21 Junho 2018
Em um anúncio chocante, o cardeal Theodore McCarrick, que atuou como arcebispo de Newark, Nova Jersey, e de Washington, antes de se aposentar em 2006, anunciou que está deixando o ministério ativo depois que denúncias de abuso sexual foram consideradas “credíveis e fundamentadas”.
A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada em National Catholic Reporter, 20-06-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O secretário de Estado vaticano, cardeal Pietro Parolin, sob a direção do Papa Francisco, instruiu o cardeal McCarrick de que ele não deve mais exercer publicamente o seu ministério sacerdotal”, disse um comunicado do cardeal Timothy Dolan, da Arquidiocese de Nova York, onde a denúncia foi apresentada.
Dolan foi nomeado pelo Vaticano para supervisionar a investigação, de acordo com um comunicado da Arquidiocese de Washington. “A Santa Sé, que tem autoridade exclusiva na supervisão de um cardeal, delegou o cardeal Timothy Dolan, de Nova York, para investigar a denúncia, envolvendo o conselho de revisão da Arquidiocese de Nova York”, disse o comunicado.
“Sei que esse desdobramento doloroso chocará meus muitos amigos, familiares e pessoas que me honraram em servir em meus 60 anos como padre”, disse McCarrick em um comunicado.
O incidente de abuso sexual de um adolescente ocorreu há cerca de 50 anos, quando McCarrick era um padre da Arquidiocese de Nova York, disse o comunicado. Não foi dado nenhum outro detalhe sobre as denúncias.
Três outras denúncias de má conduta sexual com adultos na Arquidiocese de Newark e na Diocese de Metuchen, Nova Jersey, foram reveladas em um comunicado do cardeal Joseph Tobin, de Newark. Duas dessas denúncias resultaram em acordos.
Segundo a declaração de Dolan, a denúncia foi a primeira violação da “Carta para a Proteção de Crianças e Jovens” feita contra McCarrick. Quando McCarrick soube via Dolan da denúncia de Nova York há alguns meses, ele disse ter ficado chocado e defendeu sua inocência.
“Acompanhando cuidadosamente o processo detalhado pela Carta dos bispos estadunidenses, essa denúncia foi repassada aos oficiais da lei e, depois, foi completamente investigada por uma agência forense independente”, disse a declaração de Dolan. “O cardeal McCarrick foi avisado da acusação e, enquanto defendia sua inocência, cooperou plenamente na investigação. A Santa Sé também foi alertada e nos encorajou a continuar o processo.”
De acordo com a declaração, a denúncia foi avaliada como “credível e fundamentada”.
“Em obediência, aceito a decisão da Santa Sé de não exercer mais qualquer ministério público”, disse McCarrick em seu comunicado.
Tobin observou que McCarrick serviu à Arquidiocese de Newark durante 15 anos, de 1986 a 2000. “Sem dúvida, muitos de vocês desenvolveram fortes relações com ele e apreciam o impacto de seu serviço”, escreveu ele em um comunicado.
Mas Tobin insistiu que a Igreja deve “agir com vigilância” sobre a questão do abuso sexual. “Embora o cardeal McCarrick defenda a sua inocência e o processo canônico continua, devemos colocar em primeiro lugar a séria natureza dessa questão com respeito e apoio ao processo, que visa a ouvir as vítimas e a encontrar a verdade”, disse.
Dom James Checchio, bispo de Metuchen – onde McCarrick atuou como o primeiro bispo da diocese, de 1981 a 1986 – pediu desculpas à vítima e encorajou qualquer pessoa que tenha sido abusada pelo clero a denunciá-la à polícia.
“Quero que todas as vítimas saibam que sempre estão nas minhas orações, e peço a todos na diocese que se unam a mim em oração para que o Senhor lhes traga coragem, cura e consolação”, disse ele em um comunicado.
Dolan agradeceu a vítima por ter se apresentado. “Esperamos que isso possa trazer uma sensação de resolução e de justiça”, disse ele em um comunicado.
McCarrick nasceu em Nova York e foi ordenado padre em Nova York em 1968. Antes de ser nomeado bispo auxiliar em 1977, McCarrick atuou na Catholic University of America, na Universidade Católica de Porto Rico, em Ponce, na Paróquia do Santíssimo Sacramento e em vários cargos arquidiocesanos.
McCarrick é o segundo cardeal a ser removido do ministério público em meio a denúncias de abuso sexual de menores. O Catholic News Service informou que o cardeal austríaco Hans Hermann Groer, que morreu em 2003, foi convidado pelo Papa João Paulo II em 1998 a abrir mão de suas funções públicas depois das denúncias.
No comunicado, McCarrick pediu desculpas à vítima.
“Embora eu absolutamente não tenha nenhuma lembrança desse abuso denunciado e acredite na minha inocência, lamento pela dor pela qual a pessoa que fez as acusações passou, assim como pelo escândalo que tais acusações causam ao nosso povo”, disse o comunicado.
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Cardeal aposentado de Washington é excluído do ministério após denúncia de abuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU