30 Junho 2017
Prossegue a crise na Secretaria de Economia do Vaticano após a repentina renúncia, há pouco mais de uma semana, do auditor geral das contas da Santa Sé, Libero Milone. Há rumores na imprensa de todo o mundo que afirmam que Milone não estava à altura da profunda reforma que as finanças da Igreja estavam exigindo, assim como também não estaria à altura quem o escolheu para o posto, o cardeal George Pell.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 29-06-2017. A tradução é de André Langer.
Embora o Vaticano não quisesse entrar em detalhes sobre o porquê da saída de Milone, ganha força a tese de que teria havido na cúria uma insatisfação relacionada com as mudanças que Pell e Milone fizeram desde 2014, no caso do australiano, e desde 2015, no caso do italiano. Nem na forma nem no conteúdo. Teria se esgotado a paciência com os dois por uma simples razão: nem um nem outro estiveram suficientemente comprometidos com a causa da transparência nas contas do Vaticano que Francisco vem reclamando incansavelmente desde que foi elevado à cátedra de Pedro em 2013.
É verdade que, em parte, a renovação impulsionada por Pell e Milone colheu vários frutos. O Instituto para as Obras de Religião (IOR), por exemplo – o conhecido “banco vaticano” – conseguiu dobrar os seus lucros em 2016 (36 milhões de dólares), em grande parte graças a medidas de economia de gasto introduzidas pelo cardeal australiano.
Mas também é verdade que pelo menos duas coisas ainda são motivo de preocupação nos corredores da cúria sobre as finanças da Santa Sé. Problemas não precisamente menores que nem Pell nem Milone conseguiram resolver.
Uma, que as medidas de combate à lavagem de dinheiro e anti-financiamento do terrorismo anunciadas pelo Vaticano não parecem ter calado tão fundo quanto deveriam na Secretaria para a Economia. E, a outra, das 751 operações identificadas como suspeitas pela independente Autoridade de Informação Financeira (AIF) da Santa Sé desde 2015, apenas duas foram processadas pelo Promotor de Justiça, o “promotor” do Vaticano.
Esta continuada falta de transparência nas contas do Vaticano – combinada com a relutância de processar os responsáveis pelas transações obscuras identificadas pela AIF – preocupa, sobretudo, com vistas à nova auditoria do Moneyval a qual a Santa Sé terá que se submeter no final deste ano. Por isso, fontes em Roma indicam que, no caso de Milone, o Papa Francisco não pôde esperar mais para que houvesse a prometida regeneração total da cultura financeira do Vaticano. Tanto que, de fato, o pontífice poderia ter pedido a Milone diretamente que renunciasse.
“O Papa corajosamente reconheceu que nomeou o homem errado, embora tivesse sido Pell quem escolheu Milone”, apontam fontes citadas pelo jornal Corriere della Sera. “Francisco decidiu assumir a responsabilidade também em relação àqueles que trabalharam mal em seu nome”. Por isso, parece ser apenas uma questão de tempo até que a próxima cabeça a rolar na Secretaria para a Economia seja a de Pell, o máximo responsável desta fracassada tentativa de reformar as finanças do Vaticano. As acusações de abuso já provocaram sua licença, que poderá ser definitiva.
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Foi o Papa que pediu a renúncia do auditor das contas do Vaticano? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU