19 Dezembro 2017
A missa dominical está prestes a se tornar o baluarte da diferença entre humanos e robôs? A manifestação, física e metafísica, que ainda há seres humanos na cidade? "Nós, cristãos, frequentamos à missa no domingo para encontrar o Senhor ressuscitado, ou melhor, para sermos encontrados por Ele". Como é maravilhoso ouvir dizer isso de novo, dessa forma. O encontro! Não a dívida, a obrigação, o preceito, o compromisso formal, a contagem dos católicos. Todo o texto da audiência geral de Francisco na última quinta-feira, com linguagem simples e direta, focalizou a Eucaristia e o domingo sobre esse tema: o tempo e o local do encontro com o Senhor, que nos permite continuar a sermos humanos. O Senhor ressuscitado, vivo, o nosso irmão Jesus, que se encontra logo atrás da porta de casa. (E mesmo que você precise dar alguns passos a mais, não reclame: estamos indo ao encontro do Senhor em seu próprio corpo, você percebe isso? O que encantava ternamente as almas perdidas e advertia duramente aqueles que haviam se perdido e não se importavam mais com nada. Ele mesmo).
O comentário é de Pierangelo Sequeri, teólogo italiano, em artigo publicado por Avvenire, 14-12-2017.
O encontro com o Senhor guarnecia o limiar da custódia da humana criatura, favorecendo - direta ou indiretamente – o encontro de todos aqueles que procuram aprender com um tempo e um lugar compartilhados, onde podemos compartilhar o prazer de nos reconhecer como humanos. E familiares ao humano.
"Foi o sentido cristão de viver como filhos e não como escravos, animado pela Eucaristia, que fez do domingo - quase universalmente - o dia do repouso", sintetizou o Papa. O domingo do Senhor é amigo do povo dos resistentes humanos, que vigiam o humanismo dos afetos, defendendo-o das liturgias dos lucros. É o povo daqueles que querem permanecer humanos, sem se render à defesa dolorosa do 'barato de uma droga' (que entorpece a sensação de falta por um instante e te preenche de buracos para o resto da vida). É um povo 'misto', é claro, ninguém é perfeito (Agostinho dizia, sobre a própria Igreja, que era um povo 'permixtum', ou seja, um pouco de bons garotos e um pouco de nem tão bons, e alternadamente). Portanto, nela estão os irmãos e irmãs do Senhor, cuja generosidade prestativa mantém firme a liturgia do encontro. Mas há também os companheiros de caminhos, que só aparecem de vem em quando, como Zaqueu, e aqueles que não ligam, mas que têm a intuição de que sem o domingo dos cristãos também seu tempo livre seria implacavelmente ocupado pelos recrutadores de escravos.
Queremos mesmo abandonar essas pessoas a si mesmas? Ou vamos tentar fazer de tudo para que coincida, na livre comunidade da festa, o encontro com o Senhor e a libertação da escravidão? A última vez que experimentamos, com surpresa e satisfeita euforia, o que pode fazer a limitação das obsessões utilitaristas, para toda a comunidade, foi o período dos domingos 'sem carro', lembram-se? Nós conversávamos, sorríamos uns para os outros, e havia um espírito de família, mesmo entre os desconhecidos, em toda a cidade. Pensem se o domingo do encontro com o Senhor Ressuscitado fosse capaz de irradiar a sensação de renascer - e de ressurgir -como seres humanos (inclusive sem carro!). Em qualquer caso, afirma o Papa, é assim que nasceu a civilização do domingo.
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Descanso dominical - Instituto Humanitas Unisinos - IHU