19 Dezembro 2017
Vinte líderes religiosos norte-americanos, numa declaração publicada no dia 15-12-2017, afirmam que "os seres humanos são macho ou fêmea, e que a realidade sócio-cultural de gênero não se separa do sexo masculino ou feminino da pessoa".
A organização New Ways Ministry, por meio do seu líder, Francis DeBernardo, responde à declaração em artigo publicado pelo sítio da organização, 18-12-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Uma declaração negativa a respeito da identidade de gênero de 20 líderes religiosos dos EUA mostra a ignorância continuada sobre a consciência de gênero que existe entre as pessoas que estruturam a política e o ensinamento da Igreja. Quatro bispos católicos que lideram comissões da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos (USCCB) são signatários do seguinte documento, que nega a existência da experiência transgênero e promove um cenário falso sobre como temas relativos a gênero estão sendo ensinados para as crianças.
In "Created Male and Female: An Open Letter from Religious Leaders," (Criados macho e fêmea: uma carta aberta de líderes religiosos), emitida em 15 de dezembro de 2017, vinte líderes religiosos afirmam que "os seres humanos são macho ou fêmea, e que a realidade sócio-cultural de gênero não se separa do sexo masculino ou feminino da pessoa".
Embora a declaração negue a realidade da experiência transgênero, sugere que os grupos religiosos devem responder às minorias de gênero "com paciência e amor." A declaração também afirma que:
"O movimento hoje para impor a falsa ideia — de que um homem pode ser ou tornar-se uma mulher e vice-versa — é profundamente preocupante. Obriga as pessoas a ir contra a razão — isto é, concordar com algo que não é verdade — ou enfrentar o ridículo, a marginalização e outras formas de retaliação."
A declaração perpetua a dupla falsidade de que o gênero é uma escolha e de que as crianças estão sendo incentivadas a pensar em gênero como escolha:
"As crianças são as mais prejudicadas quando alguém diz que elas podem "mudar' de sexo...".
Esta declaração é perigosa porque dissemina informações falsas que podem levar a atitudes, políticas e práticas que causarão dano físico e emocional aos transgêneros, uma comunidade que já sofre alto risco de se tornar vítima de crimes de ódio.
O principal problema da declaração é que alega que o gênero é determinado apenas pela genitália, uma visão que a ciência moderna e as experiências pessoais têm demonstrado ser insuficiente. O gênero também é determinado por outros fatores biológicos, muitas vezes não imediatamente visíveis, como hormônios, genética, composição cerebral e autoentendimento interno.
Ela também pressupõe que as pessoas estão questionando as identidades de gênero porque as normas sócio-culturais de gênero estão mudando. Isso é falso. A história cultural mostra que em toda sociedade sempre houve pessoas que não se ajustavam ao sistema binário masculino-feminino de categorização de gênero. Questões de identidade de gênero não são um fenômeno moderno, levantadas pelo que algumas pessoas veem como uma cultura permissiva. No máximo, as atitudes modernas sobre gênero estão permitindo que pessoas que não se encaixam nos gêneros binários vivam de forma autêntica e sincera como Deus as criou.
A ideia de que gênero é uma escolha também não é verdade. As pessoas descobrem seu gênero enquanto se desenvolvem biológica e sócio-culturalmente. Assim como a orientação sexual de gays, lésbicas ou bissexuais é autodescoberta pelo indivíduo, também o é a identidade de gênero. Forçar alguém a viver sem autenticidade não é saudável nem santo.
Ao ler a declaração, é de se questionar se algum destes líderes já escutou a trajetória de algum transgênero. Se tivessem escutado, pensariam que as pessoas transgênero muitas vezes vivenciam sua transição não apenas como uma etapa psicologicamente positiva, mas que também envolve importantes dimensões espirituais. A transição ajuda as pessoas a se aproximarem de Deus. Isso é algo que os religiosos deveriam apoiar.
O que é interessante sobre esta declaração é que apenas 20 líderes religiosos dos Estados Unidos tenham assinado. Além disso, enquanto os Estados Unidos é um dos países com maior diversidade religiosa no mundo, apenas algumas poucas das várias tradições religiosas apoiaram a declaração: A Igreja Católica Romana, a Anglicana, a Luterana, o Islamismo, a Igreja Ortodoxa, a Igreja de Deus em Cristo, a Presbiteriana, a Batista e os Huteritas. Curiosamente, das denominações protestantes listadas, as organizações dos signatários não representam a maioria dessas igrejas. A falta de signatários indica que a esmagadora maioria dos líderes religiosos não apoiou a mensagem da declaração.
Os quatro bispos que assinaram a declaração foram:
Bispo C. Bambera
Bispo de Scranton, Pennsyvlvania
Presidente da Comissão de assuntos ecumênicos e inter-religiosos da USCCB
Arcebispo Charles J. Chaput, O.F.M. Cap.
Arcebispo de Filadélfia, Pensilvânia
Presidente da Comissão dos Leigos, Matrimônio, da Vida Familiar e da Juventude da USCCB
Arcebispo Joseph E. Kurtz
Arcebispo de Louisville, Kentucky
Presidente da Comissão pela Liberdade Religiosa da USCCB
Bispo James D. Conley
Bispo de Lincoln, Nebraska
Presidente da Subcomissão para a Promoção e Defesa do Matrimônio da USCCB
O New Ways Ministry o incentiva a escrever a esses bispos expressando seus pontos de vista sobre a aceitação de transgêneros. Você pode encontrar as informações de contato, como e-mail, em alguns casos, clicando aqui.
Francis DeBernardo, diretor executivo, New Ways Ministry, 18 de dezembro de 2017.
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Declaração inter-religiosa nega a experiência transgênero. New Ways Ministry responde - Instituto Humanitas Unisinos - IHU