01 Agosto 2017
“As mulheres migrantes são a ponte entre as diversas culturas e são elas que pensam no futuro dos seus filhos. Elas respiram um ar de liberdade que antes, em muitos casos, não tinham, e isso favorece nelas o desencadeamento de processos de liberdade.”
A opinião é da estatística italiana Linda Laura Sabbadini, ex-diretora do Instituto Nacional de Estatística da Itália, em artigo publicado por La Stampa, 31-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mulheres migrantes invisíveis, mas os fluxos migratórios femininos são notáveis em todas as partes do mundo. Quando se fala de migração, continua-se pensando em homens, que são alcançados em um segundo momento pelas suas esposas. Mas não há imagem mais velha e estereotipada.
Dizia Virginia Woolf: “Eu, como mulher, não tenho pátria. Como mulher, não quero uma pátria. Como mulher, a minha pátria é o mundo inteiro”. Mas se reconhece pouco o papel desempenhado pelas mulheres nas migrações como atrizes sociais de primeiro plano, como cidadãs do mundo. No entanto, elas o desempenharam desde os anos 1970.
Na época, tratava-se de mulheres do Sudeste Asiático rumo ao Oriente Médio e Extremo; de mulheres do Leste Europeu rumo à Europa Ocidental; de mulheres da América Central e do Sul rumo aos Estados Unidos; de mulheres africanas rumo à Europa, basta pensar na chegada das eritreias e etíopes à Itália.
Segundo a ONU, o número de pessoas que vivem em um lugar diferente do local de nascimento é igual a 243 milhões em todo o mundo, mas vocês sabem quantas são mulheres? Quarenta e oito por cento. Uma presença paritária.
Na Itália, superamos os cinco milhões de pessoas que não têm cidadania italiana e residem na Itália, e as mulheres já são mais de 52% do total. As mulheres são a maioria entre romenos, ucranianos, moldavos e poloneses, mais ou menos a metade dos albaneses, dos chineses, 45% dos marroquinos.
Chegam cada vez mais mulheres sozinhas, que querem encontrar trabalho e chamar a família que ficou na pátria, mulheres de famílias despedaçadas, famílias transnacionais como as filipinas, as ucranianas ou as latino-americanas, mulheres mais fortes do que se possa imaginar, que chamam a família assim que encontram um trabalho adequado.
Os modelos migratórios são os mais diversos. Mulheres “pioneiras” para a sua família, como as filipinas, as ucranianas, muitas vezes as peruanas, mulheres requerentes de asilo e refugiadas, especialmente em crescimento por causa da instabilidade de regiões como o Oriente Médio e a África, que chegam às vezes com os seus bebês, arriscando violência sexual, tráfico e morte; mulheres que migram com os seus maridos, como as chinesas, e mulheres que vão ao encontro dos seus maridos da África do Norte ou do Paquistão.
Essas mulheres, emigrando, fazem uma experiência que redefine o seu papel de mulheres em toda a sociedade, seja na de partida, seja na de chegada. Essas mulheres não são atrasadas, submissas e retrógradas como a narrativa estereotipada nos apresenta. Pense nisso, só se fala de véu. Mas as mulheres muçulmanas na Itália são apenas 20% do total das mulheres não italianas. Cerca de 64% das mulheres são cristãs. As muçulmanas são basicamente albanesas e marroquinas. No entanto, parece que o véu vai nos enterrar.
As mulheres migrantes trabalham na Itália quase na metade dos casos. A taxa de emprego no primeiro trimestre de 2017 é de 49,3%, 1,062 milhão empregadas, 228 mil desempregadas.
A maioria das trabalhadoras são diplomadas ou graduadas. Certas comunidades trabalham mais do que outras; menos as marroquinas e as albanesas, também por motivos culturais, mais as filipinas, as romenas, as chinesas, as ucranianas, que apresentam as taxas de emprego feminino mais altas.
As mulheres sofreram menos a crise que os homens, por causa do valioso trabalho realizado especialmente nos serviços às famílias para idosos e deficientes. As mulheres migrantes são sujeitos fundamentais da integração social dos migrantes.
São elas que mantêm unidos mundos diferentes. Costuram de novo, tecem, como as outras mulheres, e principalmente projetam. Não subestimemos. São elas que mediam e também estão mais dispostas a se integrar.
São elas a ponte entre as diversas culturas e são elas que pensam no futuro dos seus filhos. Elas respiram um ar de liberdade que antes, em muitos casos, não tinham, e isso favorece nelas o desencadeamento de processos de liberdade. Pensem nas mais jovens, que cada vez mais se rebelam contra vetos incompreensíveis.
Quanto mais conseguirmos dialogar com elas no respeito mútuo, mais aceleraremos os processos de integração, enriquecendo a nossa sociedade com a beleza das diversidades.
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O papel decisivo das mulheres nas migrações. Artigo de Linda Laura Sabbadini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU