14 Novembro 2008
“Não matar!”, exclama o cardeal Javier Lozano Barragan, ministro da Saúde do Vaticano. “Não se pode causar uma morte terrível pela fome e pela sede”, reforça o purpurado, traçando a linha sobre a qual a hierarquia da Igreja está posicionando depois da sentença do Suprema Corte italiana, que autoriza a suspensão da alimentação e da hidratação artificial que mantêm Eluana Englaro viva (a jovem tem 37 anos e está em coma irreversível desde 1992). Do Vaticano, surge uma condenação sem apelo.
A reportagem e a entrevista é de Marco Politi, publicada no jornal italiano La Repubblica, 14-11-2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Cardeal Barragan, o senhor definiu, outro dia, como uma “monstruosidade desumana” a interrupção da alimentação e da hidratação artificial assistidas a Eluana. Agora há uma decisão final: pode-se desligar os aparelhos.
Nós propomos, não impomos, que se seguisse a lei natural, que se encontra expressa no quinto mandamento: não matar. Salvo o caso da obstinação terapêutica [ou distanásia, prolongamento artificial da vida de um paciente], não é absolutamente lícito desligar os aparelhos.
O senhor não considera justo poder interromper os tratamentos que mantém um corpo apenas artificialmente vivo?
Uma coisa é parar a administração de terapias e de remédios, mas aqui o problema é outro. Interromper a alimentação e a hidratação significa fazer o paciente morrer de fome e de sede. Não se pode causar a morte de um inocente provocando-lhe sofrimentos posteriores.
Estamos falando de alimentação artificial, o que muitos médicos e cientistas consideram uma forma de terapia.
Foi reafirmado com autoridade também por um recente documento da Congregação para a Doutrina da Fé: não se trata, de nenhuma maneira, de terapia.
Sem exceções?
A única exceção é quando o paciente se encontra em um estado terminal e já está morrendo. Nesse caso, dar-lhe alimento e água seria inútil.
Também no caso de Eluana?
A interrupção – falo de modo geral – leva à multiplicação dos sofrimentos do paciente, condenando-o a uma morte terrível por fome e sede.
O senhor não acha que, sobre esses temas, desenvolveu-se uma outra visão, uma outra cultura, na sociedade contemporânea?
Sempre considerei a cultura como algo que humaniza a natureza. Aqui, ao contrário, estamos diante de uma desumanização.
Eminência, estamos diante de um estado vegetativo irreversível.
Vegetativo é um termo que serve para as plantas. Não para uma pessoa humana. E depois, o que sabemos? Parece que ela não entende e não sente, mas quem pode dizer o que acontece “dentro” dela? É sempre uma vida humana. Não joguemos com as palavras, se é consciente ou não consciente. Sei que existem pareceres segundo os quais é plenamente uma pessoa humana apenas quem estabelece relações e é capaz de se alegrar e de se comunicar e que, pelo contrário, os que são deficientes em um certo estado ou em um estado vegetativo não seriam pessoas humanas. Mas isso é ética? Só uma planta pode ser cortada. Um ser humano não.
Qual é a posição da Igreja com relação ao que está acontecendo?
O respeito absoluto à dignidade das pessoas humanas, que, para nós católicos, são também filhas de Deus.
Com relação ao Vaticano, existem, porém, posições diversas no mundo católico. “A sentença do Supremo que liberta Eluana – afirmam as Comunidades de base – é uma intervenção de grande valor ético, porque respeita a sua vontade”. O movimento “Noi siamo Chiesa” anuncia: “Não compartilhamos das mobilizações a favor da vida que foram feitas e que se farão, contestando as sentenças da magistratura. Que se volte a refletir pacatamente”.
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"Vão cortar a água e a comida. Eluana está condenada a um fim monstruoso", afirma cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU