22 Junho 2017
O ex-ministro Tarso Genro afirma que a candidatura do ex-presidente Lula deve ser amparado por "um leque de forças que vá do centro progressista à esquerda social-democrata e socialista".
Crítico ao comando do PT, ele participou no domingo de uma reunião com integrantes do PSOL e de movimentos de esquerda para construir uma frente e um programa de esquerda.
A entrevista é de Catia Seabra, publicada por Folha de S. Paulo, 22-06-2017.
Eis a entrevista.
Qual razão o levou a participar de uma reunião ampla, já que não tem comparecido às reuniões do PT?
Tenho participado de foros da esquerda para debater uma nova frente e um programa de transição de uma economia liberal-rentista, que nos sufoca, para uma desenvolvimentista nacional-popular, que privilegie a distribuição de renda e o emprego. Esta reunião era para ser reservada. Por isso, não vou falar sobre ela.
Por que o sr não tem ido às reuniões do PT?
Cristalizou-se uma maioria na nossa direção cuja agenda é meramente defensiva em relação ao que nos aconteceu com o impedimento de Dilma. Não estou falando que é preciso fazer uma autocrítica como penitência, mas que seria necessário examinarmos em profundidade as escolhas econômicas e políticas que fizemos e nos tornaram reféns de uma confederação de investigados e denunciados, que eram nossos aliados, e aderiram, sem pudor, a um programa liberal-rentista.
É uma resposta à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que disse que o partido não deveria se açoitar?
Não estou respondendo a Gleisi. Acho que ela até foi uma boa solução, renovadora dentro da atual hegemonia. Mas, se não abrir o debate à esquerda, a própria candidatura de Lula será prejudicada.
A presença do sr. na reunião pode ser vista como uma disposição de deixar o PT?
Não tenho nenhuma decisão sobre deixar o PT.
Quando diz que ainda não tomou decisão, é porque não descarta a hipótese?
Partido não é religião, nem sociedade secreta organizada com cruzamento de sangue. Atualmente, não vejo um instrumento melhor do que o PT, com suas grandezas e misérias, para atuar politicamente com realismo e esperança.
O sr. informou a Lula sobre a reunião de domingo?
Minha relação com Lula se baseia no fato de que reconheço nele a melhor liderança do PT e do país. Mas não temos qualquer dever de subordinação pessoal na nossa militância. Considero Lula um líder e não um chefe.
Leia mais
- Uma proposta de reflexão para o PT. Artigo de Tarso Genro
- “Lula só não se candidatará em 2018 se estiver preso ou morto”. Entrevista com Frei Betto
- Cenários para 2018: Lula, Doria e 'sangramento' de Temer
- 2018. A esperança de Lula
- Quem vota em Lula
- O processo de renovação da esquerda é atravancado pela 'renovada' hegemonia do PT. Entrevista especial com Pablo Ortellado
- O pulverizado tabuleiro político da sucessão presidencial em 2018
- O desafio das esquerdas
- 'Ciclo que levou PT ao governo está esgotado', diz Tarso Genro
- 'O PT chegou ao fim de um ciclo'. Entrevista com Tarso Genro
- Os pactos e a rendição do PT
- Quando a esquerda é o problema. Artigo de Raúl Zibechi
- A esquerda perdeu o rumo e se atolou no deserto da imaginação política
- Em seu microcosmo, a esquerda fala para si mesma, sem uma real conexão com a sociedade. Entrevista especial com Salvador Andrés Schavelzon
- "A esquerda está viciada em seu próprio conforto"
- A esquerda despedaçada
- A esquerda brasileira está perdendo os novos pobres
- O que é a Terceira Esquerda e quais são seus desafios
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
'Considero Lula um líder, não um chefe', diz Tarso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU