09 Setembro 2018
Os tesouros da cultura africana oferecem um exemplo para salvar a nossa casa comum.
O Padre Franck Allatin é reitor da Basílica de Nossa Senhora da Paz em Yamoussoukro, no centro da Costa do Marfim. Nesta entrevista ele explica a contribuição da Igreja Africana para o desenvolvimento de uma teologia ecológica diante da encíclica Laudato Si' do Papa Francisco.
A entrevista é de Guy Aimé Eblotié, publicada por La Croix International, 06-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Há uma interferência das campanhas de conscientização organizadas por ecologistas na encíclica Laudo Si’?
Sim, no que diz respeito à descrição da situação e à urgência da ação para proteger nosso planeta, a mensagem de Laudato Si' de fato de desenvolve a partir dos movimentos ecológicos. As referências do Papa na encíclica aos estudos e projetos desses movimentos evidenciam isso.
No entanto, há uma diferença significativa em relação à abordagem da questão da ecologia e nos paradigmas que formam a base da reflexão do Papa Francisco sobre a necessidade de salvar o "nosso lar comum".
Fiel à tradição cristã, a encíclica do Papa analisa a crise ecológica a partir da perspectiva de uma teologia da criação.
Na visão do papa, o mundo não é produto do homem nem simplesmente o resultado do acaso. Pelo contrário, é uma obra do poder criativo de Deus sobre o qual a humanidade age como um ajudante e um colaborador de Deus.
A abordagem do Papa Francisco “transcende as categorias de matemática e biologia” e se baseia numa visão antropológica.
De fato, há uma correlação entre ecologia e antropologia, na medida em que a relação entre o homem e seu meio é influenciada pela percepção de que o homem tem um lugar especial no universo.
Esta encíclica social sobre ecologia não é, portanto, exclusivamente uma declaração a favor de salvar a terra. Na verdade, é uma questão de salvar a humanidade e a terra.
Até que ponto o respeito pela natureza é uma exigência da fé cristã?
A teologia bíblica da criação nos ensina que o primeiro homem, Adão, foi criado a partir da Terra.
Assim, em razão da criação, o homem tem uma relação simbiótica com a Terra, de tal modo que, ao degradar a natureza, ataca indiretamente sua própria natureza.
Com relação a isso, o Papa reafirma que uma existência genuinamente florescente está na encruzilhada de três relacionamentos: com Deus, com o próximo e com a Terra.
Portanto, não é possível viver a fé cristã de alguém omitindo nossas obrigações para com “nossa irmã e mãe da terra”.
Santos como Francisco de Assis nos lembram que quanto mais o coração humano faz um esforço para ouvir a Deus, mais ele se torna sensível à linguagem secreta da natureza.
E, assim, a humanidade não pode mais perceber sua relação com a terra em termos de dominação, mas sim em termos de serviço.
Por isso, em Laudato Si’, o Papa Francisco enfatiza que nossa responsabilidade é “cultivar e resguardar o jardim do mundo”.
Como a Igreja da África pode levar a mensagem do Papa sobre ecologia integral?
A voz da Igreja na África precisa ouvir melhor as plataformas de reflexão sobre o estado do nosso planeta. Infelizmente, as questões ambientais ainda não constituem uma parte significativa de nossos programas pastorais diocesanos na África.
Considerando que nossas culturas tradicionais africanas estavam altamente preocupadas com o respeito pelo equilíbrio entre a humanidade e seu ambiente, paradoxalmente este aspecto de nossa tradição, que também tinha uma dimensão religiosa, não é suficientemente esclarecido na expressão de nossa fé cristã.
Portanto, neste nível, um vasto campo de pesquisa permanece no campo da inculturação e isso pode se tornar uma importante contribuição africana para uma teologia ecológica.
A Igreja Africana também precisa se colocar na vanguarda da batalha.
Isso poderia envolver a escolha de materiais usados na construção de edifícios religiosos pertencentes à Igreja, bem como o uso de fontes de energia ambientalmente respeitosas.
Devo admitir que aqui na Basílica de Nossa Senhora da Paz em Yamoussoukro, ainda não refletimos sobre esta questão.
No entanto, o albergue planejado na Basílica, que atualmente está em fase de projeto, inclui elementos ligados à biodiversidade e ao uso de fontes de energia renováveis.
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Padre ressalta o dever da África em contribuir com a teologia ecológica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU