezou e convidou a rezar pelo jornalista.
O bispo de Roma agradeceu antecipadamente aos jornalistas “pelo trabalho que vocês farão”. Depois, encontrou-se um por um por alguns momentos, entre conversas privadas, brincadeiras e piadas. E também coisas sérias, algumas declarações, anúncios e comentários.
“Vou ao Japão em novembro, prepare-se.” Foi assim que Francisco respondeu a um repórter japonês que lhe perguntou se ele tinha uma viagem ao seu país na agenda.
“Eu gostaria de ir ao Iraque”, mas são os bispos locais que afirmam que neste momento não é seguro. Depois, brincou, acrescentando que talvez lhe digam porque eles não chegam a um acordo entre si: “Por isso eu mandei o secretário de Estado”. Francisco enfatizou que está monitorando a situação porque “eu gostaria de ir”.
Marco Clementi, enviado do Tg1, contou-lhe: “Santo Padre, eu fui a Tijuana, na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Lá, o muro que estão construindo entra no mar, para que não consigam passar nem a nado”. O papa respondeu: “É o medo que enlouquece”. E acrescentou: “São os muros do medo, como escreve o L’Osservatore Romano no editorial de [Andrea] Monda, que deve ser lido”.
Uma jornalista espanhola deu ao papa uma charge de Makkox, que relata a tragédia do menino do Mali, talvez de 10 anos, afogado no grande naufrágio de 2015. Ele sonhava com uma vida melhor e, quando seu corpo sem vida foi encontrado, ele trazia, dentro do bolso da jaqueta, o seu boletim escolar cuidadosamente costurado: ele tinha boas notas e esperava que esse documento escolar lhe servisse como um passe para ser bem acolhido na Europa.
Francisco, vendo o desenho, ficou sério e pediu que os seus colaboradores o guardassem, para que pudesse mostrá-lo na coletiva de imprensa no voo de volta que o levará a Roma na segunda-feira.
Na manhã dessa quarta-feira, antes de partir para o Panamá, o papa se encontrou na Casa Santa Marta com um grupo de oito jovens refugiados de diversas nações. Os rapazes foram acolhidos em Roma pelo Centro Padre Arrupe, em que o Centro Astalli, dos jesuítas, oferece hospitalidade a famílias e menores estrangeiros desacompanhadas. Tajiquistão, Egito, El Salvador e Venezuela são os países de origem dos jovens.
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Francisco: muros antimigrantes? ''O medo enlouquece'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU