09 Agosto 2018
Johann Baptist Metz pertence àqueles que, nas últimas décadas, introduziram a teologia no discurso intelectual do presente. No dia 5 de agosto, ele festejou o seu 90º aniversário.
A reportagem é de Michael Jacquemain, publicada por Settimana News, 06-08-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sua vida está indissoluvelmente ligada a um trágico acontecimento: aos 16 anos de idade, no fim da guerra, ele retornou à sua terra natal. E encontrou “apenas mortos, todos mortos”, atingidos por um ataque de bombardeiros e de tanques. “De todos aqueles com quem compartilhei, dias antes, as ansiedades das crianças e a alegria dos jovens, não pude ver senão seus rostos apagados na morte. Não me lembro de nada além de um grito silencioso”.
Foi uma experiência decisiva que levou Metz a se fazer perguntas sobre Deus e sobre a justiça para com as vítimas inocentes. Como é possível – pergunta-se Metz – depois da catástrofe humana de Auschwitz, um discurso, uma teologia sobre Deus?
Ele descreve a sua experiência de Deus como “uma experiência de dor de Deus”, como está sintetizada no grito de Jesus na cruz –, “o grito dessa pessoa abandonada por Deus, que, de sua parte, nunca tinha abandonado o seu Deus”.
Não querendo e não podendo esquecer as vítimas da história, dos indefesos, Metz desenvolveu a sua “nova teologia política”. Nova porque Carl Schmitt (1888-1985), na República de Weimar, acreditava que podia justificar teologicamente a pretensão do totalitarismo e do pensamento do líder. Daquilo que Metz queria e devia se distanciar.
Como poucos outros teólogos, Metz buscou o debate intelectual. Fez parte disso o diálogo com o marxismo e os representantes da Escola de Frankfurt sobre os filósofos Theodor W. Adorno, Max Horkheimer e Jürgen Habermas, dos quais foi amigo. Sem Metz, em 2004, em Munique, não se teria chegado à discussão entre Habermas e o então chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger.
Metz, natural do Alto Palatinado, da “arquicatólica pequena cidade” de Auerbach, de 1963 a 1993, lecionou teologia fundamental em Münster e passou aí a noite da sua vida, envolveu-se em uma espiritualidade sensível ao sofrimento: “compaixão” é o conceito-chave que, junto com Mitgefühl (empatia) e Empfindsamkeit (sensibilidade de espírito, ternura) é traduzido de forma inexata. A partir daí, Metz quis introduzir correções.
“A Igreja – defende – tem-se concentrado unilateralmente sobre o pecado e a redenção do culpado, mas o primeiro olhar de Jesus não era dirigido ao pecado do outro, mas ao seu sofrimento.” A pesquisa teológica das verdades fora do tempo nunca interessou a Metz: “Se uma teologia é capaz de responder perfeitamente a todas as interrogações, já está equivocada”. Acima de tudo, ele quer manter vivo o problema de Deus como “memória subversiva”.
Uma mística de “olhos dolorosamente abertos não deve apenas ter em mente o próximo ao lado, mas também os estranhos”. Metz recorda os sofredores do Terceiro Mundo que, na Europa, são “empurrados para uma distância sem rosto”. Ou os muçulmanos, que, depois do 11 de setembro de 2001, devem ser encontrados em uma atitude de diálogo e não com “a preocupação de catalogá-los”.
O conselheiro do sínodo da diocese de Würzbug (1971-1975) pôs o dedo nas feridas da Igreja. Quanto à liberdade religiosa, Metz pede que a verdade histórica não seja ignorada: a liberdade de fé e de consciência, que hoje a Igreja exige para si e para os outros, foi conquistada, contra ela, pela Reforma e pelo iluminismo político.
Apesar de toda a sua reflexão especulativa, Metz é um padre e um pastor de almas. Para ele, a “cultura da sensibilidade de espírito” não é uma atitude científica, mas sim uma realidade da sua vida.
Ele critica “as paróquias territorialmente monstruosas” e propõe “comunidades que narram, abertas a aprender” – e, especialmente, “para além de uma religião burguesa”, como diz o seu livro mais importante.
Metz avalia de forma substancialmente positiva o estilo de liderança e as principais preocupações do papa argentino. Mas ele não seria Metz se se deixasse levar por uma adulação de Francisco. Em vez disso, ele diz: “O discurso sobre os pobres não basta”, mas pode valer universalmente e aplicar-se também aos não crentes se for “ampliado aos sofredores”.
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Os 90 anos de Johann Baptist Metz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU