“Tudo está em relação, tudo é conexo”. A 'Laudato Si'' e a ecologia integral do Papa Francisco

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22 Junho 2015

"A perspectiva focal sobre a qual se rege a encíclica é aquela da “ecologia integral”. De um ponto de vista conceitual, o Papa Francisco assume o termo “ecologia” não no significado genérico e frequentemente superficial de alguma preocupação “verde”, mas no sentido bem mais profundo de entendimento de todos os sistemas complexos, cuja compreensão requer que se ponha em primeiro plano a relação das partes singulares entre si e com o todo", escreve Giacomo Costa, jesuíta, diretor da revista Aggiornamenti Sociali, em artigo publicado por Huffingtonpost, 18/06/2015.

Segundo ele, "a referência é à imagem de ecossistema".

A tradução é de Benno Dischinger.

Eis o artigo.
 

“Tudo está em relação”, “tudo é coligado”, “tudo está conectado”: este é o refrão que atravessa a ‘Laudato si’, a esperada encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum, e é até a verdadeira e própria base sobre a qual o texto é construído.

Como frequentemente acontece, a recepção da encíclica favorece a circulação de trechos específicos  ou a caça de citações “com efeito”, com o risco de reduzi-la a um acúmulo de máximas sobre uma série disparatada de argumentos (clima, água, biodiversidade, OGM, etc.). Deste modo se perde de vista o que confere coerência a um texto que é longo e articulado, mas bem outra coisa do que fragmentário. A perspectiva focal sobre a qual se rege a encíclica é aquela da “ecologia integral”. De um ponto de vista conceitual, o Papa Francisco assume o termo “ecologia” não no significado genérico e frequentemente superficial de alguma preocupação “verde”, mas no sentido bem mais profundo de entendimento de todos os sistemas complexos, cuja compreensão requer que se ponha em primeiro plano a relação das partes singulares entre si e com o todo. A referência é à imagem de ecossistema.

A ecologia integral se torna assim o paradigma capaz de manter unidos fenômenos e problemas ambientais (aquecimento global, poluição, exaustão dos recursos, desflorestamento, etc.) com questões que normalmente não são associadas à agenda ecológica em sentido estrito, como a habitabilidade e a beleza dos espaços urbanos ou a superlotação dos transportes públicos.

Ainda mais, a atenção aos elos e às relações permite utilizar a ecologia integral também para ler a relação com o próprio corpo (n. 155), ou as dinâmicas sociais e institucionais em todos os níveis: “Se tudo está em relação, também o estado de saúde das instituições de uma sociedade comporta consequências para o ambiente e para a qualidade da vida humana [...] Em tal sentido, a ecologia social é necessariamente institucional e atinge progressivamente diversas dimensões que vão do grupo social primário, a família, até a vida internacional, passando pela comunidade local e a Nação” (142).

A potência do paradigma da ecologia integral aparece em sua capacidade de análise e, portanto, de traçar uma raiz comum a fenômenos que, tomados separadamente, não podem realmente ser compreendidos: “Não existem duas crises separadas, uma ambiental e outra social, e sim juma só e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma concepção integral para combater a pobreza, para restituir a dignidade aos excluídos e, ao mesmo tempo, para cuidar da natureza” (n. 139). Com outras palavras, “não podemos deixar de reconhecer que uma real concepção ecológica se torna sempre uma concepção social que deve integra a justiça na discussão sobre o ambiente, para escutar tanto o clamor da terra quanto o clamor dos pobres” (n. 49).

Esta impostação permite integrar e compreender plenamente o alcance também das pequenas ações cotidianas de atenção ao ambiente que o Papa Francisco nos propõe: “evitar o uso de material plástico ou de papel, reduzir o consumo de água, diferenciar os rejeitos, cozinhar somente quanto razoavelmente se poderá comer, tratar com cuidado os outros seres vivos, utilizar o transporte público ou compartilhar um mesmo veículo entre várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes inúteis, e assim por diante” (n. 211). Quando partem de motivações profundas, estes gestos não são “ascéticos deveres verdes”, mas atos de amor que expressam a nossa dignidade.

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