21 Novembro 2017
“A evolução do papa é a de superar a gramática do cuidado feita de consensos, protocolos, linhas, e de colocar a atenção na relação médico-paciente.”
Adriano Pessina é professor de filosofia moral e diretor do Centro de Bioética da Universidade Católica de Milão.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada no jornal La Stampa, 17-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Professor, as palavras do papa marcam um passo à frente na questão do fim da vida?
Parece-me que o papa remete à semântica do cuidado, levando em consideração o duplo aspecto da competência clínica do médico e a tese da proporcionalidade dos tratamentos. Um lembrete importante, considerando-se que, muitas vezes, a medicina é o triunfo da impessoalidade. No sentido de que é a medicina do órgão, nem sempre atenta à pessoa e à sua vivência. A evolução do papa é a de superar a gramática do cuidado feita de consensos, protocolos, linhas, e de colocar a atenção na relação médico-paciente.
Mas, então, não há uma reviravolta?
Quem diz isso nunca leu os documentos da Igreja: Francisco consolida uma abordagem já conhecida. Por outro lado, acredito que se quer instrumentalizar as palavras do papa para puxar água para o próprio moinho. O que eu vejo de novo é uma grande carga humana. Mas, acima de tudo, o papa relança a questão do acesso aos tratamentos. Em uma época de opulência tecnológica, o ponto parece ser apenas se é necessário suspendê-los, quando, em diversas partes do mundo, não se consegue sequer oferecê-los.
É clara a distinção de Bergoglio com a prática da eutanásia definida como “sempre ilícita”...
É ilícita porque a morte é um fato e não constitui um direito, e o acompanhamento ao moribundo é um dever social. Um Estado não pode administrar a morte a um cidadão seu, nem permitir que isso seja feito. É um caminho que não devemos abrir, nem mesmo em um contexto liberal.
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''A atenção deve estar no paciente.'' Entrevista com Adriano Pessina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU