21 Janeiro 2019
Em uma palavra: uma Comissão, que foi criada para responder e remediar a uma aflição, tornou-se, em vez disso, motivo de aflição.
O comentário é de Andrea Grillo, teólogo italiano, publicado no blog Come se non, 19-01-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na história dos 31 anos de vida (1988-2019), o episódio da Comissão “Ecclesia Dei” tinha assumido, progressivamente, aspectos completamente paradoxais. Nascida para remediar o rompimento com o mundo lefebvriano havia se tornado, progressivamente, um setor da Cúria Romana no qual se construía uma "identidades paralelas" do catolicismo tradicionalista e sob o pretexto de um imaginário "acordo com os lefebvrianos", pretendia-se mover continuamente na direção deles a barra da identidade católica, especialmente com um progressivo esvaziamento da compreensão e eficácia do Concílio Vaticano II. Mas, principalmente, a partir de 2007, com o Motu Proprio "Summorum Pontificum", a Comissão tinha conhecido seu maior sucesso, garantido por ter centralizado em si o "controle universal" sobre o uso do "Rito Romano de forma extraordinária."
Quando, dois anos mais tarde, a Instrução "Universae Ecclesiae" tinha estabelecido em detalhe as margens demasiado amplas de manobra atribuídas à Comissão, era fácil imaginar que tal procedimento iria abrir o caminho para um processo irrefreável de concessões cada vez mais amplas, feitas não pela Igreja de Roma, mas pelos tradicionalistas da Cúria Romana, que tinham obtido uma perigosa e ampla autonomia.
Será útil lembrar apenas um ponto dessa loucura tradicionalista instalada na Cúria Romana. De fato, a "Universae Ecclesiae" definia a entidade como suficiente para determinar um "grupo" com direito a solicitar uma celebração em "rito antigo". E estabelecia no número de "três requerentes", mesmo que pertencentes a diferentes dioceses. Assim, três sujeitos pertencentes a três diferentes dioceses poderiam "abrir", em três dioceses, três grupos "validamente constituídos".
Mas as mentiras, como todo mundo sabe, fazem o nariz espichar e as pernas encurtar. Pois bem, de acordo com o motu proprio que entra hoje em vigor, todas as competências da Ecclesia Dei são transferidas para uma seção da Congregação para a Doutrina da Fé.
Seria lógico que, antes de mais, a Instrução "Universae Ecclesiae", sendo destinada a uma Comissão que já não existe mais, fosse revogada. Para trazer de volta um pouco de bom senso e honestidade em um mundo onde a ficção atingiu, já há muito tempo, níveis alarmantes.
De qualquer maneira, este passo inaugura uma nova fase no relacionamento com os lefebvrianos, mas especialmente na aplicação do Motu Proprio "Summorum Pontificum", que está na raiz desta grande encenação, sobre a qual cai hoje, finalmente, o pano. Mas talvez seja apenas o pano do primeiro ato da comédia.
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A aflição da "Ecclesia Dei" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU