22 Agosto 2017
De acordo com a revista The Economist, o Papa Francisco gostaria de investir mais em um tipo de beneficência que também produza lucro, mas é uma ideia que não agrada a todos.
A reportagem foi publicada por Il Post, 20-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na semana passada, a Economist contou como está mudando o modo como a Igreja Católica tenta fazer beneficência. A Igreja é uma organização que controla uma enorme riqueza, dividida entre os investimentos feitos para fazer dinheiro e aqueles que servem para fazer caridade.
De acordo com o semanário, alguns membros da Igreja, incluindo o próprio Papa Francisco, gostariam de eliminar pelo menos em parte essa barreira. Para fazer isso, gostariam de apontar muito mais em uma coisa chamada de “investimentos de impacto social”.
Trata-se daquilo que, em inglês, se chamado de “impact investing”, que significa investir dinheiro para produzir um efeito positivo na sociedade ou no ambiente, obtendo, ao mesmo tempo, um ganho.
A ideia, em outras palavras, é fazer investimentos em empresas ou projetos que, além de fins econômicos, também busquem fins éticos. Por exemplo, investir no microcrédito nos países em desenvolvimento, ou seja, emprestar dinheiro para aqueles que podem oferecer pouca ou nenhuma garantia para permitir o início de pequenas atividades, que, no futuro, poderia garantir a subsistência de uma família.
Foi o Papa Francisco, segundo a Economist, que levou esse tipo de práticas financeiras à atenção da Igreja Católica. Em 2014, durante uma conferência no Vaticano dedicada especificamente aos investimentos de impacto social, ele falou da importância de redescobrir a unidade entre “lucro e solidariedade”.
Diversas instituições que fazem parte da Igreja Católica logo responderam a esse pedido. Os jesuítas, a mesma ordem do papa, por exemplo, designaram alguns dos seus fundos para a utilização nos investimentos de impacto social.
O mesmo fez o Oblate International Pastoral Investment Trust, que recebe fundos de mais de 200 organizações católicas situadas em 50 países diferentes. E também o Catholic Impact Investing Collaborative, um fundo que reúne 30 instituições católicas estadunidenses com um portfólio de 50 bilhões de dólares (dos quais apenas uma parte, por enquanto, está dedicada aos investimentos de impacto social).
Para encorajar também os fiéis individuais a participar, escreve o semanário, as grandes organizações católicas criaram fundos menores, dos quais as pessoas físicas podem adquirir uma cota por poucas dezenas de dólares.
O deslocamento para esse tipo de finanças, porém, recém-começou. Somando todos os fundos ligados a organizações católicas que lidam com essas atividades, vem à tona um número total de cerca de um bilhão de dólares. Se a Igreja quisesse, no entanto, escreve a Economist, ela poderia mudar para sempre todo o setor, graças aos imensos volumes de fundos que poderia gastar em investimentos desse tipo.
Mas continuar nesse caminho seria uma mudança secular para a Igreja. Significaria passar “de um modelo ‘sequencial’, em que a Igreja primeiro coleta a riqueza e depois a dá em beneficência, a um ‘paralelo’”. Ou seja, no qual captar dinheiro e fazer beneficência tornam-se duas atividades quase simultâneas.
Isso, segundo o semanário, preocupa mais do que uma pessoa nos círculos da Igreja Católica. Por exemplo, muitos defendem que é moralmente difícil aceitar a ideia de ganhar dinheiro fazendo beneficência. Uma preocupação maior parece ser a daqueles que temem que os investimentos de impacto social esgotarão os outros tipos de beneficência realizados pela Igreja Católica, eliminando, assim, a relação entre quem ajuda e quem recebe a ajuda, que hoje é tão importante para muitos católicos. Uma Igreja sem missões e sem hospitais, que se ocupa apenas de fazer investimentos éticos, se tornaria indistinguível das tantas fundações beneficentes seculares que já existem no mundo.
Também por isso, a escolha de promover mais os investimentos de impacto social é realizada principalmente por alguns grupos dentro da Igreja com uma visão particularmente moderna do papel da Igreja na sociedade, como o Catholic Relief Services, uma agência humanitária que tem sede nos Estados Unidos, ou por órgãos do governo vaticano, como o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, criado em agosto do ano passado.
Nenhum desses órgãos, por enquanto, parece ter o objetivo de realizar uma reforma completa do sistema com o qual a Igreja faz beneficência: “O investimento de impacto social é visto como uma estratégia promissora – escreve o semanário –, mas uma estratégia, por enquanto, apenas complementar”.
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Alguém na Igreja Católica quer mudar o modo de fazer beneficência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU