04 Fevereiro 2018
A menos que haja mudanças de último minuto, sempre possíveis com a China, a decisão que Francisco tomará em tempos moderadamente breves marca um passo de grande novidade. O papa está disposto a aceitar a legitimidade de sete bispos patrióticos, um gesto inédito em relação a Pequim, que até hoje via suas nomeações episcopais se despedaçarem sem solução contra o muro da Santa Sé, que procedia, ipso facto, com a excomunhão.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 03-02-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas a vontade de apaziguamento está em ação agora do outro lado do Rio Tibre, a um centímetro da reviravolta. O reconhecimento dos bispos poderia, depois, levar Pequim até a aceitar, por sua vez, a autoridade da Igreja Católica na China. E assim – este é um desejo – a conceder mais liberdade aos cerca de 12 milhões de católicos presentes no país e hoje divididos entre a associação governamental liderada pelo Partido Comunista e uma Igreja clandestina que, em meio a milhares de vexações, sempre se declarou fiel à Santa Sé.
É claro, nas últimas horas, nem tudo foi tão simples. Provocaram atrito as declarações do cardeal chinês Joseph Zen Ze-Kiun, bispo emérito de Hong Kong, contra a linha da diplomacia pontifícia, na sua opinião, sem que haja uma comunhão de intenções entre a cúpula da própria Igreja. Para Zen, Roma está “liquidando a Igreja Católica na China”: em essência, a abertura à Igreja patriótica significaria endossar uma experiência cismática em prejuízo à comunidade clandestina, a única legítima, na opinião dele.
Em resposta às palavras de Zen, a Sala de Imprensa vaticana interveio através do porta-voz Greg Burke, que explicou que não há divergências entre o papa e seus colaboradores sobre as questões chinesas: “Causa surpresa e pesar que se afirme o contrário por parte de pessoas da Igreja e se alimentem confusões e polêmicas”. O pronunciamento, tão decidido e tempestivo, mostra esse assunto como é sensível no Vaticano e como, nas salas sagradas, presta-se uma atenção particular ao dossiê a fim de não desperdiçar um resultado que se considera iminente e, ao mesmo tempo, decisivo.
Nem tudo se deve ao pontificado em curso. Embora haja quem sublinhe uma divergência de pontos de vista entre Bergoglio e Joseph Ratzinger, na verdade, foi ainda este último que afirmou claramente, na carta enviada aos católicos chineses em 2007, que a solução dos problemas “não pode ser perseguida através de um permanente conflito com as legítimas autoridades civis”. Para ele, no entanto, a cisão introduzida pelos bispos ilegítimos era real. Mesmo que não buscasse o confronto em relação a eles.
O papa alemão nem sempre foi apoiado por escolhas clarividentes feitas pelos seus colaboradores, tanto que, muitas vezes, com Pequim, as relações estiveram a um passo do impasse, também devido a um pontificado que, pela primeira vez em tempos recentes, não via nem o bispo de Roma nem o secretário de Estado provenientes do serviço diplomático.
Francisco, nesse sentido, colocou as coisas no seu lugar. A chegada do cardeal Pietro Parolin, aluno de Casaroli e membro da escola da Praça Minerva, no lugar de Tarcisio Bertone, reposicionou as relações com Pequim nos canais de abertura.
Francisco, como revela o último livro do padre Antonio Spadaro, Il nuovo mondo di Francesco [O novo mundo de Francisco] (Ed. Marsilio), considera decisivo o trabalho da diplomacia vaticana. Um trabalho abrangente, que levará, no fronte chinês, a um iminente intercâmbio de obras de arte entre os Museus Vaticanos e a Cidade Proibida, confirmando uma contaminação cada vez mais em ação.
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Sim aos bispos escolhidos por Pequim: papa busca virada com a China - Instituto Humanitas Unisinos - IHU