15 Novembro 2017
Depois de Bento XVI, o papa da palavra, Francisco, o bispo de Roma que se confia aos símbolos para levar a sua mensagem ao mundo. Um estilo que é também arte diplomática, como testemunha a decisão sem precedentes tomada pelos Museus Vaticanos de expor, com o placet de Pequim, algumas obras artísticas da Cidade Proibida, o palácio imperial das dinastias Ming e Qing.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 13-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Contextualmente, algumas obras chinesas vão desembarcar nas galerias dos museus, com uma abertura de crédito que confirma a vontade de seguir, acima de tudo através de sinais externos, uma estrada que poderia trazer frutos até hoje inesperados.
Quem percorre em ambos os sentidos a “estrada da seda” são diretamente Francisco e Xi Jinping, o secretário-geral do Partido Comunista Chinês. Nas últimas horas, chegou ao Vaticano um dos seus principais conselheiros, Kung Pengchen, estimado mestre de confucionismo. Com ele, também estava o artista Zhang Yan, que doou ao papa uma obra sua, realizada com pintura a óleo. Kung Pengchen visitou a Capela Sistina, dizendo-se “emocionado com o modo como diversas representações da Bíblia presentes nas pinturas de Michelangelo relembram temáticas presentes no confucionismo. Para o povo chinês – diz – também existe o inferno. Quem nele acaba, desce os 18 andares presentes no seu interior, um pouco como os condenados da Sistina, alguns mais no alto, outros mais embaixo”.
Encontrar pontos de contato com os distantes, usar símbolos para indicar novos caminhos de paz aos líderes do mundo. É a política de Francisco não só em relação à China, mas também com outros lugares.
Em setembro passado, Bergoglio voou para a Colômbia para sancionar a paz entre o governo e as Farc. Lá, durante uma etapa na cidade de Villavicencio, foi mostrado na cerimônia de comemoração um “Cristo mutilado”, essencialmente aquilo que restou de uma estátua presente em uma igreja bombardeada pelos guerrilheiros. Para não esquecer. Para recordar o que não deve mais acontecer.
Quatro meses antes, no Vaticano, chegou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para ele, que na época ameaçava abandonar os acordos sobre o clima de Paris, Bergoglio deu uma cópia da encíclica Laudato si’, o texto dedicado às questões ambientais e sociais. Foi um presente, de algum modo, político, para significar a posição da Santa Sé a esse respeito, o pensamento do bispo de Roma sobre o novo curso de Washington.
Aonde quer que vá, Francisco fala com os símbolos: recentemente, dirigiu-se à sede da Fao em Roma. Lá, deixou um poderoso sinal da tragédia das migrações, uma escultura que retrata o pequeno refugiado sírio Aylan Kurdi, que se afogou na frente da praia de Bodrum, na Turquia, em 2015.
Mas são múltiplos os gestos nesse sentido. Ainda em 2015, foi notícia a decisão tomada pelo papa de abrir a primeira Porta da Misericórdia do Ano Santo na capital da República Centro-Africana, uma terra, disse, “que sofre há diversos anos a guerra e o ódio, a incompreensão, a falta de paz”. Símbolos que falam, portanto, e convidam a refletir, a não esquecer o passado e a mudar o curso dos eventos.
Rumo à China, a estrada passa pelo encontro de consonâncias acima de tudo em nível cultural. Não por acaso, enquanto percorria as galerias dos museus, Kung Pengchen contou sobre uma recente intervenção de Xi Jinping durante uma cúpula do partido.
“Muitas das preocupações expressadas por Xi Jinping também estão presentes em Francisco. Em particular, o tema da busca de novos modelos de desenvolvimento que ponham o ser humano no centro. Xi Jinping falou de uma nova ecologia, de escolhas de vida mais sóbrias e que saibam evitar o desperdício, que saibam se valer das coisas recicladas, temáticas que o papa também percorre. A pergunta que o povo chinês se faz hoje é sobre o futuro: que preço as pessoas terão de pagar pela exploração dos recursos naturais? A China está em busca de respostas. E, portanto, não só em nível artístico, mas também sobre temáticas concretas, podemos encontrar caminhos de trabalho comum.”
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Vaticano: a diplomacia da arte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU