21 Abril 2018
Além de sua reputação como o biógrafo de São João Paulo II, George Weigel é conhecido há muito tempo como um dos comentaristas mais incisivos do mundo católico anglófono, muitas vezes apresentando o "catolicismo evangélico" robusto e poderoso que considera o coração da revolução de João Paulo.
Portanto, ao ouvir que Weigel lançou um livro novo, chamado The Fragility of Order: Catholic Reflections on Turbulent Times (A fragilidade da ordem: reflexões católicas em tempos turbulentos, tradução livre), seria natural para alguns esperar que a era do Papa Francisco fosse dissecada.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 15-04-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Livro The Fragility Of Order, de George Weigel.
Na verdade, ao que parece, Weigel não está tão assustado sobre o que alguns de seus companheiros conservadores veem como confusão e desordem desencadeadas pelo intrépido papa argentino.
"Não estamos em 1968, 1978, nem nada", disse Weigel ao Crux durante um almoço em um restaurante conhecido nas redondezas do Vaticano esta semana.
"Havia certa estabilidade no sistema criada por João Paulo II e Bento XVI, e acho que está segurando muito bem".
Mas o livro trata de um panorama muito mais amplo. Na verdade, Weigel faz uma análise da situação global dos últimos 25 anos, desde o fim oficial da União Soviética, em 1991.
"Em 1991, a democracia e os mercados pareciam ter triunfado", disse. "Francis Fukuyama proclamou o fim da história. Era o núcleo do pontificado de João Paulo II, e os Estados Unidos estavam em meio a décadas plácidas".
O que se revelou desde então, acredita Weigel, é que a "ordem", no sentido de pontos estáveis de referência para um sistema global capaz de promover a paz e a prosperidade, é algo extremamente frágil.
O livro é baseado em ensaios escritos por Weigel em um período de 10 a 15 anos, incluindo oito discursos que fizeram parte da série de palestras em homenagem a William E. Simon. O material também conta com dois ensaios escritos por Weigel sobre os controversos sínodos dos bispos sobre a família em 2014 e 2015, que acabaram preparando o terreno para o documento do Papa Francisco, Amoris Laetitia.
Entre outros pontos, Weigel recorda a famosa palestra de 2006 do papa emérito Bento XVI em Regensburg, na Alemanha, que desencadeou uma tempestade de protestos em todo o mundo islâmico, na qual ele citou um imperador bizantino do século XIV que acusou o profeta Maomé de só ter trazido “o mal e o desumano, como sua ordem para disseminar pela espada a fé que ele pregava".
Segundo Weigel, a reação obscureceu duas questões fundamentais colocadas em jogo pelo pontífice alemão ao Islamismo: "dentro de suas próprias fontes religiosas, filosóficas e jurídicas, há uma justificativa islâmica para a tolerância religiosa?" "Existe algum argumento islâmico pelo menos para algum tipo de distinção entre autoridade política e espiritual?"
Até hoje, sugeriu Weigel, as tensões dentro do Islã, agravadas pela ascensão do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, ainda podem ser entendidas em termos desses dois pontos.
"Em muitos aspectos, o Islã tem de passar pelo mesmo que a Igreja Católica no século XX, que foi ratificada no Concílio Vaticano II - ou seja, o desenvolvimento de um argumento católico pela liberdade religiosa", afirmou, apontando sobretudo para as contribuições do teólogo jesuíta estadunidense John Courtney Murray.
O primeiro ensaio do novo livro, intitulado "The Great War Revisited” (A grande guerra revisitada, tradução livre), é o que Weigel chama de "a melhor obra histórica que já fiz". Isso mostra que na verdade ele suspeita que as raízes da fragilidade da ordem vêm de muito antes de 25 anos atrás, pois coloca a Grande Guerra como "o começo do fim da Europa".
"Revelou uma total incapacidade de interromper o massacre em grande escala", afirmou. "Ficou claro que algo está seriamente errado".
Weigel dedica o livro a dois bons amigos e importantes figuras, cada um à sua maneira: Borys Gudziak, bispo da Igreja Greco-Católica Ucraniana, atualmente chefe da Eparquia de São Volodymyr Magno, em Paris, e Robert Barron, bispo auxiliar de Los Angeles, parceiro de TV do autor na cobertura da NBC de grandes eventos católicos.
Como afirma Weigel sobre Gudziak e Barron, "tempos turbulentos exigem companheiros corajosos”.
George Weigel é um conservador político e religioso franco, e essa visão não é compartilhada por todos. Suas alegações e conclusões sobre episódios específicos, seja na Igreja ou no cenário global mais amplo, são abertas a discussão. O que não é subjetivo é que quase sempre se aprende algo lendo Weigel, principalmente quando apresenta seu domínio prodigioso de História.
O livro "é analítico, não prescritivo", declara Weigel. "Para quer saber como arrumar essa bagunça, tem que buscar em outro lugar".
E com isso Weigel continuaria observando Roma - "tentando descobrir o que está acontecendo aqui", diz ele, rindo da futilidade comum de qualquer busca envolvendo o Vaticano - e acabou no jantar anual do reitor na Pontifícia Faculdade Norte-americana naquela noite, onde o principal homenageado foi o Arcebispo Dominicano Augustine Di Noia, que nasceu no Bronx e agora é secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé.
Foi lá que Weigel passou a noite, sentado à mesa, cumprimentando fãs e velhos conhecidos - sem dúvidas, como ele veria, resistindo a épocas turbulentas acompanhado de companheiros corajosos.
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George Weigel resiste a tempos turbulentos com companheiros corajosos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU