Por: MpvM | 20 Dezembro 2018
"A mensagem da liturgia de hoje desperta em nós uma ousada esperança e um modo criativo de nos fazer presentes nos mais diversos contextos sociais, tão carentes de esperança. Viver em ritmo de visitação é sair do nosso lugar de conforto e ir a lugares desconhecidos, pois o chão da nossa realidade, da nossa existência é carregado dos apelos do Senhor. E Ele vem ao nosso cotidiano por caminhos de acolhida, de perdão, de compaixão, de solidariedade e partilha. Assim, vamos nos preparando para “acolher com muita fé e alegria o Emanuel, Palavra de amor de Deus para a humanidade de todos os tempos” (Papa Bento XVI).
A reflexão é de Aparecida Maria de Vasconcelos, teóloga leiga. Ela possui doutorado em teologia sistemática (2015), mestrado em teologia sistemática (2009) e graduação em teologia (2006) pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE, Belo Horizonte/MG. É professora na FAJE e Editora Adjunta do periódico Perspectiva Teológica (publicação do Programa de Pós-Graduação em Teologia - FAJE. É pesquisadora do Grupo de Estudos em Cristologia e do Grupo Filosofia, Mística e Estética - FAJE. Tem como áreas de interesse: cristologia, antropologia teológica e mística.
Referências bíblicas
1ª Leitura: Miq 5,1-4ª
Salmo 79 (80)
2ª Leitura: Heb 10,5-10
Evangelho: Lc 1,39-47
A liturgia deste quarto domingo do advento nos prepara para entrar daqui a poucos dias, no mistério da natividade do Senhor. As mensagens são carregadas de esperança e anunciam que algo novo está brotando para a humanidade. E esta novidade vem por caminhos inesperados, caminhos totalmente diferentes daqueles que habitualmente a sociedade padroniza. E a experiência de encontros verdadeiros faz emergir o que é divino e humanizador nas pessoas.
O profeta Miqueias (Mq 5,1-4a), possivelmente terá sido um camponês, um homem muito simples, que conhece bem os problemas dos pequenos agricultores, vítimas de injustiças. Num quadro de injustiça e de sofrimento e, portanto, de frustração e de desânimo, ele comunica e anuncia que chegará um governante para Israel que virá da menor de todas as cidades. Não é dos grandes centros da época que sairá o Pastor que apascentará seu rebanho, que cuidará de suas necessidades, mas é da periferia de Belém. Diz o texto que “Ele será a Paz”, o seu governo trará a libertação, a tranquilidade, o bem-estar e promoverá a dignidade do ser humano. A releitura cristã vê nesta profecia de Miqueias uma referência a Jesus, o descendente de David, nascido em Belém.
No Evangelho (Lc 1,39-47) Maria, radiante com a Boa Notícia que já se gestava em seu ventre, e totalmente aberta, livre e integrada com a vontade de Deus para si, corre apressadamente à casa de sua prima Isabel que também se encontrava numa situação inusitada e fora do convencional, grávida na terceira idade. Neste gesto de visitação, podemos dizer que Maria já se apropriava da dinâmica que ia marcar a vida do seu Filho – como diz a Carta aos Hebreus (Hb 10,5-10), apresentando o mistério de Cristo, realizar unicamente a vontade de Deus. Maria carrega em seu ventre Aquele que vem inaugurar e estabelecer o Reino de Deus – e neste gesto de visitação ela mostra o conteúdo deste Reino que vem chegando: que é marcado por gestos de inclusão, de acolhida, de proteção, de misericórdia.
Ali, numa região montanhosa, numa casa de família bem simples, duas mulheres do lar, a partir de uma profunda experiência de Deus, percebem que o que está acontecendo em suas vidas é graça de Deus e por isto festejam as maravilhas do Altíssimo. No abraço se entendem, cada uma percebe a nobreza da outra, mas deviam sentir também dúvidas como toda mulher que está grávida de seu primeiro filho: “Como será a vida dessas crianças?” O verdadeiro encontro é gerador de vida, pois ao descer à realidade do outro em sua fragilidade e riqueza, eu posso ajudá-lo a “dar a luz” a algum ponto de sua vida que está travado, e eu também me humanizo, cresço com a diferença deste irmão/ã. A visitação cristificada ajuda a captar o tesouro que há no outro, o mais humano e o mais divino que se encontra no outro.
O Papa Francisco tem falado muito de uma “Cultura de encontro” e seu pontificado é marcado por gestos surpreendentes de encontro, de visitação: faz visitas surpresas a idosos, a centro de refugiados, faz refeições com mendigos e moradores de rua. Ele propõe a cultura do encontro frente a cultura do preconceito, da indiferença, da intolerância, do medo para com o diferente. Esta é a única cultura capaz de construir um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.
A mensagem da liturgia de hoje desperta em nós uma ousada esperança e um modo criativo de nos fazer presentes nos mais diversos contextos sociais, tão carentes de esperança. Viver em ritmo de visitação é sair do nosso lugar de conforto e ir a lugares desconhecidos, pois o chão da nossa realidade, da nossa existência é carregado dos apelos do Senhor. E Ele vem ao nosso cotidiano por caminhos de acolhida, de perdão, de compaixão, de solidariedade e partilha. Assim, vamos nos preparando para “acolher com muita fé e alegria o Emanuel, Palavra de amor de Deus para a humanidade de todos os tempos” (Papa Bento XVI).
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4º domingo do advento - Ano C - Algo novo está brilhando para a Humanidade: o tempo do Reino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU