28 Junho 2018
Désiré Tzarahazana, arcebispo da diocese de Toamasina e Presidente da Conferência Episcopal de Madagascar será nomeado cardeal, junto com outros 13, no consistório desta quinta-feira, 28 de junho. A Fundação pontifícia "Ajuda à Igreja que Sofre" aproveitou a oportunidade para entrevistá-lo sobre a situação da Igreja malgaxe e do seu país que está se preparando para as eleições presidenciais em novembro próximo. De acordo com o bispo, os principais desafios que a Igreja e o país terão que enfrentar são uma evangelização em profundidade, a falta de padres, a invasão do Islã, a grande pobreza do povo, e especialmente a corrupção. Não esquecendo que o Madagáscar é um dos países mais pobres do mundo.
A entrevista é de Amélie de La Hougue, publicada por Settimana News, 26-06-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mons. Tzarahazana, qual é o principal desafio para a Igreja em seu país?
A evangelização em profundidade. Na verdade, eu me questiono: por que estamos em uma situação tão crítica, enquanto há um aumento no número de cristãos (56%, de acordo com o recente Relatório mundial sobre a liberdade religiosa, ndr) e os nossos líderes políticos são em maioria cristãos? Se fôssemos verdadeiramente cristãos, não nos encontraríamos nessa situação. Daí a pergunta: qual é a profundidade da nossa fé? O número está bem, mas não é o essencial. Se alguém professa sua fé e no dia seguinte defrauda seu próximo ou não se importa com os outros, então é uma fé que não é totalmente vivenciada.
Quais são os pontos fortes da Igreja católica?
Estamos prontos para denunciar o que está errado. Temos a coragem de falar e dizer a verdade sem fazer "política". Nós não somos um partido interessado como outras religiões (por exemplo, há pastores que querem ser ministros ou presidentes). Posso testemunhar que a única instituição credível aqui é a Igreja católica. Todos se dirigem a nós porque a Igreja diz a verdade e é digna de confiança.
Vocês já se confrontaram com o avanço do islamismo?
Sim, o crescimento do islamismo é tangível! É visível! É uma invasão. Com o dinheiro dos países do Golfo e do Paquistão, eles compram pessoas: vemos jovens partir para estudar na Arábia Saudita e, quando retornam ao Madagascar, são imãs. Organizamos um encontro com os imãs para compartilhar nossas preocupações e um deles falou. Ele era um ex-seminarista. Obviamente, não se pode dizer que ele tenha sido atraído pelo dinheiro, mas é isso que acontece aqui por causa da pobreza. Existe uma pressão real. Por exemplo, no Norte as mulheres recebem dinheiro para que usem o véu completo, a burka, para mostrar a expansão do Islã no país. E à noite elas colocam de volta suas roupas normais.
Na minha diocese, mesquitas são construídas em todos os lugares, mesmo que os muçulmanos não sejam tão numerosos. Existe um projeto para construir 2.600 mesquitas no Madagascar! Eles também trazem em massa muçulmanos da Turquia, e é um fenômeno que nos preocupa muito: uma ou duas vezes por semana, a companhia aérea Turkish Airlines desembarca grupos muçulmanos que estão se instalando no país. No meio do campo, a gente não sabe o que fazem ali, mas eles se instalam e não saem mais! A população é pobre, mas o país é rico e é enorme para 22 milhões de habitantes, portanto, há espaço para eles.
O senhor realmente vê o perigo de um islamismo radical?
Por enquanto ainda não vemos muito, mas não sabemos para o futuro. Os fundamentalistas começam a se instalar e, à medida que seu número aumenta, perguntamo-nos quando realmente irão mostrar quem são, e isso realmente nos preocupa.
As Ilhas Comores, aqui ao lado, tem uma grande parte da população que vive esse islamismo radical e muitos desembarcam no Madagascar, especialmente em Mahajanga, casam-se com mulheres malgaxes e as crianças nascidas dessas uniões são criadas dentro de um Islã radical.
Como o governo reage a esse fato?
Houve reuniões em várias etapas para alertar os responsáveis pelas instituições e explicar-lhes a situação, mas eles não fazem nada, é tudo hipocrisia. Parece que estamos gritando ao vento. Muitas vezes encontramos líderes, mesmo os de alta patente, para explicar-lhes o que não funciona, como por exemplo, o roubo das terras. O nosso terreno foi roubado por um fora-da-lei conhecido por todos, que não só não foi preso, mas até ganhou a causa perante a justiça. Somos verdadeiramente governados por pessoas corruptas ...
Haverá uma eleição presidencial em novembro próximo?
É tudo um pouco complicado, não sabemos o que vai acontecer e onde terminará, mas rezamos ao Senhor para que tudo corra bem e que o Espírito Santo nos guie para evitar o caos.
No ano passado houve numerosos ataques contra os conventos católicos. Como está a situação hoje?
Esses ataques por um tempo se acalmam e depois são retomados. Infelizmente, esse fenômeno da insegurança continua e é doloroso, tanto nas cidades quanto no campo. As pessoas têm medo de ir trabalhar por insegurança. E por causa da injustiça, as pessoas fazem justiça com as próprias mãos: hoje reina a justiça popular ... Como você vê, há muitos desafios a serem enfrentados para trazer ordem ao nosso país.
Há sacerdotes suficientes para realizar aquela evangelização profunda da qual o senhor falava no início?
Na minha diocese (Toamasina) não tenho padres suficientes, por isso peço a ajuda dos missionários e procuro dar boa formação a todos, começando pelos seminaristas. O número de seminaristas aumenta, mas por causa da extrema pobreza que é generalizada, devemos sempre nos perguntar se são verdadeiras vocações ou se há um desejo de segurança material. Portanto, precisamos discernir com cuidado. Além disso, novamente por causa da pobreza, não há estradas ou meios de comunicação para acessar a população de cada aldeia, é tudo muito difícil.
Nosso desafio é ter uma emissora de rádio que transmita em todos os cantos da diocese para que a palavra da Igreja possa ser ouvida em todas as famílias. E por que não, depois, até mesmo um canal de televisão?
O senhor acredita que o Papa Francisco virá ao Madagascar, como foi proposto em março passado? Que mensagem esperam do Papa?
Eu não posso prometer 100%, mas tenho essa esperança. Ele sabe muito bem que queremos e há uma grande chance que venha nos visitar no ano que vem. Há muitas mensagens que gostaríamos de receber, mas acima de tudo, que ele possa enfatizar a importância de ser justos, de parar a corrupção, e dirigir bem o país - para que todos tentem ser bons cidadãos e bons cristãos.
Gostaria de se dirigir agora para os nossos benfeitores?
A situação em Madagascar é realmente muito crítica e agora estamos entrando em uma nova crise. Portanto, precisamos de sua ajuda. Além disso, agradeço a todos os benfeitores por suas iniciativas e orações. Por favor, orem para que possam acontecer mudanças em harmonia com o Evangelho e rezem por mim também. Mil agradecimentos!
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Madagascar: um cardeal para um país que sofre - Instituto Humanitas Unisinos - IHU