11 Julho 2008
A Justiça da Itália deu parecer favorável a um pai que solicitou autorização para deixar de alimentar sua filha, que se encontra em estado de coma há mais de 16 anos. A decisão provocou polêmicas em toda a península, assim como a dura condenação do Vaticano, que a qualificou como “eutanásia”. A reportagem é do jornal argentino Clarín, 10-07-2008. A tradução é do Cepat.
“De fato, é aplicar a eutanásia”, declarou à imprensa o monsenhor Rino Fiscihella, presidente da PontifíciaAcademia pela Vida, que considerou que se deve apresentar um recurso numa corte superior, disse à agência AFP.
A Corte de apelações de Milão autorizou o pai de Eluana Englaro a interromper a hidratação e a alimentação forçadas que mantêm em vida a sua filha desde 18 de janeiro de 1992, quando um acidente de trânsito a levou ao estado de coma, do qual nunca mais saiu.
Desde o acidente, Eluana Englaro está internada num hospital de Lecco, em coma considerado irreversível pelos médicos. Desde 1999 seu pai pede que o tratamento seja suspenso.
“Diante da decisão dos magistrados sinto ao mesmo tempo tristeza, amargura e estupor”, disse o prelado, que recusou abertamente que um juiz substitua o legislador, porque na Itália a legislação não contempla a eutanásia, assegurou.
Para a Rádio Vaticana, emissora da Santa Sé, trata-se de uma sentença grave já que nenhum tribunal havia aceitado até agora a solicitação do pai.
“Desconhece-se o princípio da inviolabilidade da vida e o dever de toda a sociedade civil de assistir os cidadãos mais frágeis”, afirmou à emissora.
O caso de Eluana Englaro lembra o da norte-americana Terry Schiavo, cuja morte em 2005, depois de viver 15 anos em estado vegetativo, provocou uma polêmica mundial sobre a eutanásia.
“Agora vamos libertá-la”, declarou o pai da jovem italiana, Beppino Englaro, que prefere falar de liberdade em vez de morte cerebral ou eutanásia. O pai de Eluana protagonizou uma longa batalha legal para pedir que se desconectassem os aparelhos que mantinham viva a sua filha.
Foi uma decisão inevitável, explicaram os juízes milaneses, cuja sentença poderia repercutir no nível político. O caso foi seguido com atenção pelos meios de comunicação e mobilizou tanto as associações católicas de defesa da vida como aquelas a favor da morte suave.
“A sentença cobre com sabedoria um vazio legislativo”, declarou por sua vez a senadora do PartidoDemocrático (de esquerda) Vittoria Franco.
Numerosas propostas legislativas para a introdução do chamado testamento biológico, que assegure uma morte digna mesmo quando a pessoa se encontra inconsciente, foram apresentadas ao Parlamento italiano, sem que tenham sido aprovadas devido, sobretudo, à firme oposição dos católicos de todos os partidos.
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Justiça italiana autoriza desligamento de aparelhos de mulher em coma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU