26 Setembro 2018
O filósofo francês André Comte-Sponville [autor de Le Sexe ni la Mort. Trois essais sur l’amour et la sexualité (Albin Michel, 2012) e L'inconsolable et autres impromptus (PUF 2018)] distingue várias formas de amor que em grego são expressadas com três palavras: “Eros”, “philia” e “agapè”, em artigo publicado por Le Monde, 24-09-2018. A tradução é de André Langer.
Existem muitos tipos de amor que às vezes gostamos de mesclar e que é importante, ao contrário, distinguir. Existe o sonho da fusão e a experiência da falta. Existe a paixão e a amizade. Existe o amor possessivo e o amor doação. Existe “o grande sofrimento do desejo”, como diz Platão; mas também seu poder e sua alegria, como diz Spinoza. Existe o sexo e o casal. E depois existe a caridade, a mais doce e pura caridade. Mas somos capazes disso?
Tudo isso pode ser dito em grego, em torno de três palavras, que são como os três nomes do amor: Eros, philia, agapè. É isso que é preciso tentar compreender – em francês. Um materialista tenderá a dizer, com Freud: primado do corpo, portanto primado, aqui, da sexualidade. Mas quem poderia se contentar com isso? E quem não vê que aqueles que mais amamos – os nossos filhos – são precisamente aqueles que nos são sexualmente proibidos, inclusive impensáveis?
A sublimação, mostra Freud, não é o sentimento do sublime, mas o vir a ser sublime do sentimento. É para isso que serve o interdito e a transgressão, quando ela é moralmente aceitável (“ela mantém a proibição de desfrutá-la”, escreve Bataille). Primado do sexo, primazia do amor. Disso decorre uma ética, que é também uma arte de amar: o homem é um animal erótico. Os animais, que fazem amor inocentemente, não sabem o que estão perdendo.
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André Comte-Sponville: “O homem é um animal erótico” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU